Inteligência Artificial

Apple surpreende ao ignorar IA generativa em evento; especialistas questionam estratégia

Concorrentes investem em IA generativa, enquanto Apple se mantém discreta; apresentação do Vision Pro mostra o potencial da empresa

Desde o lançamento do fenomenal ChatGPT pela startup OpenAI no ano passado, todas as empresas de tecnologia têm competido no terreno da IA generativa (David Paul/Getty Images)

Desde o lançamento do fenomenal ChatGPT pela startup OpenAI no ano passado, todas as empresas de tecnologia têm competido no terreno da IA generativa (David Paul/Getty Images)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 9 de junho de 2023 às 16h01.

Última atualização em 13 de junho de 2023 às 18h47.

A Apple conseguiu um novo marco com a apresentação de suas últimas inovações, incluindo um dispositivo de realidade virtual e aumentada ultrassofisticado, sem mencionar a inteligência artificial (IA), tecnologia considerada impossível de ser ignorada em todos os eventos do Vale do Silício.

Desde o lançamento do fenomenal ChatGPT pela startup OpenAI no ano passado, todas as empresas de tecnologia têm competido no terreno da IA generativa.

A realidade é que não têm escolha, com analistas, investidores e consumidores tomados pela febre desses programas capazes de produzir textos, imagens e vídeos com um simples pedido em linguagem comum.

Microsoft e Google estão agregando essa tecnologia, rapidamente, a seus navegadores e programas de escritório para atrair usuários encantados com ter um robô escrevendo seus e-mails e planejando suas férias.

Várias empresas, do Snapchat a bancos e operadoras de turismo, estão adicionando aplicativos de chat de última geração a seus serviços para não ficarem para trás. Mas a Apple, vizinha do Google e da Meta (controladora do Facebook e Instagram), não mencionou a IA generativa, ou mesmo inteligência artificial, uma vez sequer, em sua conferência anual para desenvolvedores na segunda-feira passada.

"A Apple ignora a revolução generativa da IA", foi o título da revista especializada "Wired" no final do evento.

Discrição?

Não é que o fabricante do iPhone seja estranho à inteligência artificial, um conceito amplo que engloba inúmeras tecnologias que não são raras nem particularmente complexas.

A expressão é criticada, em especial, porque evoca um futuro de ficção científica em que máquinas sencientes e onipresentes assumiriam o controle da humanidade. É por isso que algumas empresas, como TikTok e Facebook (Meta), desenvolvem inovações que usam IA sem que o termo seja o essencial.

"Nós a integramos nos nossos produtos, é claro, mas os usuários não necessariamente pensam nisso como IA", explicou o CEO da Apple, Tim Cook, em entrevista à ABC News nesta semana.

Várias funcionalidades mostraram, na segunda-feira, que, de fato, envolvem essa tecnologia.

O vice-presidente sênior de engenharia de software da Apple, Craig Federighi, afirmou, por exemplo, que os algoritmos de "aprendizado de máquina" vão melhorar a ferramenta automática de verificação ortográfica.

Poderia ter explicado que, graças à IA, o teclado ficará menos limitado quando um usuário quiser digitar certos palavrões comuns, além de aprender suas preferências e fazer sugestões. Mas ele não mencionou esses algoritmos.

A IA também desempenhará um papel maior no primeiro dispositivo de realidade virtual mista da marca, que será lançado no próximo ano por US$ 3,5 mil (em torno de R$ 17 mil na cotação atual, a R$ 4,88).

De fato, o computador do Vision Pro será capaz de gerar um avatar numérico hiper-realista do usuário que estiver usando o equipamento, graças a gravações de vídeo da pessoa e a sensores que capturam os movimentos da boca e das mãos em tempo real.

"Estão muito atrasados"

Para alguns observadores, o tabu sobre IA mostra que a Apple perdeu terreno para suas concorrentes.

"Estão muito atrás", disse o analista independente Rob Enderle.

O sucesso do ChatGPT "pegou-os de surpresa", avaliou o especialista.

"Acho que eles pensaram que esse tipo de IA não ia chegar tão cedo (...) Agora eles serão forçados a comprar uma startup nesse campo", completou.

O rendimento aleatório da Siri, assistente de voz da Apple lançada há dez anos, também dá a impressão de que o gigante californiano ainda tem um caminho a percorrer.

"Está claro para quase todos que a Apple perdeu em competitividade com a Siri. É, provavelmente, o produto, no qual o atraso é mais evidente", disse Yory Wurmser, da Insider Intelligence.

Mas o especialista também lembra que a Apple é, antes de tudo, uma empresa de equipamentos de informática.

Os aplicativos com base em inteligência artificial são "um meio de melhorar a experiência do usuário, mais do que um fim em si mesmo" para a Apple.

Para Dan Ives, da Wedbush, apesar do que não foi dito, a apresentação do Vision Pro demonstra o potencial do grupo em IA.

"É a primeira etapa no centro de uma estratégia maior da Apple para construir um ecossistema de aplicativos de IA generativa sobre o novo dispositivo", acrescentou.

Acompanhe tudo sobre:iPhoneAppleInteligência artificialChatGPT

Mais de Inteligência Artificial

OpenAI considera retorno ao desenvolvimento de robôs humanoides

Google estaria usando a IA Claude para melhorar o Gemini, diz site

Novo modelo de IA da OpenAI impressiona, mas consome até US$ 1 mil por tarefa

Empresa de IA de Elon Musk, xAI, levanta US$ 6 bilhões em nova rodada