Borboleta
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2014 às 07h12.
A migração anual das borboletas-monarca, do Canadá ao México, um evento espetacular que corre o risco de desaparecer, seria resultado da atuação de um único gene, com milhões de anos de antiguidade, garantiram biólogos em estudo publicado nesta quarta-feira.
Estudiosos dos segredos genéticos - há muito guardados - sobre estes insetos modificaram o que nós sabíamos sobre a história, a migração e o brilho característico desta borboleta de asas alaranjadas e pretas, segundo artigo na revista científica Nature.
"Antes do nosso trabalho, alguns pensavam que a migração das monarcas fosse um fenômeno muito recente, mas nós demonstramos que ele evoluiu milhões de anos atrás", explicou à AFP o co-autor do estudo, Marcus Kronforst, a respeito das descobertas que, segundo ele, "subvertem o pensamento sobre as borboletas monarcas".
"Eu acredito que isto aumenta nossa preocupação, quando consideramos que podemos estar testemunhando o fim de um fenômeno biologicamente maravilhoso que estes pequenos insetos têm realizado todos os anos pelos últimos dois milhões de anos", continuou.
Tem havido um declínio agudo no número de monarcas, que anualmente migram do Canadá ao México, durante o inverno, antes que suas descendentes, ao longo das gerações, fizessem o caminho de volta para o norte durante o verão.
Segundo os autores do estudo, em 1996, cerca de um bilhão destes insetos, conhecidos dos cientistas como "Danaus plexippus", concluiu a exaustiva viagem do norte para o sul, mas apenas 35 milhões o fizeram no ano passado.
Esta queda foi atribuída ao desmatamento, à seca e a uma redução acentuada de indivíduos, atribuída ao uso de herbicidas nas plantas asclépias, das quais eles se alimentam e onde depositam seus ovos.
"Costumava-se ver grandes números, nuvens de monarcas, passando", lembrou Kronforst. "Agora, parece possível que num futuro não muito distante, esta migração anual não aconteça mais".
Ao mesmo tempo, muitos grupos que costumavam migrar estão se tornando populações estacionárias.
101 genomas
Kronforst e uma equipe internacional de cientistas decodificaram 101 genomas de borboletas ao redor do mundo, inclusive variações não migratórias e a tigre-branco ("Danaus melanippus").
Uma vez que a maioria dos membros da família das monarcas fora da América do Norte é de borboletas tropicais e não migratórias, acreditava-se que o ancestral comum tivesse estas mesmas características e adquirido a habilidade de migrar muito depois.
Segundo esta teoria, as monarcas cruzaram os oceanos Pacífico e Atlântico nos anos 1800.
No entanto, o mapeamento de sua árvore genealógica demonstrou que os insetos se originaram de um ancestral migratório na América do Norte, cerca de dois milhões de anos atrás.
A partir de então, elas se mudaram para as Américas Central e do Sul há 20 mil anos e, provavelmente, já cruzavam o Atlântico e o Pacífico de 2.000 a 3.000 anos atrás, disse Kronforst.
Hoje, elas são encontradas em locais tão diversos como Europa, África e Austrália.
Para sua surpresa, os cientistas descobriram que a habilidade migratória, um complexo comportamento animal, se relacionou com um único gene relacionado com a formação e na função do músculo da asa.
Provavelmente, ele é responsável pelo consumo de oxigênio mais eficiente em voos de longa distância e no metabolismo de voo.
"As borboletas que deixaram a América do Norte perderam a migração", acrescentou Kronforst, e o gene migratório "mudou".
"Acredito que nossos resultados tenham implicações em auxiliar a preservar a migração das monarcas simplesmente acentuando a significância biológica do fenômeno", afirmou o cientista.
A equipe também revelou que um único gene diferente seria responsável pelo colorido característico das monarcas.