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Dispositivos identificam explosivos em bombas caseiras

Tecnologia poderá ajudar policiais e cientistas forenses a identificar rapidamente explosivos empregados em ataques terroristas

Bomba caseira: equipamentos usados atualmente nos aeroportos conseguem identificar apenas os chamados “altos explosivos”, muito poderosos e de uso bastante restrito (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 10 de julho de 2013 às 10h05.

São Paulo – Dois dispositivos desenvolvidos na Universidade da Tasmânia, na Austrália, poderão ajudar policiais e cientistas forenses a identificar rapidamente explosivos usados em bombas de fabricação caseira – usados em ataques terroristas.

Um deles, batizado de Scantex, faz a análise dos materiais em apenas 60 segundos. Pequeno o suficiente para caber em uma maleta, foi idealizado para uso em aeroportos, eventos esportivos, shows, correios e outras situações em que há um grande número de pessoas ou objetos a serem testados e a identificação precisa ser feita antes que a explosão ocorra.

Já o CEScan – um pouco maior, mas ainda portátil – faz o trabalho em até 20 minutos. A proposta, no caso, é usar o equipamento para descobrir os ingredientes usados em bombas improvisadas após a explosão, no local do crime, informação que pode levar a polícia até os autores do ataque.

A tecnologia de separação de moléculas e análise química foi um dos destaques da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) em Química Bio-orgânica, evento realizado em Araraquara entre 30 de junho e 5 de julho com apoio da FAPESP.

“A análise feita após a explosão é muito mais complexa. Além dos ingredientes da bomba, as amostras trazem vestígios de uma série de outros materiais presentes no ambiente. Então o equipamento precisa ser capaz de separar diversos tipos de compostos e leva mais tempo”, explicou Paul Haddad, diretor do Australian Centre for Research on Separation Science (Across), da Universidade da Tasmânia, e coordenador das pesquisas.

Já a análise pré-explosão avalia um número menor de substâncias e precisa ser rápida – para não deixar pessoas esperando nas filas dos aeroportos, por exemplo. O processo é todo automatizado e possui interface amigável o suficiente para ser manuseada por pessoas sem experiência.

Segundo Haddad, os equipamentos usados atualmente nos aeroportos conseguem identificar apenas os chamados “altos explosivos”, como nitroglicerina, trinitrotolueno (TNT) ou Semtex – muito poderosos e de uso bastante restrito.

“Conseguir esse tipo de substância é muito difícil, você não pode entrar em uma loja e comprar. Por isso, os terroristas costumam recorrer a explosivos improvisados, feitos com materiais como fertilizantes, pesticidas, óleo e açúcar”, contou Haddad.


Entre as substâncias mais empregadas estão sais inorgânicos como o nitrato de amônio e o clorato de potássio, ambos usados em práticas agrícolas. Esse tipo de bomba foi usada no atentado coordenado pela Al Qaeda em março de 2004, que destruiu parte da rede ferroviária de Madri, na Espanha, matou 191 pessoas e feriu 1,8 mil.

Na cidade de Oklahoma, Estados Unidos, uma bomba improvisada de aproximadamente 1 tonelada foi usada em um ataque que matou 168 pessoas – 19 delas crianças – em 1995. Outros exemplos são o atentado ocorrido em 2002 em Bali, na Indonésia, que matou 202 pessoas, e o recente caso da Maratona de Boston, Estados Unidos, que matou três pessoas e feriu outras 144.

“Como esse tipo de explosivo é menos potente, a bomba precisa ser grande para fazer estrago. Costumam colocá-la em mochilas, vans ou até mesmo em um caminhão estacionado na frente do prédio-alvo. Quanto antes a polícia conseguir identificar a substância usada, mais rapidamente poderá rastrear quem comprou quantidades suspeitas daquele material e chegar aos autores do atentado”, explicou Haddad.

No caso da explosão ocorrida em Bali, contou Haddad, a polícia levou cerca de quatro semanas para identificar os explosivos pelos métodos tradicionais.

Como funciona

Tanto o Scantex como o CEScan usam um método de separação de moléculas conhecido como eletroforese capilar. No caso da análise pré-explosão, a amostra é obtida esfregando um pedaço de algodão nas mãos ou na bagagem da pessoa a ser testada. Já na análise pós-explosão, o mesmo procedimento é feito no local do atentado.

As amostras são colocadas em uma solução e o líquido vai para um pequeno tubo de vidro com um buraco no centro de aproximadamente 75 mícrons de diâmetro – o equivalente à espessura de quatro fios de cabelo. Dentro do tubo há uma solução eletrolítica. Uma corrente elétrica de aproximadamente 30 mil volts é disparada e passa pelo capilar arrastando consigo todas as moléculas carregadas.

“Procuramos íons como cloreto, sulfato, perclorato e nitrato. Se você tem uma carga negativa, todos vão se mover para o polo positivo, mas em velocidades diferentes. Vão chegar ao outro lado em tempos diferentes e isso permite identificar o que tem naquela solução”, explicou Haddad.

Tal princípio de análise química tem aplicações que vão além do contraterrorismo. Segundo Haddad, pode ser útil no rastreamento de drogas ou no controle de qualidade de alimentos, ajudando a identificar pesticidas.

Também é interessante para qualquer tipo de indústria que necessite de métodos de análise química, como a farmacêutica. “Em vez de você tirar uma amostra e mandar analisar em um laboratório, pode levar o equipamento até o local de produção e ter o resultado muito mais rapidamente”, disse.

A pesquisa de US$ 3,5 milhões foi financiada graças a uma parceria entre os governos australiano e norte-americano. Até o momento, foram construídos apenas protótipos, que estão sendo testados pela polícia da Austrália.

“Estamos negociando com empresas interessadas em construir e vender os equipamentos. Apenas o hardware dos dispositivos foi patenteado. As informações necessárias para aplicar o método, como os materiais e a voltagem, estão publicadas e podem ser reproduzidas em qualquer parte do mundo. Não estamos tentando ganhar dinheiro e sim resolver o problema”, afirmou Haddad.

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Um deles, batizado de Scantex, faz a análise dos materiais em apenas 60 segundos. Pequeno o suficiente para caber em uma maleta, foi idealizado para uso em aeroportos, eventos esportivos, shows, correios e outras situações em que há um grande número de pessoas ou objetos a serem testados e a identificação precisa ser feita antes que a explosão ocorra.

Já o CEScan – um pouco maior, mas ainda portátil – faz o trabalho em até 20 minutos. A proposta, no caso, é usar o equipamento para descobrir os ingredientes usados em bombas improvisadas após a explosão, no local do crime, informação que pode levar a polícia até os autores do ataque.

A tecnologia de separação de moléculas e análise química foi um dos destaques da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) em Química Bio-orgânica, evento realizado em Araraquara entre 30 de junho e 5 de julho com apoio da FAPESP.

“A análise feita após a explosão é muito mais complexa. Além dos ingredientes da bomba, as amostras trazem vestígios de uma série de outros materiais presentes no ambiente. Então o equipamento precisa ser capaz de separar diversos tipos de compostos e leva mais tempo”, explicou Paul Haddad, diretor do Australian Centre for Research on Separation Science (Across), da Universidade da Tasmânia, e coordenador das pesquisas.

Já a análise pré-explosão avalia um número menor de substâncias e precisa ser rápida – para não deixar pessoas esperando nas filas dos aeroportos, por exemplo. O processo é todo automatizado e possui interface amigável o suficiente para ser manuseada por pessoas sem experiência.

Segundo Haddad, os equipamentos usados atualmente nos aeroportos conseguem identificar apenas os chamados “altos explosivos”, como nitroglicerina, trinitrotolueno (TNT) ou Semtex – muito poderosos e de uso bastante restrito.

“Conseguir esse tipo de substância é muito difícil, você não pode entrar em uma loja e comprar. Por isso, os terroristas costumam recorrer a explosivos improvisados, feitos com materiais como fertilizantes, pesticidas, óleo e açúcar”, contou Haddad.


Entre as substâncias mais empregadas estão sais inorgânicos como o nitrato de amônio e o clorato de potássio, ambos usados em práticas agrícolas. Esse tipo de bomba foi usada no atentado coordenado pela Al Qaeda em março de 2004, que destruiu parte da rede ferroviária de Madri, na Espanha, matou 191 pessoas e feriu 1,8 mil.

Na cidade de Oklahoma, Estados Unidos, uma bomba improvisada de aproximadamente 1 tonelada foi usada em um ataque que matou 168 pessoas – 19 delas crianças – em 1995. Outros exemplos são o atentado ocorrido em 2002 em Bali, na Indonésia, que matou 202 pessoas, e o recente caso da Maratona de Boston, Estados Unidos, que matou três pessoas e feriu outras 144.

“Como esse tipo de explosivo é menos potente, a bomba precisa ser grande para fazer estrago. Costumam colocá-la em mochilas, vans ou até mesmo em um caminhão estacionado na frente do prédio-alvo. Quanto antes a polícia conseguir identificar a substância usada, mais rapidamente poderá rastrear quem comprou quantidades suspeitas daquele material e chegar aos autores do atentado”, explicou Haddad.

No caso da explosão ocorrida em Bali, contou Haddad, a polícia levou cerca de quatro semanas para identificar os explosivos pelos métodos tradicionais.

Como funciona

Tanto o Scantex como o CEScan usam um método de separação de moléculas conhecido como eletroforese capilar. No caso da análise pré-explosão, a amostra é obtida esfregando um pedaço de algodão nas mãos ou na bagagem da pessoa a ser testada. Já na análise pós-explosão, o mesmo procedimento é feito no local do atentado.

As amostras são colocadas em uma solução e o líquido vai para um pequeno tubo de vidro com um buraco no centro de aproximadamente 75 mícrons de diâmetro – o equivalente à espessura de quatro fios de cabelo. Dentro do tubo há uma solução eletrolítica. Uma corrente elétrica de aproximadamente 30 mil volts é disparada e passa pelo capilar arrastando consigo todas as moléculas carregadas.

“Procuramos íons como cloreto, sulfato, perclorato e nitrato. Se você tem uma carga negativa, todos vão se mover para o polo positivo, mas em velocidades diferentes. Vão chegar ao outro lado em tempos diferentes e isso permite identificar o que tem naquela solução”, explicou Haddad.

Tal princípio de análise química tem aplicações que vão além do contraterrorismo. Segundo Haddad, pode ser útil no rastreamento de drogas ou no controle de qualidade de alimentos, ajudando a identificar pesticidas.

Também é interessante para qualquer tipo de indústria que necessite de métodos de análise química, como a farmacêutica. “Em vez de você tirar uma amostra e mandar analisar em um laboratório, pode levar o equipamento até o local de produção e ter o resultado muito mais rapidamente”, disse.

A pesquisa de US$ 3,5 milhões foi financiada graças a uma parceria entre os governos australiano e norte-americano. Até o momento, foram construídos apenas protótipos, que estão sendo testados pela polícia da Austrália.

“Estamos negociando com empresas interessadas em construir e vender os equipamentos. Apenas o hardware dos dispositivos foi patenteado. As informações necessárias para aplicar o método, como os materiais e a voltagem, estão publicadas e podem ser reproduzidas em qualquer parte do mundo. Não estamos tentando ganhar dinheiro e sim resolver o problema”, afirmou Haddad.

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