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Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo – O CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações)está pronto para dissecar a tecnologia 4G LTE. A empresa montou um laboratório em Campinas (SP) para testar diversos tipos de equipamentos e descobrir quais são as melhores configurações para a tecnologia que está sendo instalada no Brasil.
Sebastião Sahão Júnior, diretor de Laboratórios e Infraestrutura de redes do CPqD, é um dos engenheiros à frente do projeto, feito em parceria com o governo. Ele explica que o time de técnicos e engenheiros que vai trabalhar no local será capaz de simular todas as condições de operação do 4G, o que inclui a interoperabilidade entre produtos de fornecedores diferentes, de acordo com os padrões brasileiros e internacionais.
O laboratório também deverá adaptar a tecnologia 4G LTE para a realidade climática do Brasil. “Não temos o clima europeu e nem o norte-americano. Por isso, precisamos encontrar a melhor configuração da rede 4G para as peculiaridades do Brasil. Assim, os usuários não terão os problemas que enfrentaram com a rede 3G”.
Qual a missão do laboratório do 4G?
Sahão - O CPqD, há algum tempo, mede a qualidade dos equipamentos que formam a infraestrutura de telecomunicações do país, como antenas, roteadores, cabos e até celulares. Temos um time, formado por engenheiros e técnicos, altamente qualificado para a missão. Contudo, o CPqD não conseguia testar e medir corretamente como os dados e a voz se comportam na rede de telecomunicações em situações de interferência magnética ou mesmo sobrecarga. Com o laboratório novo, o CPqD conseguirá simular esses e outros tipos de problemas e, principalmente, criar um estudo compatível com a realidade geográfica brasileira. As operadoras, hoje, usam dados de outros países, como Estados Unidos e Inglaterra, para configurar suas redes. Esses dados não levam em conta a topografia brasileira, que é cheia de relevos; não considera nosso clima diversificado; a salinidade do ar na nossa costa marítima e nem o tipo de poluição peculiar do Brasil.
Como vocês simularão os problemas e medirão a qualidade da rede 4G?
Sahão - O time técnico do CPqD tem diversos estudos sobre as tecnologias da área de telecomunicações e TI. Quero dizer com isso que temos muito conhecimento técnico e acadêmico. A gente também comprou e criou muito processo e tecnologia para simular os problemas de redes. Com a experiência, o laboratório consegue mapear, por exemplo, onde as interferências eletromagnéticas poderão colocar o 4G em risco. Os engenheiros contam ainda com uma tecnologia que avalia como os pacotes de dados circulam pela rede 4G. Ela será essencial para saber se os equipamentos da rede, que são de diversas marcas, são 100% compatíveis e se funcionam bem com o legado das tecnologias das redes 2G e 3G.
Quando os primeiros resultados do laboratório estarão prontos?
Sahão - Por enquanto, o laboratório está na primeira fase, que é a estruturação dos processos de testes. Os resultados dos primeiros testes de equipamentos da tecnologia 4G devem sair em meados de 2014. Os dados serão públicos, ou seja, a sociedade e as operadoras terão acesso a eles.
Os dados serão úteis para quem?
Sahão - Os relatórios serão técnicos, repletos de dados e procedimentos técnicos sobre equipamentos de redes e terminais, como celulares e smartphones. As teles, portanto, poderão usar as informações para configurar da melhor forma possível seus equipamentos de rede. Assim, elas podem oferecer a melhor qualidade de sinal ou mesmo evitar problemas. A sociedade e a Anatel podem usar o relatório para exigir um bom serviço 4G das operadoras.
Por que esses estudos não foram feitos com o 3G, já que a tecnologia é alvo de duras críticas?
Sahão - A gente não tinha a tecnologia para isso ainda e nem existiu a demanda. O 3G tem problemas no Brasil, mas funciona. O grande problema da tecnologia é uma combinação de fatores, como a falta de antenas em várias cidades, o uso da rede como banda larga residencial e a falta de uma configuração adaptada para o cenário brasileiro. O laboratório 4G, de certa forma, visa antecipar esses problemas e fazer do 4G uma tecnologia mais eficaz.
Já ouvimos essa história de “eficaz” antes. Como garantir que ela não vá se repetir com o 4G?
Sahão - 4G é uma tecnologia diferente, própria para transportar dados. Ela tem uma engenharia melhor que a do 3G, mas para ser perfeita precisa de mais antenas – a sociedade, as operadoras e o governo precisam agir rápido para solucionar essa questão. Como há um interesse grande em torno da tecnologia e descontentamento em relação ao 3G, eu acredito que o 4G será bem melhor.