Biópsia de congelação ajuda a diagnosticar câncer de bexiga
O método consiste em congelar o material coletado com uso de nitrogênio líquido e cortar a amostra em fatias laminares para análise em microscópio
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2014 às 16h02.
Um exame de resultado rápido conhecido como biópsia de congelação pode tornar o diagnóstico do câncer de bexiga mais preciso e possibilitar o tratamento precoce de lesões invasivas, mostrou estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
A avaliação foi feita durante o doutorado do médico urologista João Alexandre Queiroz Juveniz com 131 portadores de carcinoma urotelial atendidos no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A pesquisa foi orientada pelo doutor Alexandre Crippa Sant'Anna, coordenador do projeto “Análise de fatores prognósticos associados a recorrência do câncer de bexiga”, apoiado pela FAPESP.
“Os pacientes chegavam ao hospital com o diagnóstico de tumor na bexiga, mas não sabíamos se eram lesões músculo-invasivas, do tipo que atinge a camada muscular do órgão. Essa avaliação é feita por meio de um procedimento chamado ressecção transuretral”, explicou Juveniz.
O procedimento remove o tumor e cauteriza o local com o auxílio de um equipamento acoplado a uma câmera inserido pela uretra. O material coletado é enviado para análise do patologista e o resultado sai em aproximadamente cinco dias.
“Se ficar confirmado que a lesão é superficial, algo em torno de 70% dos casos, o tratamento cirúrgico já está concluído. Mas, caso o exame indique se tratar de um tumor músculo-invasivo, é preciso retirar toda a bexiga para evitar que ocorra a disseminação da doença [metástase]”, disse o pesquisador.
Para que o diagnóstico seja preciso, porém, é necessário que o cirurgião atinja a camada muscular da bexiga durante a ressecção e colete parte desse tecido para análise. Quando isso não ocorre, um novo procedimento precisa ser realizado e o início do tratamento tem de ser adiado pelo menos mais quatro semanas.
“Nosso objetivo ao fazer a biópsia de congelação durante a ressecção transuretral era ter certeza de que o material coletado tinha a camada muscular representada. Esse não é um uso rotineiro do exame, fizemos de forma inédita para tentar aumentar a acurácia do diagnóstico”, explicou Juveniz.
O método consiste em congelar o material coletado com uso de nitrogênio líquido e cortar a amostra em fatias laminares para análise em microscópio. A avaliação pelo patologista é feita com o paciente ainda na mesa de cirurgia e o laudo leva entre 15 e 20 minutos para ficar pronto. “Se o resultado apontar que a ressecção não foi feita de forma adequada, podemos refazer o procedimento imediatamente”, disse Juveniz.
De acordo com o pesquisador, a biópsia de congelação já é rotina em outras duas situações: quando é necessário determinar se um tumor é benigno ou maligno durante uma cirurgia (para orientar o tratamento) e para definir, após a retirada de um tumor, se a margem cirúrgica está livre de lesão.
Grupos de pesquisa
Os pacientes que participaram do estudo foram divididos de forma randomizada em dois grupos: os 67 do grupo controle foram submetidos ao protocolo padrão, ou seja, passaram pela ressecção transuretral e o material foi enviado para a análise anatomopatológica tradicional.
Nesse caso, a amostra é inserida em uma solução de parafina e, após o endurecimento, é cortada em fatias laminares para avaliação no microscópio. “Embora esse procedimento seja mais demorado, oferece algumas vantagens. É possível cortar a amostra em fatias mais finas, ter uma melhor visualização do tumor e realizar uma análise mais demorada”, ponderou Juveniz.
Os outros 64 pacientes, além do procedimento padrão, tiveram uma segunda amostra coletada para ser submetida à biópsia de congelação. Nesse grupo, foram coletadas amostras até conseguir representar a camada muscular no exame de congelação.
Nos pacientes em que não foi feita a biópsia de congelação, em 40% dos casos não havia camada muscular representada na amostra e foi necessário um novo procedimento.
No grupo de estudo, o número de lesões que invadem a camada muscular diagnosticadas foi oito vezes maior – 23% dos pacientes, contra apenas 3% do grupo controle, demonstrando a efetividade do estudo de congelação no diagnóstico de doença músculo-invasiva.
“Entre quatro e seis semanas depois, fizemos uma nova ressecção para investigar se no local havia sobrado lesão. No grupo submetido à biópsia por congelação, 90% dos pacientes estavam livres de lesão, contra apenas 65% do grupo controle”, contou o pesquisador.
Embora o tempo de cirurgia tenha sido um pouco mais longo no grupo submetido à biópsia de congelação – 50 minutos contra 42 no grupo controle –, não houve diferença estatística em termos de complicações. “Como é preciso retirar uma peça a mais de material para fazer a biópsia de congelação, pode ocorrer mais complicações como perfuração da bexiga ou um sangramento maior. Mas em nosso estudo não houve diferença relevante nos dois grupos”, disse o pesquisador.
Na avaliação de Juveniz, a biópsia de congelação é um procedimento barato – com custo inferior a R$ 100 – e que possibilita um diagnóstico e um tratamento mais precoce de lesões invasivas.
“Tumores de bexiga costumam ser muito agressivos e causar metástase precoce. O prognóstico do paciente pode mudar radicalmente em menos de três meses se o tratamento não for feito de forma adequada. E é preciso considerar que, quando o paciente chega a um hospital como o Icesp, provavelmente já passou por diversas instituições anteriormente”, afirmou Juveniz.
O câncer de bexiga está fortemente associado ao consumo de cigarro e é o quarto mais frequente nos homens. Entre os tumores que afetam o sistema urológico é o segundo, atrás apenas do câncer de próstata. Na cidade de São Paulo, estima-se que a doença afete 13,3 em cada 100 mil habitantes. No Brasil, em 2012, foram registrados 8,9 mil casos e 3,1 mil mortes – segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Um exame de resultado rápido conhecido como biópsia de congelação pode tornar o diagnóstico do câncer de bexiga mais preciso e possibilitar o tratamento precoce de lesões invasivas, mostrou estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
A avaliação foi feita durante o doutorado do médico urologista João Alexandre Queiroz Juveniz com 131 portadores de carcinoma urotelial atendidos no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A pesquisa foi orientada pelo doutor Alexandre Crippa Sant'Anna, coordenador do projeto “Análise de fatores prognósticos associados a recorrência do câncer de bexiga”, apoiado pela FAPESP.
“Os pacientes chegavam ao hospital com o diagnóstico de tumor na bexiga, mas não sabíamos se eram lesões músculo-invasivas, do tipo que atinge a camada muscular do órgão. Essa avaliação é feita por meio de um procedimento chamado ressecção transuretral”, explicou Juveniz.
O procedimento remove o tumor e cauteriza o local com o auxílio de um equipamento acoplado a uma câmera inserido pela uretra. O material coletado é enviado para análise do patologista e o resultado sai em aproximadamente cinco dias.
“Se ficar confirmado que a lesão é superficial, algo em torno de 70% dos casos, o tratamento cirúrgico já está concluído. Mas, caso o exame indique se tratar de um tumor músculo-invasivo, é preciso retirar toda a bexiga para evitar que ocorra a disseminação da doença [metástase]”, disse o pesquisador.
Para que o diagnóstico seja preciso, porém, é necessário que o cirurgião atinja a camada muscular da bexiga durante a ressecção e colete parte desse tecido para análise. Quando isso não ocorre, um novo procedimento precisa ser realizado e o início do tratamento tem de ser adiado pelo menos mais quatro semanas.
“Nosso objetivo ao fazer a biópsia de congelação durante a ressecção transuretral era ter certeza de que o material coletado tinha a camada muscular representada. Esse não é um uso rotineiro do exame, fizemos de forma inédita para tentar aumentar a acurácia do diagnóstico”, explicou Juveniz.
O método consiste em congelar o material coletado com uso de nitrogênio líquido e cortar a amostra em fatias laminares para análise em microscópio. A avaliação pelo patologista é feita com o paciente ainda na mesa de cirurgia e o laudo leva entre 15 e 20 minutos para ficar pronto. “Se o resultado apontar que a ressecção não foi feita de forma adequada, podemos refazer o procedimento imediatamente”, disse Juveniz.
De acordo com o pesquisador, a biópsia de congelação já é rotina em outras duas situações: quando é necessário determinar se um tumor é benigno ou maligno durante uma cirurgia (para orientar o tratamento) e para definir, após a retirada de um tumor, se a margem cirúrgica está livre de lesão.
Grupos de pesquisa
Os pacientes que participaram do estudo foram divididos de forma randomizada em dois grupos: os 67 do grupo controle foram submetidos ao protocolo padrão, ou seja, passaram pela ressecção transuretral e o material foi enviado para a análise anatomopatológica tradicional.
Nesse caso, a amostra é inserida em uma solução de parafina e, após o endurecimento, é cortada em fatias laminares para avaliação no microscópio. “Embora esse procedimento seja mais demorado, oferece algumas vantagens. É possível cortar a amostra em fatias mais finas, ter uma melhor visualização do tumor e realizar uma análise mais demorada”, ponderou Juveniz.
Os outros 64 pacientes, além do procedimento padrão, tiveram uma segunda amostra coletada para ser submetida à biópsia de congelação. Nesse grupo, foram coletadas amostras até conseguir representar a camada muscular no exame de congelação.
Nos pacientes em que não foi feita a biópsia de congelação, em 40% dos casos não havia camada muscular representada na amostra e foi necessário um novo procedimento.
No grupo de estudo, o número de lesões que invadem a camada muscular diagnosticadas foi oito vezes maior – 23% dos pacientes, contra apenas 3% do grupo controle, demonstrando a efetividade do estudo de congelação no diagnóstico de doença músculo-invasiva.
“Entre quatro e seis semanas depois, fizemos uma nova ressecção para investigar se no local havia sobrado lesão. No grupo submetido à biópsia por congelação, 90% dos pacientes estavam livres de lesão, contra apenas 65% do grupo controle”, contou o pesquisador.
Embora o tempo de cirurgia tenha sido um pouco mais longo no grupo submetido à biópsia de congelação – 50 minutos contra 42 no grupo controle –, não houve diferença estatística em termos de complicações. “Como é preciso retirar uma peça a mais de material para fazer a biópsia de congelação, pode ocorrer mais complicações como perfuração da bexiga ou um sangramento maior. Mas em nosso estudo não houve diferença relevante nos dois grupos”, disse o pesquisador.
Na avaliação de Juveniz, a biópsia de congelação é um procedimento barato – com custo inferior a R$ 100 – e que possibilita um diagnóstico e um tratamento mais precoce de lesões invasivas.
“Tumores de bexiga costumam ser muito agressivos e causar metástase precoce. O prognóstico do paciente pode mudar radicalmente em menos de três meses se o tratamento não for feito de forma adequada. E é preciso considerar que, quando o paciente chega a um hospital como o Icesp, provavelmente já passou por diversas instituições anteriormente”, afirmou Juveniz.
O câncer de bexiga está fortemente associado ao consumo de cigarro e é o quarto mais frequente nos homens. Entre os tumores que afetam o sistema urológico é o segundo, atrás apenas do câncer de próstata. Na cidade de São Paulo, estima-se que a doença afete 13,3 em cada 100 mil habitantes. No Brasil, em 2012, foram registrados 8,9 mil casos e 3,1 mil mortes – segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).