Obama e Zuckerberg: uso de dados pessoais de usuários do Facebook e de outras redes sociais para seduzir eleitores não é novidade (Justin Sullivan/Getty Images)
AFP
Publicado em 24 de março de 2018 às 14h12.
Última atualização em 24 de março de 2018 às 14h13.
O uso de dados pessoais de usuários do Facebook e de outras redes sociais para seduzir eleitores não é novidade. Barack Obama fez uso disso em 2008 e mais ainda em 2012, quando buscava sua reeleição.
A indignação sobre o uso de dados de 50 milhões de usuários do Facebook gerou uma intensa polêmica sobre o manejo desta informação particular por políticos e especialistas em Marketing e Psicologia.
A empresa britânica Cambridge Analytica, que trabalhou com Donald Trump e está no meio de uma tormenta, assegura que não é a única a usar dados coletados das redes sociais para chegar aos eleitores.
O professor da Universidade de Rutgers em Nova Jersey e autor de um estudo sobre o tema, Chirag Shah, explica que, em 2008, os dados coletados permitiram ao jovem senador Obama analisar os Estados Unidos e elaborar seu programa.
Quatro anos depois, recorda Victoria Farrar-Myers, professora de Ciência Política da Universidade Metodista Meridional, no Texas, a equipe de campanha do presidente democrata usou os dados para convencer os que haviam votado em 2008, mas não estavam certos de fazê-lo novamente, especialmente os mais jovens.
O método usado se chama "micro-targeting", ou "micro-marketing", e, na realidade, data dos anos 1970, muito antes da Internet. Ele permite identificar por meio de informações pessoais "um tema que os motive" e "leve (os eleitores) às urnas", explica.
Não se trata tanto de fazer o eleitor mudar de opinião, mas de estimulá-lo a ir votar, já que a mobilização de cada grupo é muitas vezes determinante.
A campanha de Trump também recorreu à "micro-targeting" (ou "microssegmentação") em 2016, principalmente graças aos dados coletados pela Cambridge Analytica.
Farrar-Myers lembra que, com a aproximação da eleição presidencial americana, a campanha de Trump multiplicou os atos políticos em cidades aparentemente alheias, identificadas como potencialmente "conquistáveis", graças às redes sociais. E, ao final, muitas se inclinaram pelo grupo republicano.
Segundo documentos publicados pela Comissão Federal Eleitoral, o novo conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, designado na quinta-feira (21), também recorreu à Cambridge Analytica no âmbito de seu fundo de apoio a vários candidatos republicanos no Congresso.
- 'Não roubamos dados' -
Antigos funcionários da campanha de Obama negaram de forma taxativa qualquer comparação com o escândalo da Cambridge Analytica, no qual um pesquisador acadêmico é acusado de obter dados sem consentimento, ao usar um questionário do Facebook sobre a personalidade dos usuários e transferi-lo para a empresa de maneira inapropriada.
"Como se atrevem!"; "Não roubamos dados das páginas particulares do Facebook de eleitores sob falsos pretextos", diferentemente do que a Cambridge Analytica fez, afirmou pelo Twitter Michael Simon, responsável de análise de dados da campanha de Obama em 2008.
Em um editorial publicado pelo site Medium, Rayid Ghani, um cientista de referência para a campanha de Obama em 2012, disse ter pedido aos partidários do candidato sua autorização antes de usar os dados de seu perfil no Facebook.
Suas equipes então sugeriram a esses simpatizantes que pedissem a alguns de seus "amigos" identificados pela campanha para votar no dia das eleições.
Os "amigos" não foram alertados dessa estratégia, porém, e seus dados foram usados sem autorização.
Em um artigo publicado em 2013 pela "New York Times Magazine", em 2012, um membro da equipe de Ghani explicou que o uso do Facebook havia permitido reforçar a lista de eleitores a serem contactados, e que, no fim, isso significou 15 milhões de eleitores a mais.
Embora os métodos da Cambridge Analytica para obter informações estejam em disputa, efetivamente nem as campanhas de Obama nem a campanha de Trump infringiram a lei sobre proteção de dados de caráter privado, ou mesmo as regras internas do Facebook, que foram atualizadas em 2015.
"Para mim, não é uma questão da vida privada, à medida que uma pessoa que usa as redes sociais opta por compartilhar suas informações pessoais", considerou a professora Farrar-Myers, simpatizante democrata.
Chirag Shah vai ainda mais longe: "Quando você posta algo no Facebook, uma foto, uma mensagem, isso pertence ao Facebook (...) Enquanto isso não mudar, vamos continuar ultrapassando os limites da privacidade".