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App extermina humanidade para mostrar riscos de contágio

Jogo Plague Inc., para iPhone, iPad e Android, atraiu a atenção de jogadores e funcionários da área de saúde pública


	Tela do aplicativo Plague Inc.: autoridades consideram o jogo uma ferramenta para conscientizar sobre o risco das pandemias no mundo real 
 (Reprodução)

Tela do aplicativo Plague Inc.: autoridades consideram o jogo uma ferramenta para conscientizar sobre o risco das pandemias no mundo real  (Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2013 às 15h54.

Nova York - A praga começou na Indonésia. Uma infecção viral que a princípio se espalhou discretamente, passando de uma pessoa a outra com tosse e espirros como únicos sintomas. Então alguém infectado com o vírus subiu a um avião.

Enquanto a doença se espalhava pelo mundo, à febre seguiram-se suores, enjoo e vômitos. Centenas de infectados tornaram-se milhares. O vírus desenvolveu resistência às drogas.

Tudo era parte do plano de Ian Lipkin.

O caçador de vírus da Universidade de Columbia não estava usando suas décadas de experiência na pesquisa de doenças infecciosas com fins maléficos. Ele estava jogando Plague Inc., um jogo para iPhone, iPad e Android. Com mais de 15 milhões de descargas desde seu lançamento no ano passado, Plague Inc. atraiu a atenção de jogadores e funcionários da área de saúde pública. Estes o consideram uma ferramenta para conscientizar sobre o risco das pandemias no mundo real em uma época em que o financiamento público para pesquisa médica está sob pressão.

“Atualmente há uma escassez desesperadora de financiamento científico nos EUA”, afirmou Lipkin em entrevista desde seu escritório em Nova York. Lipkin, diretor do Centro de Columbia para Infecções e Imunidade, foi consultor no filme “Contágio”, de 2011, e ganha crédito pela aterrorizante verossimilhança que resulta de basear sua praga em um vírus real. “Jogos como esse chegam às pessoas que não pensam na importância da ciência”.

99 centavos

Plague Inc., cuja descarga custa 99 centavos, transformou em multimilionário seu criador de 26 anos, James Vaughan. A ideia do jogo é criar uma praga e explorar as vulnerabilidades dos países – clima, densidade populacional, pobreza – para espalhá-la. O objetivo é aniquilar a humanidade antes que se possa achar uma cura.


A popularidade e o realismo do jogo logo chamaram a atenção dos Centros Americanos de Prevenção e Controle de Doenças (CDC). Em março, os CDC convidaram Vaughan para falar com seus pesquisadores em Atlanta e combinaram aparecer no jogo com lançamentos de notícias e falsos alertas. Por exemplo, à medida que a doença se espalhar, pode aparecer uma bolha de texto anunciando que os CDCs identificaram o paciente zero, o primeiro caso identificado de uma doença em humanos.

“Detetives de doenças”

A agência já conseguiu chegar aos mais jovens através das redes sociais. Neste ano, os CDC construíram sua própria aplicação de jogos para o iPad da Apple Inc., chamada Solve the Outbreak (“Resolva O Surto”), onde “detetives de doenças” vencem se encontrarem a causa de infecções baseadas em eventos reais. Em 2011, os CDC postaram em seu blog de Assuntos de Saúde Pública um manual irônico sobre como lidar com um apocalipse zumbi.

Plague Inc. se trata de um desastre potencial do mundo real: resistência a antibióticos. Medidas sanitárias fracas, superlotação, globalização e o mau uso de antimicrobianos contribuíram para desenvolver a resistência às drogas disponíveis, conforme a Organização Mundial da Saúde.

Cada ano, quase dois milhões de pessoas adquirem infecções em hospitais nos EUA, causando 99 mil mortes, a maioria das quais se deve aos vírus resistentes a antibióticos, conforme a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas. Ao mesmo tempo, o financiamento da pesquisa médica está sendo reduzido. Exigiu-se aos Institutos Americanos de Saúde um ajuste de 5 por cento ou US$ 1,55 bilhão de seu orçamento operativo para o ano fiscal de 2013, pelas reduções gerais de gastos conforme estabelece a lei americana.

Uma aplicação de iPhone de 99 de centavos não resolverá aquelas preocupações da vida real, mas pode ajudar a mostrar a vulnerabilidade das pessoas às doenças infecciosas, algo especialmente importante em uma época de financiamento científico menor, disse Lipkin.

Uns 30 minutos depois que Lipkin colocou seu vírus na Indonésia, ele tinha assassinado 6,75 bilhões de pessoas. Mas ele não venceu. O vírus foi extinto antes de chegar aos últimos milhares de sobreviventes do planeta – a doença fracassou e não atingiu a Groenlândia. Fim do jogo.

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