Tecnologia

Boia brasileira monitora variáveis atmosféricas e oceânicas

Equipamento foi construído para melhorar a previsão do tempo e acompanhar possíveis mudanças climáticas

Boa brasileira: objeto com sensores para monitoramento atmosférico e oceânico está ancorada a 3,7 mil metros de profundidade no sudoeste do Atlântico Sul (Divulgação)

Boa brasileira: objeto com sensores para monitoramento atmosférico e oceânico está ancorada a 3,7 mil metros de profundidade no sudoeste do Atlântico Sul (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2013 às 13h48.

São Paulo – Uma boia com sensores para monitoramento atmosférico e oceânico, totalmente construída no Brasil, está ancorada a 3,7 mil metros de profundidade no sudoeste do Atlântico Sul desde abril deste ano.

O objetivo é coletar dados essenciais para prever melhor o tempo e a ocorrência de eventos extremos, como as fortes chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro em 2011 e o furacão Catarina, que golpeou a região Sul do Brasil em 2004.

Tais eventos têm origem na interação entre variáveis atmosféricas, como precipitação, umidade, vento e radiação, e oceânicas, como salinidade, temperatura e pressão – que impactam as condições climáticas no Brasil e na América do Sul de forma geral.

“Precisamos de um monitoramento contínuo desses dados a fim de acompanhar as nossas condições climáticas atuais e de nos prepararmos melhor para mudanças e ocorrências extremas”, afirmou Regina Rodrigues, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no terceiro dia da 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima), que ocorre até esta sexta-feira (13/09), no Espaço Apas, em São Paulo.

Nas porções equatorial e tropical do Oceano Atlântico, entre o Brasil e a África, esse tipo de monitoramento conta com uma série de boias de fabricação norte-americana, pertencentes ao Projeto Pirata, um programa conjunto entre França, Alemanha, Estados Unidos e Brasil. A porção subtropical, contudo, ainda carecia de atenção – lacuna que a boia em questão, chamada Atlas-B Guariroba, foi destinada a ajudar a preencher.

O equipamento foi construído por um grupo de pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), coordenado por Edmo Campos e do qual Rodrigues então fazia parte.

“Decidimos desenvolver a boia no Brasil para ter mais autonomia em relação aos fabricantes externos, que nos ajudaram a aprender a tecnologia necessária, e mais liberdade para escolher o posicionamento ideal para a boia”, disse Rodrigues.


Um ancoramento teste foi feito em Ubatuba em novembro de 2012 e o definitivo ocorreu a cerca de 600 quilômetros da costa do Estado de Santa Catarina (28,5ºS / 44ºW) em abril deste ano. Em ambas as ocasiões, os pesquisadores viajaram a bordo do navio oceanográfico Alpha Crucis, adquirido pela FAPESP para o IO-USP.

Funcionamento e perspectivas

As informações relativas aos fenômenos atmosféricos são captadas pela Atlas-B Guariroba por meio de sensores situados em uma torre superior ao flutuador: pluviômetros para medir a quantidade de chuva, anemômetros para indicar a direção e a velocidade do vento, espectrorradiômetros para checar a radiação solar, termômetros, GPS e medidores da concentração de gás carbônico e da umidade relativa do ar.

Já na porção submersa da boia, há um cabo de quatro mil metros de comprimento, fixado ao fundo do mar. Ao longo dos primeiros 500 metros do cabo, a partir da superfície, há sensores como fluorômetros (que medem a concentração de flúor), espectrorradiômetros, termômetros e medidores de salinidade da água.

O conjunto dos dados é transmitido via satélite e permite criar séries temporais de cada variável.

“Parte das peças da Guariroba pertenceu a uma das boias do Projeto Pirata. Mas já construímos uma segunda boia, apenas com componentes nossos, que será ancorada em abril de 2014”, explicou Rodrigues. Nessa época, após um ano de funcionamento, a Atlas-B será recolhida temporariamente para manutenção. A segunda boia será ancorada no lugar da primeira, de forma a manter a continuidade dos dados.

De acordo com a pesquisadora, o recolhimento permitirá confirmar se as variações identificadas até o momento são reais ou fruto de avarias. “Um ano é um prazo razoável para liberarmos os dados para fins científicos.” Uma vez verificadas, as informações passarão a compor o sistema on-line do Projeto Pirata, a partir do qual é possível consultar dados de diferentes boias, individualmente.


Por enquanto, os principais parceiros da iniciativa foram duas empresas privadas do Rio de Janeiro, a Ambidados e a Holos, a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil (DHN) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O financiamento foi composto por verbas do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) e do Núcleo de Apoio à Pesquisa da USP.

“Nossa intenção é manter a Atlas-B Guariroba como projeto-piloto, com o auxílio de programas distintos, até que o Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas e Hidroviárias [órgão criado em maio deste ano] possa assumir seu pleno controle”, completou Rodrigues.

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