Tecnologia

Só computador não melhora educação, diz chefe do Plan Ceibal

Confira a entrevista com o especialista uruguaio Gonzalo Pérez, participante do evento Transformar 2015 que acontecerá dia 25 em São Paulo


	"Atualmente, cerca de 95% das crianças de 6 a 13 anos têm um computador", disse Gonzalo Pérez
 (Sean Gallup/Getty Images)

"Atualmente, cerca de 95% das crianças de 6 a 13 anos têm um computador", disse Gonzalo Pérez (Sean Gallup/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de agosto de 2015 às 06h00.

O uruguaio Gonzalo Pérez, responsável pelo maior programa de distribuição de laptops para estudantes da América Latina, admite que apenas equipamentos não melhoram educação.

Tecnologia na educação inspira cuidados. Há muito entusiasmo de políticos pela compra de equipamentos, mas frequentemente eles ficam pegando poeira enquanto os estudantes continuam aprendendo do mesmo jeito de sempre.

O foco no hardware inspirou ceticismo em relação ao programa de distribuição de laptops do governo uruguaio, o Plan Ceibal.

O diretor do órgão que cuida desse programa faz uma defesa das suas conquistas, mas diz que elas estão mais no campo da inclusão digital do que no do ensino.

Ele participará do evento Transformar 2015, que discute inovação na educação e acontece em São Paulo no dia 25 de agosto. Abaixo, trechos da conversa.

Como surgiu a ideia do programa Plan Ceibal?

Quando começamos, em 2006, a tecnologia era muito diferente. Os tablets não existiam. As redes sociais não eram tão importantes. Era um outro mundo.

A inspiração foi dar um laptop a cada criança, seguindo uma ideia do cientista do Massachussets Institute of Technology Nicholas Negroponte. Mas o foco não era apenas melhorar a educação e sim promover a inclusão digital. 

O que o programa alcançou?

A diferença de tecnologia entre ricos e pobres era muito grande. O objetivo primordial era reduzir esse abismo.

Em 2006, só 5% dos mais pobres tinham acesso a computador em casa. Entre os mais ricos, a taxa era 55%. Hoje, 72% dos mais pobres e 88% dos mais ricos têm computadores.

A diferença diminuiu consideravelmente. Claro que parte disso é o desenvolvimento natural do acesso à tecnologia, mas parte se deve a essa política.

Atualmente, cerca de 95% das crianças de 6 a 13 anos têm um computador. Mais de 80% das escolas urbanas estão conectadas com fibra ótica, na velocidade de internet de 40 megabytes.

Mas os resultados do Uruguai em matemática e ciências não melhoraram em exames nacionais e internacionais.

Descobrimos que ter acesso a um computador não faz o aluno saber mais matemática instantaneamente. Desde 2012 estamos focando em oferecer plataformas adaptativas que esperamos que terá impacto sobre a aprendizagem.

Como funcionam?

A plataforma de matemática tem algoritmos que identificam áreas de força e de debilidade no conhecimento do estudante. Você sabe rapidamente, por exemplo, se ele entende bem as frações.

Se o estudante tem dificuldades, o sistema sugere livros e exercícios. O aluno pode revisar o conteúdo ali mesmo.

Quantos alunos adotam o sistema?

A tecnologia está aberta a todos, mas os professores têm liberdade de escolher se e como usam. Cerca de 20% da rede usa regularmente. De 2014 para 2015 o número de acessos dobrou.

Os professores não se inibem com a tecnologia e tendem a evita-la?

Sim, mas estamos tentando conscientizá-los com capacitações. É o único jeito.

Qual é o custo do Plan Ceibal?

São 730 000 beneficiários e cada um custa 100 dólares anuais. Isso inclui a internet, o laptop com manutenção e troca a cada quatro anos, capacitação dos professores etc. No fim das contas, o gasto equivale a 5% do que o Uruguai dispende com educação.

Vale a pena?
Sim. Estamos aprendendo como usar a tecnologia no ensino para obter o maior impacto. Isso por si só é valioso.

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