Régua da salvação: na Hungria, milhares de refugiados recarregam seus smartphones para continuarem a travessia (Reuters/Alexandros Avramidis)
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2015 às 08h00.
São Paulo – A Europa está no meio de sua pior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. Diferentemente dos judeus, homossexuais e comunistas que fugiram de Hitler, os sírios não precisam apenas de comida e abrigo para sobreviverem. Eles também precisam de seus smartphones.
A tecnologia transformou o modo como os refugiados se movem entre as fronteiras dos países. Ferramentas digitais se tornaram vitais para publicar atualizações em tempo real sobre prisões, rotas, transportes e, principalmente, para manter o contato com a família e os amigos.
Veja abaixo as tecnologias que estão ajudando os refugiados a saírem vivos desta guerra civil que já dura quatro anos.
A internet é a principal ligação entre os refugiados e o mundo, mas em zonas de conflito o acesso é difícil. Um grupo teve uma ideia inusitada para conectar refugiados na Hungria. Eles transformaram pessoas em postes de Wi-Fi. Com uma doação de 100 dólares, voluntários podem alugar uma mochila equipada com um roteador e cartões de celular pré-pagos e andar pela multidão.
De acordo com Kate Coyer, diretora do Projeto Sociedade Civil e Tecnologia da Universidade Central Europeia, o roteador dura cerca de seis horas antes de precisar ser recarregado. Ele também pode entregar o sinal para cerca de seis de usuários ao mesmo tempo.
Um escritório das Nações Unidas na Jordânia tem distribuído cartões de celular para refugiados. O objetivo é que eles possam usar seus smartphones. O WhatsApp é uma das principais formas de comunicação entre eles e seus familiares e amigos. Apps, como o Skype, permitem que os sírios façam ligações de graça ou por um preço muito baixo.
No Líbano e no norte do Iraque, o Comitê Internacional de Resgate (IRC, em inglês) entregou milhares de carregadores movidos a energia solar para os refugiados. Na fronteira da Hungria, voluntários colocaram réguas de energia em estabelecimentos públicos para que os refugiados possam recarregar seus smartphones.
O Facebook tem papel central na crise e pode ser usado para o mal e para o bem. Grupos são criados todos os dias para vender viagens para a Europa. Um dos mais conhecidos é o “Tráfico para a Europa”, com mais de seis mil membros. Nele, traficantes anunciam preços das travessias para a Europa, como se estivessem vendendo pacotes de viagens. Eles oferecem descontos nas travessias para pais com crianças menores de cinco anos.
A parte boa é que existem grupos em árabe que auxiliam os sírios que viajam sozinhos. Entre eles estão “Contrabando para a EU”, que tem mais de 23 mil membros, e “Como emigrar para a Europa”, com mais de 39 mil pessoas.
“Graças ao Facebook, os traficantes estão perdendo seus negócios, pois as pessoas estão fazendo as travessias sozinhas”, disse Mohamed Ali Haj, que trabalha com a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais em Belgrado, capital da Sérvia, ao New York Times .
O Google Maps e outros aplicativos de GPS são bastante populares entre os refugiados. Graças a essas ferramentas, as pessoas são capazes de desenhar as próprias rotas para fugirem da Síria. Devido a estes apps, os refugiados não precisam mais pagar preços altos e passar pelas condições horríveis que são oferecidas pelos traficantes.
“A única parte da viagem que a maioria dos imigrantes ainda paga para os traficantes é o cruzamento da Turquia para a Grécia”, escreveu Matthew Brunwasser, no New York Times.
Uma ferramenta muito usada pelos voluntários é o Google Docs. Kate Coyer disse ao Business Insider que coordena grupos no Google Docs para que alimentos e outros itens necessários para a sobrevivência dos refugiados estejam seguros.
Segundo ela, o app do Google ajuda a garantir que não exista um excesso de determinados produtos e insuficiência de outros. Além disso, o Docs permite que os voluntários humanitários consigam responder rapidamente às necessidades dos refugiados.
Em 2014, os alemães Jonas Kakoschke e Mareike Geiling abriram as portas da própria casa para abrigar refugiados. O que era para ser um ato isolado de bondade tornou-se um projeto. Chamada de Flüchtlinge Willkommen ("Bem-vindos, refugiados"), a plataforma tem sido descrita como um "Airbnb para refugiados". O Airbnb é um site para as pessoas alugarem casas, quartos ou apartamentos para turistas.
O projeto alemão tem ajudado refugiados de países como Afeganistão, Nigéria, Paquistão e Síria. Mais de 780 alemães já se inscreveram no site. Eles são de diversas profissões, afirma Kakoschke, em entrevista ao site Al Jazeera. “São carpinteiros, consultores de relações públicas e muitos estudantes.” Segundo ele, os voluntários têm entre 21 e 65 anos.