App brasileiro vai embora do Brasil em busca de investimentos
Empresa do segmento de beleza sai do país por causa de economia instável
Lucas Agrela
Publicado em 23 de agosto de 2017 às 05h55.
Última atualização em 23 de agosto de 2017 às 11h06.
São Paulo – Em 2015, a Vaniday, empresa nascida em Belo Horizonte que tem um aplicativo que conecta clientes e salões de beleza, chamou a atenção no Brasil e no mundo ao receber um investimento de 15 milhões de euros –mais do que Uber, Airbnb e Nubank conseguiram na primeira rodada. Nesta semana, a companhia enviou um e-mail aos seus clientes dizendo que ela encerraria suas operações no Brasil em setembro–não vender, nem buscar um sócio que tocasse o negócio, encerrar mesmo. O motivo? Os investidores do app decidiram que sair do país de economia instável era o melhor a fazer neste momento de captação de investimentos em Série B.
A mensagem recebida por e-mail foi uma confirmação daquilo que muitos dos usuários do aplicativo já sabiam: era cada vez mais difícil realizar agendamentos desde o final de julho e diversos bugs prejudicavam a usabilidade em smartphones, o que levava clientes em potencial a marcar horários por meio do site da empresa.
De acordo com Cristiano Soares, cofundador e CEO brasileiro da Vaniday, o marketplace móvel já contava com quase 2 mil salões de beleza cadastrados (85% deles em São Paulo) para oferecer serviços de manicure, cabeleireiro, massagens e tratamentos estéticos. O Brasil era o melhor mercado do aplicativo, "crescíamos entre 20 e 25% ao mês no país", conta Soares, que se disse triste com a decisão dos investidores, apesar de compreender que a decisão era a melhor para o negócio no momento. De vento em popa, o app já tinha break-even previsto para o ano que vem.
"Foi muito triste para todo mundo que usa o aplicativo. Tínhamos salões nos quais éramos responsáveis por 30% do faturamento, imagine o impacto dessa mudança de estratégia", disse Soares, em entrevista a EXAME. Na Google Play Store, que contabiliza downloads em celulares com sistema Android, o aplicativo tem mais de 100 mil instalações registradas.
"A Vaniday abriu esse mercado, colocamos o marketplace de beleza no Brasil, quebramos a primeira barreira desse setor mostrando que era necessário e fácil – tanto que os nossos objetivos foram alcançados. Nesse ponto, vejo a empresa como um êxito, apesar de ser triste o que aconteceu com ela", declarou o cofundador.
A Vaniday deve continuar sua expansão em outros países no futuro–possivelmente sem a participação de Soares, que prefere ficar no Brasil e tocar outro negócio. Atualmente, a Vaniday está na Austrália, nos Emirados Árabes, em Singapura e já realiza testes no Reino Unido e na Rússia. Segundo Soares, alguns desses lugares já têm salões de beleza mais desenvolvidos e preparados para o uso de apps de marketplace. Ainda assim, um dos desafios é contornar com promoções e programa de fidelidade a oferta de serviços fora do aplicativos após o primeiro contato com um profissional (que pode passar seu contato para o cliente visando o agendamento sem intermediários).
No Brasil, a Vaniday já tinha uma rival de peso, que pode aproveitar o momento para crescer mais. Tallis Gomes, cofundador do app de táxis e motoristas autônomos Easy , tem atualmente uma empresa parecida com a Vaniday, chamada Singu. A proposta é conectar profissionais de beleza a clientes, com atendimento a domicílio–enquanto a Vaniday fazia alianças com salões para facilitar agendamentos.
Como informa aVocê RH, a Vaniday mudou seu modelo de negócios para evitar vínculo empregatício entre a empresa e as profissionais de beleza cadastradas no app. Com isso, os salões ganharam mais destaque no planejamento para atender os seus 37 mil clientes, deixando a mão de obra avulsa para trás, assim como possíveis processos trabalhistas.
Futuro
Cristiano Soares deve se afastar da Vaniday, mas não do mercado de beleza. A nova empreitada do brasileiro será lançar uma plataforma que facilite a geração de conteúdo para redes sociais de salões de beleza. No aplicativo, haverá ainda uma espécie de "Instagram de beleza", com promoções dos estabelecimentos parceiros.
O app deve ser chamado Agência Club, enquanto a área de promoções levará o nome de Beauty Club. Criada com recursos próprios de Soares para evitar pressão de investidores, o lançamento da empresa está previsto para outubro deste ano, com ambição de internacionalização e faturamento previsto de 1 milhão de reais no primeiro ano.