Revista Exame

Xampus, batons e cremes para a pele: a onda agora é ser clean

Os consumidores de cosméticos buscam produtos orgânicos e livres de ingredientes tóxicos, além de transparência das marcas

Xampu de maçã verde da Laces: em alta (Laces/Divulgação)

Xampu de maçã verde da Laces: em alta (Laces/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 30 de julho de 2020 às 05h30.

Do que é feito seu xampu? Caso você se dedique a ler os rótulos dos produtos que comprou, provavelmente o máximo que encontrará será uma lista indecifrável de ftalatos, triclosan, petrolatos, parabenos, antiumectantes e espessantes. Na esteira de pesquisas que divulgam de forma abrangente os malefícios desses e de outros ingredientes artificiais à nossa saúde e à do planeta, nasce uma nova geração de consumidores, sedentos por produtos de higiene pessoal e beleza mais limpos. Para eles, o crivo de agências reguladoras já não é suficiente. O uso de metais pesados, pesticidas e plastificantes por parte da indústria incomoda cada vez mais gente.

Nos Estados Unidos, essa onda se estruturou no Clean Label Project, uma autodeclarada organização nacional, sem fins lucrativos, com a missão de trazer verdade e transparência à rotulagem de alimentos e produtos de consumo. “Ainda não existe uma regulamentação sobre o que é ou não um produto clean label, mas consideramos rótulos limpos aqueles com o mínimo possível, ou com ausência total, de ingredientes artificiais, largamente utilizados na indústria alimentícia”, explica Alessandra Luglio, nutricionista e consultora. E quais são esses ingredientes? “Corantes, aromatizantes, espessantes, antiumectantes… Todos os ‘anti’ ”, completa.

SIMPLE ORGANIC
Óleo de Patauá, R$ 70
BBA, R$ 97
Blending Facial, R$ 110 (RÉGIS FILHO/VOCÊ S/A)

Embora pareça utópico, fabricar produtos clean em grande escala é possível, segundo Luglio. “A indústria prioriza o artificial porque é mais barato”, diz. No mercado de cosméticos, por sua vez, a clean beauty como tendência de consumo já existia, mas foi potencializada durante a pandemia. “Por um lado, as pessoas estão mais preocupadas com o impacto de suas ações no meio ambiente e, por outro, não querem mais usar ingredientes nocivos na pele”, explica Marcela Rodrigues, consultora de consumo consciente e criadora da plataforma A Naturalíssima. Entre esses ingredientes estão as microesferas de plástico, usadas em produtos capilares, pastas de dentes, sabonetes e esfoliantes; os derivados de petróleo, comuns em óleos corporais e no filtro solar; e o chumbo, que está na composição de muitos batons.

SIMPLE ORGANIC
Iluminador Shine Stick, R$ 55  (Adriano Machado/Bloomberg)

Para fugir disso tudo, Rodrigues tem uma orientação: “Dar preferência a produtos naturais, com no máximo 5% de ingredientes sintéticos, mas que não estejam entre os suspeitos [por enquanto, só pesquisando para saber a lista], orgânicos e, principalmente, cruelty free e veganos”. Pode parecer difícil — e pode ser mais caro —, mas não faltam opções. A marca americana Biossance, que chegou ao Brasil em março de 2018, oferece alternativas de alto desempenho a produtos derivados de petróleo, animais e plantas. “Usamos o esqualano bioidêntico produzido da cana-de-açúcar, motivo pelo qual a empresa se instalou no Brasil”, explica Camila Farnezi, diretora da Biossance Latam.

Marcas 100% brasileiras também embarcaram nessa direção. A Simple Organic nasceu há cinco anos com um portfólio de cosméticos e maquiagens 100% naturais, veganos e majoritariamente orgânicos. “Temos uma lista bem clara de produtos que não usamos porque, em nossa visão, são tóxicos, duvidosos ou têm versões mais limpas, corretas e sustentáveis”, explica Patrícia Lima, fundadora da marca. Para ela, é natural que consumidores preocupados com o que colocam no prato também busquem produtos clean para a pele. “Agora estamos lançando um lubrificante íntimo natural, resultado da demanda de nosso consumidor”, afirma.

B.O.B. 
Kit xampu e condicionador em barra, R$ 60 (ARQUIVO)

Um estudo da Nielsen Brasil batizado de Green Is the New Black mostrou que saudabilidade e sustentabilidade estão no topo da lista de interesses de 32% dos brasileiros. Destes, 42% priorizam produtos responsá­veis com o meio ambiente, 30% buscam ingredientes naturais e 58% não compram marcas que fazem testes em animais. Quando alguém começa a trilhar esse caminho, depara invariavelmente com questionamentos. “O que vai para o ralo depois que você usa um produto?”, perguntou-se Andreia Quércia, cofundadora da B.O.B Bars Over Bottles. Ela explica que 80% do conteúdo de uma embalagem de xampu é água. “Essa água gera peso no transporte, uso de combustíveis fósseis e conservantes para evitar a proliferação de fungos.” Como solução, a B.O.B oferece xampus e condicionadores em barra que, além de veganos, são ­cruelty free e têm 90% de ingredientes naturais.

Para Itamar Cechetto, CEO do grupo Laces, que contempla os salões Laces and Hair, Aveda Bioma Salon e o e-commerce de beleza sustentável Slow Beauty, transparência é a palavra-chave nesse nicho clean. “Antes a propaganda era a alma do negócio, agora o negócio é a alma da propaganda. A maioria de nossos produtos é 100% natural. O papel das marcas é ser transparente e trabalhar para substituir cada vez mais os ingredientes sintéticos por outros mais limpos. As pessoas estão aprendendo a ler os rótulos. Não somente dos alimentos que ingerem mas também dos produtos que aplicam”, conclui.

Acompanhe tudo sobre:higiene-pessoal-e-beleza

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025