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Apesar dos esforços, WhatsApp não consegue conter as “fake news”

Aplicativo de mensagens é usado para propagar notícias falsas porque histórico não é público ou de longo prazo

. (Bloomberg / Getty Images/Getty Images)

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Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 15 de outubro de 2018 às 13h30.

Última atualização em 15 de outubro de 2018 às 14h38.

São Paulo – As fake news – ou notícias falsas – se propagaram pelos aplicativos de mensagens, especialmente em grupos do WhatsApp, durante o primeiro turno nas eleições de 2018. No segundo turno, isso não deve ser diferente.

Diferentemente de outros aplicativos, o WhatsApp tem codificação de mensagens ponta a ponta. Só quem envia e quem recebe tem acesso ao conteúdo das mensagens, e ninguém mais–nem mesmo a empresa. Apesar de ter tomado uma série de medidas, como limitar o número de mensagens encaminhadas de uma só vez, a sinalização de que um conteúdo é replicado a partir de outra conversa e o apoio a entidades de checagem de notícias, o app não fez o suficiente para conter as fake news entre seus usuários, na avaliação de especialistas.

André Miceli, professor da Fundação Getúlio Vargas, lembra que, no conceito de pós-verdade, quem diz é tão importante quanto o que é dito. “Se existissem mecanismos para julgar mensagens, como denunciar mensagens, poderia haver uma contabilização e o algoritmo do WhatsApp poderia barrar aquele conteúdo. As pessoas precisam fazer uma função que antes era a do repórter: verificar as informações. As ferramentas precisam oferecer um espaço para as pessoas exporem suas observações e julgamentos sobre notícias", disse Miceli, em entrevista a EXAME.

A sugestão de uma ferramenta que permite denúncia de spam ou de conteúdo malicioso é ecoada por Sérgio Lüdtke, editor do Comprova – projeto que reúne 24 veículos de mídia brasileiros no combate às notícias falsas, entre os quais fazem parte EXAME e VEJA, da Editora Abril. "O problema é que o brasileiro acredita muito no que recebe dos amigos, e o boca a boca é muito efetivo no Brasil. As pessoas se fecham em bolhas insalubres", afirmou Lüdtke.

O Brasil é o segundo país do mundo onde as pessoas mais se informam pelo WhatsApp, de acordo com o estudo Digital News Report, de 2017. A pesquisa aponta que 46% dos brasileiros dizem usar o aplicativo como fonte de informação.

Procurado pela reportagem de EXAME, o WhatsApp não quis comentar sua atuação no segundo turno das eleições presidenciais brasileiras para evitar a distribuição de notícias falsas.

Exemplo da China

Um exemplo de ferramenta que pode ajudar no combate às notícias falsas vem da China. O aplicativo de mensagens WeChat, popular entre os chineses, passou a exibir um aviso de "rumor" nas mensagens trocadas entre os usuários, quando elas são falsas. Para fazer isso, o WeChat conta com o auxílio de grupos de checadores de fatos que analisam mensagens com conteúdo suspeito.

No Brasil e no mundo, o WhatsApp apoia grupos de checagem como o Comprova para a verificação de notícias verdadeiras ou falsas, mas estas medidas não têm sido suficiente para impedir a disseminação das mensagens. 

Ainda assim, como as atualizações de aplicativos são globais, há pouca chance de o WhatsApp tomar medidas mais drásticas contra fake news no curto prazo mirando apenas o Brasil. Ou seja, a cena da véspera do primeiro turno, marcada pelas notícias falsas em apps de mensagens, deve se repetir.

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