O Windows 8 foi projetado para uso tanto em PCs como em tablets, onde ele vai aparecer com esta tela inicial quadriculada (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2011 às 11h21.
São Paulo - A década passada não foi um período favorável para a Microsoft, em especial quando comparada ao seu momento de apogeu, nos anos 1990. soberana absoluta do software para micros de mesa e notebooks, a empresa viu florescer, depois do ano 2000, mercados novos e fora de seus domínios, como os de Mp3 players, de smartphones e, depois, dos tablets. sua influência, onde existia, foi minguando. Apresentado em setembro numa versão preliminar para desenvolvedores, o Windows 8, que vai rodar em pcs e em tablets, representa uma aposta da Microsoft para dar a volta por cima e reconquistar posições importantes. Mas o sistema, embora a empresa não fale em datas, só deverá chegar às lojas no final do ano que vem.
Para caber num tablet, o Windows precisou fazer uma plástica. A nova versão do sistema operacional da Microsoft vai ganhar uma aparência completamente diferente em relação às edições anteriores, criada especialmente para fazê-la funcionar tanto em desktops e notebooks como em dispositivos ultraportáteis. sai de cena a famosa Área de Trabalho e, em seu lugar, entram pequenos blocos coloridos e interativos, pensados para telas sensíveis ao toque. O novo Windows 8 representa a tentativa mais radical da empresa para concorrer com seus principais rivais: a Apple, campeã de vendas com seu ipad, e o Google, que conta com parceiros como samsung, Motorola, Asus e Acer para fabricar tablets com Android.
Embora ganhar relevância nesse mercado seja o principal objetivo da Microsoft, a experiência de todos os usuários de Windows vai mudar profundamente. para revelar como será esse novo mundo, o INFOlab fez uma bateria de testes no Windows 8 developer preview. A primeira prévia do sistema, ainda incompleta, foi liberada para download no dia 13 de setembro. Muitos ajustes vão ocorrer até a versão beta ficar pronta, mas as principais inovações já aparecem claramente no software. sua base é a interface Metro, um design que começou no Windows Media center e no tocador de música Zune, migrou para o Windows phone 7 e também será usado no Xbox. com ele, o Windows terá a mesma cara em qualquer dispositivo.
A Metro não é opcional. Ao ligar um computador com Windows 8, o que se vê, em primeiro lugar, é a nova interface, e, pelo menos por enquanto, não há uma maneira oficial de desabilitá-la. cada quadro colorido corresponde a um programa e muitos deles exibem informações mesmo sem ser clicados.
Um aplicativo de previsão do tempo mostra a temperatura atual e indica se vai esfriar ou esquentar nas próximas horas, por exemplo. Outro, de redes sociais, traz atualizações e fotos dos seus amigos. se houver um programa de notícias, as mais recentes também surgem no tijolinho correspondente. “Há um novo modo de usar os computadores e queremos que o Windows se adapte a isso”, disse Steven Sinofsky, presidente da divisão Windows da Microsoft, durante a conferência para desenvolvedores Build, no mês passado, na Califórnia.
O novo ambiente funciona bem em telas sensíveis ao toque. No INFOlab, o Windows 8 foi instalado em dois desktops all-in-one com essa capacidade, que normalmente vêm com Windows 7, mas que é pouco ou nada usada: o Vostro 330, da Dell, e o Vaio 3D L225FB, da Sony. Só no primeiro deles, no entanto, a tela touchscreen foi reconhecida. A interação com os aplicativos é muito simples. Basta tocar com o dedo no quadro correspondente para abrir qualquer programa. Quando se desliza o dedo da borda esquerda da tela para o centro, abre-se um menu com as opções de compartilhar, abrir as configurações, buscar, acessar dispositivos ou voltar para a tela inicial. Dentro de um aplicativo, basta correr o dedo do alto da tela para baixo para acessar os menus do software, que ficam ocultos. Toda essa interação é, no entanto, bem mais trabalhosa com mouse e teclado.
Um recurso interessante da nova interface são os charms. Trata-se de menus de diferentes tamanhos, que vão de pequenas janelas a faixas que ocupam uma porção da tela de alto a baixo. Embora o conceito seja outro, e mais voltado para dispositivos com tela sensível ao toque, o charm é uma nova encarnação dos menus e caixas de diálogo.
E a antiga Área de Trabalho, com suas tradicionais pastas e ícones de atalho para aplicativos? Não, ela não morreu, embora o velho menu Iniciar tenha desaparecido. Para acessá-la, é necessário clicar no quadro Desktop que aparece na interface Metro ou abrir um programa tradicional, como o Paint. Seu aspecto é praticamente o mesmo do Windows 7. O Windows Explorer agora conta com uma faixa de opções para os comandos mais usados, nos mesmos moldes do Office 2007 e 2010.
Ao contrário do menu Iniciar, o charm não mostra uma lista de aplicativos. Esta só pode ser acessada clicandose no botão e, depois, em Search e Apps, o que leva o usuário de volta à interface Metro. No atual estágio do Windows 8, a transição do ambiente novo para o antigo é constante. Isso certamente causa incômodo para usuários acostumados com a Área de Trabalho, além de confundir os menos experientes. A coexistência das duas interfaces é um dos pontos mais discutíveis do Windows 8.
Deixar aberta a escolha da interface padrão seria uma decisão simples para a Microsoft. Tudo indica, porém, que a empresa pretende impor a adoção da interface Metro. Isso forçaria os usuários a se acostumar com a sua usabilidade, favorecendo a venda de tablets e também de outros produtos que a utilizam, como o Windows Phone 7. Ao mesmo tempo, estimularia os desenvolvedores a criar programas para o novo ambiente, tornando-o mais atrativo.
A empresa já anunciou que os aplicativos serão vendidos numa loja do Windows, integrada ao sistema, num modelo parecido com o da App Store, da Apple, e do Android Market, do Google. Outra promessa da Microsoft é a inicialização rápida. Segundo a companhia, máquinas com a nova versão do sistema operacional vão levar até 10 segundos para ser ligadas. Em testes do INFOlab, feitos no desktop all-in-one Vaio 3D L225FB, da Sony, o Developer Preview de 64 bits deu partida em 30 segundos, contra 46 segundos do Windows 7 Home Premium, também de 64 bits. Um resultado animador.
Quanto ao reconhecimento dos componentes da máquina, a instalação ocorreu sem nenhum transtorno no desktop all-in-one Dell Vostro 330. No Vaio 3D, porém, a tela sensível ao toque não foi identificada. Também foi preciso ajustar manualmente a resolução correta da tela. Na tarefa de compactar arquivos, o Windows 8 Developer Preview revela-se um verdadeiro relâmpago. Para um arquivo de 1,55 GB, consumiu apenas 1m33s, diante de 26m21s de seu antecessor. Na conversão de um vídeo de 79,4 MB, de WMV para MP4, o resultado também é favorável: Windows 8, 10 segundos. Windows 7, 15 segundos. O programa usado no teste foi o Cyberlink MediaEspresso. Vale ressaltar que esses números são apenas referências de um sistema em construção. Portanto, tudo pode ser modificado.
Começar do zero
Para a Microsoft, fazer sucesso no mercado de tablets é vital, uma vez que esses dispositivos têm se tornado cada vez mais populares. O instituto de pesquisas IDC afirma que a venda de tablets cresceu 308% no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Até agora, esse novo cenário está nas mãos da concorrência. O iPad, da Apple, abocanhou 68,3% do mercado de tablets no segundo trimestre de 2011, enquanto os dispositivos com Android ficaram com 26,8%. Já o Windows, a rigor, não tem nada.
Desde que Bill Gates deixou o cargo de presidente, em janeiro de 2000, a Microsoft vive um inferno astral. Como INFO mostrou em reportagem publicada na edição de julho, o valor de mercado da empresa despencou de 393 bilhões de dólares, em 2001, para 221 bilhões este ano. A Microsoft perdeu o domínio da área de navegadores e não conseguiu evitar que o Windows Mobile fosse engolido pelos concorrentes, tornando-se irrelevante no mundo dos smartphones.
O sistema operacional Windows ainda não havia sofrido abalos, mas os tablets mudaram isso. A empresa de pesquisas britânica Canalys, que inclui aparelhos como o iPad na categoria de PCs, divulgou em julho um estudo que coloca o porcentual de mercado do Windows em 82% do total, o mais baixo em 20 anos. “Muita gente não precisa de um PC cheio de recursos”, afirma Tim Coulling, analista da Canalys.
Um dos principais obstáculos para o sucesso da estratégia da Microsoft está no tempo que ainda vai levar para o Windows 8 chegar às lojas. A previsão é que isso só ocorra no fim de 2012. “Até lá, o Android estará mais maduro”, afirma Coulling. O iOS continuará a ser um fortíssimo concorrente porque a Apple conseguiu montar um ecossistema robusto, farto em aplicativos e conteúdo multimídia. “Quando você compra um iPad, leva muito mais do que o aparelho.” O Android tem se esforçado para reproduzir esse modelo, e a Microsoft terá de passar pelo mesmo processo.
O sucesso do Windows 8 depende dos aplicativos criados para o sistema, na opinião de Michael Cherry, vice-presidente da consultoria americana Directions on Microsoft. “A chave para que haja um grande impacto está na maneira como os desenvolvedores vão aproveitar a interface Metro. Precisam surgir aplicativos incríveis, que explorem bem a plataforma”, diz.
Esse teria sido um dos motivos para a liberação do Developer Preview com tanto tempo de antecedência, acompanhado de todas as ferramentas necessárias para a criação de software. Outro motivo pode ser a necessidade de captar o sentimento dos usuários mais avançados em relação às novidades do produto e ainda ter tempo de fazer correções.
Ainda no campo dos desenvolvedores, um ponto a destacar é que será mais fácil criar para essa nova plataforma gráfica. Os programas serão como aplicativos web. “O desenvolvedor vai poder escolher entre muitas ferramentas, mas poderá usar somente a combinação HTML5 e JavaScript”, diz Marcos Paulo Amorim, diretor executivo da Blink Systems, empresa paulista dedicada ao desenvolvimento de aplicações móveis. Para Amorim, uma das apostas da Microsoft é a de que no futuro tudo vai ser sensível ao toque.
Na mira
A não ser que haja uma avalanche de críticas ou falhas graves, o analista Michael Cherry acredita que poucas alterações serão feitas para a versão beta, que deve sair no início do ano que vem. “Quando você começa a se mover de uma etapa a outra do desenvolvimento, é desejável reduzir a quantidade de mudanças. Isso evita testes adicionais ou o aparecimento de problemas novos. As arestas são aparadas, incluem-se novas ideias. Alguns recursos, com muitas falhas ou pouco úteis, são removidos.” A nova cara do Windows já está definida, e a estratégia da Microsoft, também.
Com o Windows 8, a companhia espera acertar três alvos com um único tiro. Se o sucesso da nova interface pode abrir espaço para a empresa na área dos tablets, de forma menos direta também contribuirá para a expansão do Windows Phone, que é uma das matrizes visuais do Windows 8.
Em certo sentido, a empresa comandada por Steve Ballmer procura repetir agora o que fez em 1990 ao lançar o Windows 3.0, a versão que deu início à ascensão do sistema ao patamar de dono quase absoluto do mercado. Na época, o desafio era convencer os usuários a migrar do DOS para o Windows.
Mas hoje o cenário é muito mais complicado. A passagem para o ambiente gráfico puxou o tapete dos concorrentes e deixou o campo aberto para a Microsoft. Em relação ao DOS, o Windows 3.0 era uma revolução.Agora, por melhor que venha a ser, o Windows 8 não poderá dar um salto nas mesmas proporções. Além disso, há outras diferenças. No início dos anos 1990, o mercado de PCs apontava para o alto. Agora, encolhe. E os competidores nos tablets e smartphones, Apple e Google, são empresas gigantescas, plantadas em chão firme e em momento de ascensão. A Microsoft tem pela frente uma tarefa de Hércules.
É justamente por isso que a companhia decidiu “aprender com os erros”, como escreveu o chefão do Windows, Steven Sinofsky. Nesse processo pesou a sucessão de erros cometidos com o Windows Vista, lançado em janeiro de 2007, mais de cinco anos depois do XP. A Microsoft prometeu mundos e fundos para a nova versão do sistema e depois foi deixando de lado muitas de suas promessas. Quando o produto foi lançado, despertou uma saraivada de críticas. Os problemas de desempenho eram os mais óbvios, já que o sistema precisava de um hardware mais robusto.
Nesse caso, a Microsoft não preparou os usuários para o produto e permitiu que as expectativas permanecessem muito altas. Depois, nem mesmo assegurou que os fabricantes de hardware teriam à disposição itens fundamentais para o funcionamento do Vista. Antes de o produto chegar às lojas, o especialista Paul Thurrot, do Supersite for Windows, escreveu: “Houve promessas, expectativas foram geradas. Nenhuma delas foi cumprida. Do ponto de vista técnico, a versão do Windows Vista que vamos receber é apenas uma casquinha triste, uma sombra do que seria”. O Gartner recomendou que as empresas esperassem para fazer uma eventual migração.
Com o Windows 7, a atitude mais aberta para o usuário começou a funcionar. Versões preliminares foram colocadas à disposição do público e a comunicação se tornou muito mais fluente. O resultado foi positivo: quando o sistema operacional chegou às lojas. Praticamente já não havia segredos, e o produto recebeu boa acolhida tanto dos usuários como dos críticos especializados. Uma diferença fundamental: dessa vez, como o sistema já estava testado e conhecido, o Gartner sugeriu que as empresas poderiam pensar em adotá-lo, sem sustos.
Agora, além de vencer os competidores externos, o novo Windows 8 terá a difícil missão de enfrentar seu bem-sucedido antecessor. Conseguirá?