6 substâncias cotidianas que envenenam o cérebro infantil
Grupo de cientistas alerta para o efeito "neurotóxico" de compostos presentes em artigos comuns do dia a dia
Vanessa Barbosa
Publicado em 13 de julho de 2016 às 15h15.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h11.
São Paulo - Produtos e artigos comuns do cotidiano são compostos de dezenas de substâncias químicas , algumas perigosas e com alta toxicidade. Mulheres grávidas e crianças em fase de desenvolvimento são os grupos mais vulneráveis à exposição a esses químicos, que se comportam como "neurotoxinas", afetando o correto funcionamento do cérebro. Em um estudo "barulhento" divulgado no começo deste mês, um grupo de 50 cientistas e profissionais de saúde dos Estados Unidos pede uma ação urgente das autoridades de saúde e do governo no combate à exposição de gestantes e crianças a essas substâncias. O projeto que atende pela sigla TENDR (Project Targeting Environmental Neuro-Developmental Risks) foi convocado para avaliar o impacto de produtos químicos tóxicos no cérebro e sistema nervoso em desenvolvimento. No artigo publicado na prestigiosa revista Environmental Health Perspectives, o grupo conclui que as crianças estão "amplamente expostas a produtos químicos conhecidos por prejudicar o desenvolvimento". Se a situação é crítica nos Estados Unidos, dá para ter uma ideia do tamanho dos riscos em outras partes do mundo. Na pesquisa, eles identificam seis tóxicos químicos (veja nos slides) que apresentam riscos claros para o desenvolvimento neurológico das crianças e oportunidades para ação imediata, a fim de se aprimorar as políticas, legislação e práticas nacionais referentes ao controle desses produtos. Apesar do estudo ser focado nos Estados Unidos, os esforços de combate a essas substâncias podem ser verificados em vários países, incluindo o Brasil, mas de forma muito pontual. A exposição a essas substâncias ocorre por vias diversas — inalação, contato de pele, ingestão de alimentos ou água contaminados, por exemplo — e nem sempre é óbvia, uma vez que partículas desses tóxicos, que se encontram "ocultos" nos produtos, podem se dispersar no solo, ar e água e permanecer ali por dezenas de anos. Muitas ainda têm propiedades lipossolúveis, sendo estocadas na gordura animal, o que gera um efeito bioacumulativo na cadeia alimentar. Confira nas imagens as substâncias químicas do cotidiano que são veneno para o cérebro das crianças, segundo o estudo.
O grupo de compostos conhecidos como polibromados éteres difenil (PBDE) são amplamente utilizados para inibir ou retardar a propagação de chamas. No uso comercial, é aplicado como aditivo em espumas de poliuretano usadas em colchões, estofamento de móveis, automóveis e carpetes. Eles também estão presentes em computadores e outros equipamentos eletroeletrônicos e em polímeros utilizados em adesivos, isolantes de fios, invólucros para televisores e computadores e em alguns tecidos. Estudos epidemiológicos na Europa e nos EUA têm mostrado déficits de desenvolvimento neurológico em crianças com aumento da exposição pré-natal a esses compostos.
Metal pesado, o chumbo está presente no meio ambiente naturalmente ou em consequência de sua utilização industrial. As principais formas de contaminação se dão pela ingestão de alimentos ou água contaminados (muitos encanamentos antigos de água contém chumbo) e por inalação de partículas de poeira da substância (no caso de exposição industrial ou disposição de resíduos). As tintas domésticas são um ponto de atenção: o metal ajuda a conseguir cores brilhantes e aumenta a resistência à corrosão, mas com o passar do tempo, ele se deteriora e as pessoas podem inalar suas partículas no ar. Há muito tempo, EUA e Europa proibiram a comercialização de tintas contendo chumbo. E desde 2009 o Brasil conta com um padrão de segurança para o chumbo presente em tinta, com valores definidos. Ainda assim, o metal pode ser encontrado em casas e móveis antigos e, principalmente, em brinquedos piratas. Por isso, é recomendável que sempre se procure produtos com selo do Inmetro e do Instituto de Qualidade do Brinquedo, que atestam a segurança do brinquedo para a saúde das crianças. Os efeitos da exposição ao chumbo são devastadores e incluem uma série de lesões nervosas, problemas de sangue, rins, sistema digestivo e reprodutor. Quando os níveis de exposição são altos, o chumbo causa danos cerebrais e ao sistema nervoso central, levando ao coma, convulsões e até a morte.
A exposição ao metilmercúrio, que afeta o desenvolvimento neurológico do feto, muitas vezes vem de ingestão materna de peixe contaminado. Segundo o estudo, a vulnerabilidade do cérebro em desenvolvimento à toxicidade do metilmercúrio é muito maior que a do cérebro adulto. Os efeitos perduram por anos. Exames em pessoas expostas no pré-natal a quantidades excessivas de metilmercúrio mostraram ativação anormal de regiões do cérebro em resposta a tarefas de estimulação sensorial e motora, e, em casos mais extremos, paralisia. Os peixes maiores que vivem muito tempo e comem outros peixes tendem a ter mais mercúrio acumulado nos tecidos. Quando esse peixe é ingerido, o mercúrio acumula-se no nosso organismo. No Brasil, entram na lista de peixes com níveis elevados de mercúrio a pescada branca, atum in natura, cação, corvina, peixe-espada e camarão, por exemplo.
Pesticidas organofosforados estão presentes em inseticidas utilizados na produção de frutas e vegetais e também nos de uso doméstico. Estudos associam seu uso à redução na produção de testosterona e à interrupção de processos eletroquímicos que os nervos usam para se comunicar uns com os outros e também com os músculos. As principais vias de exposição são a respiratória e a cutânea e absorção oral pode ocorrer por ingestão voluntária (suicídio no campo) ou por alimentos contaminados.
A ameaça também está solta no ar. São as partículas microscópicas resultantes da combustão incompleta de combustíveis fósseis utilizados pelos veículos automotores e fábricas, que formam, por exemplo, a fuligem preta em paredes de túneis e latarias de carros. Imperceptível a olho nu, o material particulado não encontra barreiras físicas: afeta o pulmão e pode causar asmas, bronquite, alergias e outras graves doenças cardiorrespiratórias, além de provocar sérios efeitos na cognição de crianças.
Esta família de produtos químicos tem um alto poder de toxidade e tem sido rotineiramente associada à função cognitiva reduzida na infância. Durante muito tempo, principalmente entre os anos de 1950 e 1970, eles foram utilizados em larga escala na área industrial como estabilizantes de diversas formulações de plásticos e borrachas espciais, como o PVC, além de serem encontrados na forma de lubrificantes em aparelhos elétricos velhos e em transformadores de energia, onde agem como isolantes térmicos. A comercialização e uso dessas substâncias é proibida no Brasil há mais de 20 anos. Porém, por conta de sua persistência no ambiente (elas não degradam naturalmente), ainda há registros de contaminação do litoral norte ao sul do país, devido principalmente ao descarte ilegal de resíduos e incineração nos lixões. Os PCBs podem entrar no corpo através do cotato com a pele ou da ingestão de alimentos (como peixes, carnes e lácteos contaminados) que contenham resíduos do composto lipossolúvel. Construções feitas até a década de 70 também podem ter altos níveis de resíduos dessas substâncias.
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