10 empresas que investem em inovação coletiva
Com a ajuda de funcionários, clientes e até da concorrência, empresas mudam a forma de encontrar novas ideias
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2011 às 13h12.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h36.
São Paulo - O programa Jam, da IBM não é uma ferramenta qualquer. Criado em 2001, ele é uma tecnologia de comunicação, formada por comunidade de discussão, que tem sido decisivo na geração de novos produtos, serviços e até mesmo na mudança e consolidação dos valores da empresa, como ocorreu em 2003, no debate chamado ValuesJam. Já em 2006, esse sistema proporcionou o maior processo de brainstorming online da companhia, reunindo mais de 150.000 pessoas de 104 países e 67 empresas. O resultado de tantas cabeças pensando juntas foi o lançamento de 10 novos negócios da IBM com um investimento total de 100 milhões de dólares. Diferentemente de redes sociais como Facebook e Twitter, os debates dos Jams não se dispersam no meio da diversidade de assuntos. Cada fórum tem um tema bastante específico para que a empresa possa tirar o máximo de ideias possível da discussão.
Cerca de metade dos projetos de inovação da Natura é proveniente de inovação aberta, feita por meio de parcerias com instituições de pesquisa e tecnologia no Brasil e no exterior. Desde 2002, a empresa investe no trabalho em conjunto para lançar novos produtos. Esse esforço culminou, em 2006, na criação do Programa Natura Campus de Inovação Tecnológica e, em 2007, do Portal Natura Campus, que serve como ponte entre a empresa e as instituições de ciência e tecnologia. Nesse endereço, as entidades podem se cadastrar e submeter propostas de projetos para desenvolver junto com a empresa. De acordo com dados de 2008, o portal tinha 228 grupos cadastrados. Naquele ano, o site foi responsável pela captação de 79 propostas de cooperação, tendo um aproveitamento de 19% das ideias, vindas de 10 universidades brasileiras. Com a ajuda da colaboração, o índice de inovação, medido pelo número de produtos lançados em 2008 e 2009, foi de 67,5% na empresa.
Uma empresa com mais de 55.000 patentes registradas não pode se dar ao luxo de restringir os canais por onde vem a inovação. Necessitando sempre captar novas ideias, a 3M orienta seus funcionários a pensar “fora da caixa”. Produtos como a fita-crepe foram criados a partir do contato direto entre funcionários e clientes, por meio da percepção de suas necessidades do dia-a-dia. Há também os produtos que surgiram a partir da colaboração entre funcionários, como o Post-it, que surgiu a partir de uma cola que “deu errado”, mas foi resgatada por outro cientista. Atualmente, além de ter uma grande abertura para funcionários darem ideias, a 3M do Brasil fica de olho nos palpites e ideias do público apresentados no site 3M Inovação, onde há espaço para brainstorming coletivo, discussão de temas enviados pelos internautas e envio de ideias.
Em vez de bater de frente com os adversários, a Procter & Gamble encontrou uma maneira mais suave de lançar novos produtos e lucrar: a inovação colaborativa. As parcerias com outras empresas, inclusive concorrentes em potencial, e outras instituições de pesquisa representam mais da metade dos projetos de inovação da P&G, que, no total, recebem um investimento anual de 2 bilhões de dólares. O modelo adotado para desenvolver inovação aberta na empresa foi o Connect Develop, que busca nas outras companhias o conhecimento e a parceria para desenvolver novos produtos. Um exemplo é a união com a brasileira Braskem, para o lançamento de três produtos cosméticos com embalagens feitas com plástico reciclável à base de cana-de-açúcar, marcado para este ano. A parceria com a concorrente americana de produtos de limpeza The Clorox Company também deu certo. Juntos, eles criaram o Glad, um plástico mais resistente para embalar comida e fabricar sacos de lixo. Hoje, a marca vale mais de 1 bilhão de dólares.
Foi em abril de 2009 que a Tecnisa tomou, pela primeira vez, a iniciativa de pedir ajuda ao público em geral para inovar. Na época, o Orkut ainda estava no auge no Brasil e pareceu ser a melhor plataforma para que as pessoas pudessem dar opiniões e propostas sobre construções inclusivas para idosos e deficientes. Logo de cara, a pergunta feita na comunidade da Tecnisa no Orkut rendeu mais de 200 ideias, das quais duas foram aplicadas. Um ano depois, a empresa lançou um desafio a universitários cadastrados no Battle of Concepts, um portal dedicado à inovação e dirigido a jovens com até 30 anos de idade. Das 53 propostas, as três melhores foram premiadas. E o investimento em inovação aberta não para por aí. Além dos perfis mantidos nas principais redes sociais, a companhia criou, em setembro de 2010, o Portal Tecnisa Ideias, um site para receber sugestões, centralizar as colaborações e identificar novas tendências. Com quatro meses de vida, o portal já tem quase 2.000 colaboradores.
Para manter em 25% a participação de produtos inovadores no faturamento total da Whirlpool, de 6,6 bilhões de reais, os princípios de inovação aberta são imprescindíveis. Parcerias com universidades, fornecedores, empresas de setores diferentes e sugestões de funcionários são a base da companhia para lançar cada vez mais produtos por ano – e faturar ainda mais com eles. Uma das ferramentas usadas pela dona das marcas Brastemp e Consul, é o Idea Central, disponível na intranet, responsável pela comunicação entre funcionários e líderes da companhia. Além disso, o concurso Programa Inova, que premia alunos e professores inventivos das áreas de design e engenharia, e os seminários e workshops com especialistas em inovação ajudam a empresa a consolidar uma cultura que envolve todos os funcionários e não apenas um grupo seleto de pesquisadores.
Diante do avanço da Apple, a Microsoft precisou mudar de estratégia para se manter no topo e foi do lado de fora que a companhia viu as maiores garantias. Essa abertura veio a público em 2008, quando a empresa anunciou que iria oferecer livre acesso a especificações técnicas detalhadas para interfaces de aplicativos e protocolos usados nos seus softwares. Muita gente ficou incrédula, pois não viu que o primeiro passo já havia sido dado em 2001. Na época, a Microsoft colocou fim aos processos antitruste que movia, e oneravam a empresa, e partiu para uma estratégia colaborativa para manter sua competitividade. Com um trabalho intenso de parcerias com outras empresas e compartilhando seu leque de propriedade intelectual, a Microsoft ampliou seu número de patentes de 3.500, em 2003, para 13.000, em 2008. O trabalho colaborativo da companhia passou por vários tipos de organizações, como agências do governo, pequenas empresas chinesas e até com grandes concorrentes, entre eles Apple, IBM, Novell e Nokia. Sem medo de fortalecer quem está no páreo com a companhia, a Microsoft percebeu que, juntos, todos podem continuar ganhando.
Os fornecedores são estratégicos para a inovação aberta feita na fabricante de pneus Goodyear. Com conhecimentos mais avançados em tecnologia e pesquisa, esses parceiros foram o público-alvo de um desafio de inovação promovido pela empresa na unidade de Akron, em Ohio, nos Estados Unidos. Usando o software de gestão de inovação chamado Imaginatik, a Goodyear pediu ajuda aos fornecedores para resolver 17 problemas técnicos. Durante o período de seis semanas, eles receberam 195 respostas. O grande ganho, porém, não foi só o auxílio na resolução das questões específicas, mas também o compartilhamento de informações valiosas para inovações em geral, que podem se tornar grandes vantagens competitivas para a empresa e, claro, para os próprios fornecedores.
A AT&T, a maior empresa de telecomunicações dos Estados Unidos, transformou a básica caixinha de sugestões em uma poderosa ferramenta online de consulta a funcionários. Deixando de lado a exclusividade dos laboratórios de inovação, a companhia passou a palavra aos seus milhares de trabalhadores para que pudessem dizer o que pensam. Essa democratização está sendo feita por meio de um software específico para inteligência coletiva, pelo qual os empregados propõem ideias e podem ler e votar nas sugestões que julgam ser as melhores. Desde que o sistema foi implantado, há menos de dois anos, 40.000 funcionários se cadastraram e metade deles é bastante ativa. A cada trimestre, um grupo de gestores é encarregado de separar o joio do trigo em meio a tanta colaboração. Para a AT&T, os milhões de dólares investidos em inovação aberta estão valendo a pena, já que, com a participação ativa dos funcionários, a empresa tem o feedback de áreas estratégicas, como atendimento ao consumidor.
Nada melhor do que oferecer um prêmio para atrair as melhores ideias para dentro de uma empresa. Foi exatamente isso que a Cisco fez por meio do torneio global I-Prize, que dá 250.000 dólares para o grupo empreendedor que tiver a melhor proposta para se tornar o “próximo negócio de 1 bilhão de dólares da Cisco”. O vencedor do concurso deve criar propostas de soluções para mudar os negócios de empresas e organizações, tecnologias que possam melhorar as condições de vida das pessoas, soluções para transformar o aprendizado e a educação, ou novas formas que vão mudar a forma como as pessoas se divertem. Quem levou a melhor na edição de 2010 foi um grupo vindo do México. Formado por cinco universitários, o time propôs a ideia de uma “Conta da Vida”, que coletaria informações sobre usuários através de dispositivos conectados no mundo físico e informações online disponíveis no mundo virtual.
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