EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h38.
Criado por dois veteranos da Guerra do Iraque, que queriam otimizar o pouco tempo que soldados têm para falar com a família, o site de transmissão de vídeos ao vivo Ustream já foi usado até para transmitir o nascimento de bebês. Há um ano no ar, o Ustream tem cerca de 230 mil emissores e cresce 200% ao mês em número de usuários. Em um mês, são produzidas quase 2 milhões de horas de programação, "mais conteúdo do que se produz numa emissora de TV local", diz John Ham, um dos fundadores do site. Ham falou a EXAME sobre a história do Ustream e como vê o futuro da internet.
Exame - Como surgiu a idéia de criar um site para a transmissão de vídeos ao vivo e de forma gratuita?
Ham - Eu e Brad Hunstable, outro co-fundador, servimos por cinco anos no exército americano, chegando a ser transferidos para a Coréia e, depois, para o Iraque. Nessa época, só tínhamos quinze minutos por mês para ligar para casa e tínhamos de escolher entre falar com nossos pais, nossos irmãos ou nossos amigos. Não era uma situação boa. Os serviços de mensagem instantânea eram bons para se falar com algumas pessoas, mas não havia uma boa plataforma de transmissão que fosse de uma pessoa para várias. Foi aí que decidimos criar essa plataforma. Em junho de 2006, depois que saímos do exército, fundamos o Ustream. O site permite que uma pessoa seja o centro das atenções e que várias pessoas entrem na plataforma para interagir com aquela pessoa. Pode ser uma, duas, dez, cem ou dez mil pessoas. Isso cria uma experiência única de interação na internet.
Exame - Quem já está usando o Ustream para aproveitar essa interação com tantos interlocutores?
Ham - Os pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos Hillary Clinton, Barack Obama e John McCain usaram o Ustream para transmitir comícios. John Edwards [o pré-candidato democrata que abandonou a corrida no início do ano] usava o Ustream depois dos debates para responder perguntas dos eleitores. Na área de entretenimento, também temos celebridades usando para interagir com seus fãs. Um exemplo é Tori Amos. O vídeo dela do Ustream está inserido nas suas páginas no MySpace e no Facebook e os fãs podem bater papo com ela ao vivo. Um fã comentou uma vez que finalmente tinha conseguido saber por que Tori Amos tinha mudado a letra de uma música. Esse é o poder de Ustream. Essa interação é o futuro da internet.
Exame - O que permitiu a emergência de sites como o Ustream, do ponto de vista tecnológico?
Ham - São três fatores principais: hardware, conectividade e comportamento. Do lado do hardware, quase todo laptop ou telefone celular já vem com uma câmera embutida. Do lado da conectividade foram as conexões sem fio e de banda larga que permitiram esse avanço. Parte da transmissão de vídeo ao vivo na internet só pode ocorrer quando se tem uma conexão rápida. E o terceiro fator é o comportamento do usuário, estimulado pelo YouTube. O YouTube tornou essa geração entusiasta da criação de conteúdo e também interessada em assistir o conteúdo criado.
Exame - Quem é o consumidor comum do Ustream, além dos políticos e dos músicos?
Ham - Temos uma base ampla de usuários. Há usuários individuais que utilizam o site para transmitir seu casamento a convidados que não puderam ir à cerimônia e até pessoas que colocam no ar o nascimento do filho. E também há empresas usando o serviço, como a Sun Microsystems, a Intel e a Mazda, que transmitiu o lançamento de um carro.
Exame - Se todos os serviços são gratuitos, como é possível fazer dinheiro?
Ham - Provavelmente por algum tipo de publicidade.
Exame - O Ustream já tem receita com publicidade?
Ham - Não. Por enquanto, somos financiados de forma privada. Já conseguimos levantar 2,2 milhões de dólares em investimento. Ainda estamos em nossa fase de crescimento. O mais importante para a nossa companhia agora é crescer com os recursos que temos até conseguirmos ter uma participação grande no mercado. No futuro, vamos monetizar o site. Isso deverá ser feito em forma de anúncios no site ou nos vídeos.
Exame - Que tipos de publicidade podem ser feitas?
Ham - Há várias coisas que podemos fazer pelo fato de estarmos ao vivo, como menções a produtos ou ainda a introdução de um ponto de venda embaixo de um vídeo. Você pode imaginar o dia em que a Tori Amos vai estar cantando ao vivo e as pessoas vão poder comprar o MP3 dela ali, enquanto ela canta?
Exame - Quando o Ustream será aberto para anúncios?
Ham - Ainda não há uma data exata. Vamos ter de monitorar e ver quando será o momento apropriado.
Exame - Seria possível haver algum tipo de cobrança dos usuários?
Ham - Sim. Estamos pensando na possibilidade de cobrar por alguns recursos. Os usuários que quiserem pagar para ter ferramentas melhores, como transmissão em alta definição, coisas que o público em geral não quer.
Exame - É necessário fazer parcerias com redes sociais para crescer?
Ham - Já fizemos uma parceria com o Twitter. A pessoa que transmite vídeos no Ustream pode usar o sistema de alerta instantâneo do Twitter para enviar mensagens de texto ou e-mails aos seus espectadores e avisá-los quando entra no ar. Este é um ponto importante. Ser um portal de vídeo ao vivo significa que é necessário ser capaz de ter alertas instantâneos. Também fizemos uma parceria com a Beebo.com, uma das quatro maiores redes sociais na internet.
Exame - O YouTube anunciou que vai entrar nesse mercado este ano. Isso muda o cenário?
Ham - A entrada de uma empresa tão grande e com tantos recursos como o Google dá mais validade ao mercado, mostra que o que estamos fazendo é muito importante. Isso traz muita atenção para nós.
Exame - Há rumores de que o Ustream recebeu propostas de aquisição da Microsoft. É verdade?
Ham - Não fazemos comentários sobre rumores. Por enquanto, só há especulação.
Exame - O Ustream pensa em fazer alguma fusão para crescer?
Ham - Estamos sempre olhando todas as opções, mas estamos focados em fazer nossa empresa crescer e em entender o nosso mercado.