Açúcar presente em algodão será detectado por celulares
Detectar o problema dos açúcares causadores de pegajosidade é importante para toda a cadeia produtiva, pois eles podem causar grandes prejuízos
Gabriela Monteiro
Publicado em 6 de novembro de 2017 às 19h05.
Última atualização em 6 de novembro de 2017 às 19h39.
São Paulo — O Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) desenvolveu, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), um novo método de análise que capta a presença de açúcar no algodão de maneira mais rápida e não-destrutiva. Detectar o problema dos açúcares causadores de pegajosidade é importante para toda a cadeia produtiva, pois eles podem causar prejuízos, como mau funcionamento de máquinas e redução no valor da pluma. Isso prejudica não só o produtor, mas também a indústria têxtil e, consequentemente, o consumidor final.
O método tecnológico utiliza imagens da pluma de algodão que será analisada, captadas por um sensor portátil infravermelho, que pode ser acoplado a qualquer celular. Seu funcionamento é invisível a olho nu, e é semelhante à um mapa de temperatura: uma vez que a figura da amostra de algodão foi captada, ela é processada por algoritmos matemáticos que detectam os pontos onde há açúcar.
As principais vantagens dessa novidade são rapidez e baixo custo, já que qualquer um com acesso a celular pode adquirir o sensor. Outro aspecto muito positivo é que se trata de um método não destrutivo. Isso evita o desperdício, além de viabilizar diferentes amostragens de um mesmo fardo.
Para se ter uma ideia, antigamente analisavam-se amostras de até 20 gramas de plumas para representar um fardo de até 200 quilos. A pegajosidade do açúcar poderia estar presente em qualquer outro ponto que não aquele escolhido para análise, causando, assim, um possível desperdício em toda a cadeia.
Outra melhoria em relação ao método antigo é uma menor incerteza nos resultados. Com a utilização de substâncias químicas, só era possível detectar açúcares simples – como a glucose e a frutose. Os açúcares entomológicos mais complexos, excretados por insetos, são mais difíceis de ser detectados e são igualmente prejudiciais ao algodão. Isso agora pode mudar.
Vilões do algodão
Insetos-praga como pulgão, mosca-branca e cochonilha são os principais vilões, pois excretam açúcares diretamente nas folhas e no caule da planta. Quando os capulhos se abrem, a fibra se contamina e permanece infectada ao longo de vários processos. Geralmente o problema só é detectado depois de já ter contaminado diversas máquinas e dutos da indústria, causando grande prejuízo.
Uma contaminação elevada chega a afetar a fiação dos maquinários, gerando paralisação na produção para limpeza e manutenção, além de perda de qualidade no tecido, que adquire “neps” – como são conhecidos os pontos irregulares no fio.
O desafio dos pesquisadores agora é desenvolver um aplicativo para que o usuário comum possa chegar a um resultado satisfatório de maneira fácil e descomplicada, sem ajuda de terceiros. A previsão é que esse novo produto esteja disponível para os produtores em até dois anos.