Falta orientação para crianças e adolescentes na internet
Crianças e adolescentes de 6 a 14 anos passam a maior parte do tempo em sites de entretenimento, bate-papo ou nas redes sociais
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.
Brasília - O número de usuários da internet no Brasil, incluindo computadores públicos em cybercafes e escolas, é superior a 73 milhões, conforme levantamento feito no último mês de maio pela comScore,Inc (Nasdaq:Scor), que mede os acessos à rede. Crianças e adolescentes de 6 a 14 anos representam 12% desse total e passam a maior parte do tempo em sites de entretenimento, bate-papo ou nas redes sociais, como o Orkut e Facebook - um comportamento virtual que preocupa os pais, principalmente em relação aos crescentes casos de pedofilia.
A equipe do Radiojornalismo da EBC - vencedora do V Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística na Categoria Especial: O Desafio do Enfrentamento à Violência Sexual Facilitada pelas Novas Tecnologias de Comunicação e Informação - viajou para Florianópolis, Rio Janeiro, São Paulo e Belém e produziu uma série de matérias que a Agência Brasil publica neste domingo (22). As matérias de rádio podem ser acessadas por meio da Radioagência Nacional.
Foram ouvidos especialistas, educadores, membros da sociedade civil organizada, vítimas de abusadores e pedófilos, além de autoridades policiais, que abordaram temas como sexting (envio de fotos sensuais, de corpos nus ou seminus, e de mensagens eróticas), cybercrimes, legislação, orçamento e o perfil de atuação dos aliciadores e abusadores.
Desenvolvida durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a hegemonia política, econômica e militar, hoje a internet é protagonista de uma outra guerra - contra a pedofilia, o abuso sexual e a pornografia. Segundo o diretor juridico da organização não governamental (ONG) SaferNet Brasil, Thiago Tavares, ao mesmo tempo em que amplifica o acesso a conteúdos ilegais, a internet também oferece os meios para descobrir e mapear as redes criminosas.
"A internet é a grande aliada para a investigação e descoberta das redes criminosas que veiculam pornografia infantil e desses agressores sexuais que se utilizam da rede para aliciar crianças", disse Tavares.
Como os pais e educadores lidam com essa nova realidade virtual dos filhos? O uso da internet requer cuidados para garantir a proteção de crianças e adolescentes. O conselho básico que se recebia antigamente para não conversar com estranhos, não vale para o mundo virtual. O estranho está dentro dos lares, na lan house da esquina, na escola e até mesmo em uma simples ligação telefônica.
Com 11 anos, Laís Vieira diz que utiliza a internet para "entrar no Orkut e no Twitter", hábito seguido por José Henrique Paranhos, que tem a mesma idade e também usa a rede "para ler e-mails e fazer pesquisas escolares".
A mãe de Lais, Andréa Vieira, afirma que esse controle é dificil, porque os jovens passam muito tempo diante do computador. Ela diz que está sempre atenta sobre quem está na lista da filha nos sites de relacionamento, como o Orkut. "Se eu vejo que tem algum adulto desconhecido, mando deletar. Não quero nem saber quem é . Explico sempre o quanto é importante não conversar com gente desconhecida."
O Orkut e os chats lideram a lista dos endereços mais perigosos da rede, de acordo com a SaferNet . A ONG possui uma Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos em parceria com o Ministério Público Federal. A maioria delas são relacionadas ao Google.
A CPI da Pedofilia aprovou em 2008 a quebra de sigilo de mais de 3 mil álbuns de fotos publicados no Google. A empresa teve que repassar dados que ajudaram a identificar os responsáveis pelas páginas, por causa da suspeita de conteúdo com pornografia infantil. O Brasil foi pioneiro na quebra desse tipo de sigilo.
De acordo com Thiago Tavares, da SaferNet, não existe nenhuma política pública em vigor no país com foco no combate aos crimes cibernéticos. "Eu estive recentemente no Congresso Nacional a convite da Comissão Parlamentar de Inquérito das Crianças Desaparecidas. Os deputados se comprometeram a colocar essa discussão no âmbito da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Resta saber se vão cumprir essa promessa ou não", conclui.
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