Privacidade: aplicativo que insere rostos dos usuários em personagens é alvo de críticas por seus termos de privacidade (Allan Xia/Twitter/Reprodução)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 2 de setembro de 2019 às 13h12.
São Paulo - No último fim de semana, um aplicativo chinês vem chamando a atenção dos internautas. Lançado na sexta-feira, 30, na App Store da China, Zao permite que os usuários insiram seus rostos em vídeos de celebridades a partir da tecnologia deepfake, que consiste em unir imagens ou sons por meio da inteligência artificial. Mas a polêmica envolvendo o aplicativo é, na verdade, em relação aos seus termos de privacidade.
Em menos de dois dias, o aplicativo já estava no topo da lista dos mais vendidos para dispositivos iOS na China, segundo reportou a agência Bloomberg. E não é para menos: o aplicativo consegue inserir qualquer rosto, de forma quase perfeita, no corpo de diversos atores. Allan Xia, um usuário do Twitter, compartilhou na rede social algumas de suas experiências utilizando o aplicativo. Confira abaixo Xia sendo transformado em vários dos personagens de Leonardo DiCaprio ou no antigo Rei do Norte, Jon Snow:
https://twitter.com/AllanXia/status/1168049059413643265
Here’s for Asian representation in Hollywood 😂 #ZAO #AI #Deepfake pic.twitter.com/qrSs3VajfL
— Allan Xia (@AllanXia) September 1, 2019
Segundo Xia, o aplicativo realiza a síntese de rostos em um período de menos de 8 segundos. No entanto, os clipes disponíveis para escolha são limitados e escolhidos pelos desenvolvedores. E a prática não é restringida para vídeos de personagens de Hollywood: os usuários também podem inserir seus rostos em personagens de video-games e cantores.
Porém, com a crescente atenção, usuários começaram a reparar que a política de privacidade do app era bastante invasiva. Em uma das cláusulas presentes nas regras, está escrito que o Zao possui uma licença "grátis, irrevogável, permanente, transferível e passível de relicência" para todo e qualquer dado que o usuário voluntariamente disponibilizar no sistema do aplicativo - neste caso, os dados disponibilizados são as imagens gratuitas de seus rostos.
Essa informação se propagou rapidamente, fazendo com que os criadores do aplicativo de deepfake sofressem várias críticas dos usuários, que bombardearam a App Store chinesa com milhares de críticas negativas. O desenvolvedor do aplicativo é uma empresa subsidiária da Momo, companhia que tem um serviço de transmissão ao vivo e um aplicativo de namoro chinês. Após os diversos comentários pedindo para que o aplicativo fosse removido da loja virtual da Apple, os desenvolvedores se pronunciaram e disseram que não utilizarão as imagens sem o consentimento dos usuários, e que apagarão os dados disponibilizados ao servidor assim que os clientes apagarem o aplicativo de seus smartphones.
A Bloomberg reportou que os desenvolvedores do aplicativo já alteraram seus termos, afirmando que os clipes e imagens não serão utilizados por terceiros sem consentimento. "Entendemos a preocupação com a privacidade. Recebemos o feedback e corrigiremos os problemas que não levamos em consideração, que precisarão de um pouco de tempo", informou um representante para a agência.
Ainda que mudanças sejam feitas, é pouco provável que o aplicativo faça sucesso em outros países, como os Estados Unidos, assim como fez - e continua fazendo - na China. Isso porque a preocupação com a segurança de dados particulares por parte dos usuários está aumentando e se tornando um fator crítico, especialmente após o escândalo de dados envolvendo o aplicativo russo FaceApp, que também faz uso de inteligência artificial.