Femitaxi, o aplicativo que combate o assédio contra mulheres
Com a proposta de oferecer segurança às clientes, o aplicativo oferece um serviço de transporte operado por mulheres e para mulheres
EFE
Publicado em 3 de março de 2017 às 13h37.
São Paulo - No mesmo tempo em que esse texto for lido, sete mulheres terão sofrido algum tipo de violência física no Brasil, um flagelo que o aplicativo Femitaxi quer diminuir com um serviço de transporte operado por mulheres e exclusivo para o público feminino.
O Femitaxi virou realidade em dezembro de 2016 e nasceu a partir dos comentários de "várias amigas que apontaram que alguns taxistas tinham um comportamento inadequado, não muito profissional", relata à Agência Efe seu fundador, Charles-Henry Calfat.
Olhares constantes pelo espelho e inclusive insistência para pedir o número do telefone ao término de corridas foram alguns dos fatores que desencadearam a criação do aplicativo, que por enquanto só funciona nas cidades brasileiras de São Paulo e Belo Horizonte.
"Havia muita história de assédio em transporte público", conta Calfat.
Foi a partir desse problema que decidiu iniciar o Femitaxi, no qual "taxistas mulheres se conectam pelo aplicativo com clientes".
Rafaela Vanin, de 24 anos, é estudante de administração de empresas e usa o aplicativo três vezes por semana.
"Realmente nos sentimos muito mais seguras andando com uma mulher e muito mais confortáveis", expressa à Agência Efe durante o trajeto de um dos serviços pelo centro de São Paulo.
Esta jovem lembra que passou por algumas más experiências e que estas fizeram com que tivesse "medo" na hora de pegar um táxi, até o ponto que praticamente "evitava".
"Às vezes te olham com desejo ou não conversam e então a gente se sente um pouco mais tensa ainda", acrescenta.
Em nível geral, um relatório publicado em 2016 pela organização internacional ActionAid afirmou que 86% das mulheres brasileiras experimentaram algum tipo de assédio em lugares públicos.
"O Brasil é machista", diz à Efe com contundência a taxista Priscila Galante, uma das 250 conectadas no Femitaxi, que assegura que o serviço não só dá segurança para a cliente, mas também para as motoristas.
"Existe uma questão que o aplicativo é de mulher para mulher. Então pensamos nessa sonoridade. Nos apoiamos entre nós enquanto o machismo reina", acrescenta.
Desde seu ponto de vista, segregar o homem da mulher na vida diária "não é o ideal", mas ao mesmo tempo pensa que temporariamente é a solução até que as mulheres "consigam o mesmo espaço com os mesmos direitos" que eles.
"Mostramos para esse taxista que vive no patriarcado que não é assim, que tem que ter certos limites", aponta Priscila.
Por outro lado, apesar de nos últimos anos ter aumentado o número de mulheres taxistas, estas ainda são obrigadas a escutar comentários indesejados por parte de seus colegas masculinos.
"Meus companheiros pensam que meu marido deveria ganhar o suficiente para eu ficar em casa, não para ser taxista. É uma das coisas que escuto muito: 'Se eu fosse seu marido, não te deixaria trabalhar'", afirma ao volante.
No entanto, Calfat não se mostra muito otimista e acredita que o Femitaxi não vai "acabar com os problemas de assédio no transporte público" do Brasil, mas pelo menos dá a opção de a mulher "escolher uma taxista do mesmo sexo".
Segundo uma pesquisa de mercado realizada por sua equipe antes do lançamento da ferramenta, 56% das mulheres preferem taxistas do mesmo sexo.
Até o momento, cerca de 10 mil mulheres baixaram o aplicativo, que ao longo deste ano está previsto que comece a funcionar em cidades como Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre, sem descartar no futuro a expansão internacional.
No Brasil, a cada dois minutos cinco mulheres sofrem violência física, segundo dados oficiais da Secretária Especial de Políticas para as Mulheres, que afirmou que entre 1980 e 2013 foram cometidos no país 106.093 feminicídios.