Revista Exame

Viagem | Uma Saint-Tropez mais discreta

Em Ramatuelle não há baladas, lojas de grife nem celebridades tirando selfies. Mas, por lá, despojamento tem limite

Ramatuelle: ruas em forma de caracol evidenciam as varandas floridas e os restaurantes locais com cardápio na porta (Divulgação/Divulgação)

Ramatuelle: ruas em forma de caracol evidenciam as varandas floridas e os restaurantes locais com cardápio na porta (Divulgação/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 05h26.

Última atualização em 16 de outubro de 2019 às 10h49.

O estilista alemão Karl Lagerfeld, que morreu no começo do ano, era uma das personalidades mais incensadas do planeta fashion. Cabeleira branca, sempre de óculos escuros e luvas pretas, ele adorava badalar em Saint-Tropez em lugares concorridos, como o café Le Senequier e o tradicional Le Club 55. Mas era em Ramatuelle, a 10 quilômetros do famoso balneário, que ele gostava de se refugiar. Durante mais de dez anos, Lagerfeld alugou uma vila no La Reserve Ramatuelle, um hotel cinco estrelas que preza, principalmente, pelo atendimento discreto e pela privacidade.

Ramatuelle, uma pequena comuna de pouco mais de 3.000 habitantes, é ponto de fuga para quem quer ter uma experiência de cidadezinha francesa de interior e desfrutar belas praias, caminhadas e tranquilidade. O ar de ostentação da cidade vizinha, que recebe mais de 5 milhões de visitantes por ano, dissolve-se assim que você pisa nesse pitoresco vilarejo medieval. O coração da vila preserva a configuração original de caracol e se estende em ruas estreitas que evidenciam as varandas floridas das casas tradicionais.

Ramatuelle segue pacata e conserva a rotina de uma cidade pouco turística e ainda desconhecida para a maioria dos turistas que frequentam a região. A Côte d’Azur, o litoral do sul da França quase na divisa com a Itália, concentra algumas das praias mais famosas do mundo. Enquanto Saint-Tropez, antiga vila de pescadores que ganhou notoriedade depois que Brigitte Bardot se mudou para lá nos anos 60, tem congestionamento de iates, celebridades fazendo selfies e todas as lojas de grife lotadas, Ramatuelle não tem barcos atracados — nem sequer está à beira-mar.

A cidade foi construída nas alturas, aninhada sobre a colina de Paillas, entre os cabos Camarat e Taillat, a cerca de 130 metros de altitude. Por lá é impossível encontrar Chanel ou Dior. Não há trânsito de pessoas na rua nem disputas por um lugar privilegiado no melhor restaurante. Turistas e locais dividem o espaço e cortam as ruelas da cidade com roupas despretensiosas, de tecidos leves, como linho, e alpargatas de lona, enquanto apreciam o fim de tarde.

De fato, os centrinhos das duas cidades são bastante diferentes. Ramatuelle não pede a sofisticação de Saint-Tropez e não é reduto de compras, a não ser que você queira levar para casa uma peça de artesanato. Se a fome bater durante um passeio por Ramatuelle, basta escolher um dos pequenos restaurantes com cardápio na porta e se acomodar. O La Forge é o mais indicado pelos moradores. Com culinária italiana, abriga um pequeno terraço rodeado de flores e é famoso pelo ar caseiro. Lá, um risoto de camarão custa 26 euros; e uma massa à carbonara, 23 euros.

Compartilhar uma tradicional villa com os amigos ou com a família pode ser uma boa opção de hospedagem. O La Reserve Ramatuelle, o preferido do kaiser da moda, tem 14 vilas de três a sete quartos, com vista para o mar, piscinas privativas, decoração clean e móveis contemporâneos e modernos. Com vastas janelas, a fronteira entre o interior e o exterior desaparece. A diária na menor vila custa 4.000 euros na baixa temporada e mais de 50.000 euros por semana na alta temporada. O La Reserve também abriga um hotel com nove quartos e 19 suítes projetadas pelo arquiteto Jean-Michel Wilmotte. A diária começa em 1.050 euros para duas pessoas.

Dentro do La Reserve fica o La Voile, restaurante com uma estrela Michelin. O chef Eric Canino reinterpreta a culinária mediterrânea de forma leve e balanceada, com frutas e verduras colhidas na horta do hotel e outras hortaliças de pequenos produtores locais.

Optar pelo menu degustação, por 155 euros, pode ser a escolha certeira para experimentar os ingredientes e os sabores da região. Também no hotel os turistas podem apreciar os tratamentos da unidade local da clínica suíça Nescens Clinique de Genolier, com rituais de relaxamento e beleza a partir de 80 euros. Para quem quer se desconectar e praticar exercícios de frente para o mar, existe a opção de aulas de ioga, pilates, personal trainer e atividades aquáticas com professores especializados a partir de 140 euros. Há até um drinque famoso na casa, o Provençal Spritz, que leva na receita vermutes tradicionais franceses, suco de romã e, claro, Aperol.

A região do sul da França tem seu ápice nos meses de julho e agosto. A pé mesmo é possível curtir a praia local, L’Escalet, e arriscar-se em algum esporte aquático, como stand up paddle, caiaque e snorkeling. Para além desse ponto, é preciso usar carro. Não muito longe está a Praia de Briande. Maior do que a anterior, mantém-se relativamente vazia até mesmo na alta temporada. Com uma longa faixa de areia clara e água cristalina, cai mais no gosto dos brasileiros. Se você estiver cansado de tanta calmaria, o destino é a Praia Pampelonne, a mais agitada de Ramatuelle e com os clubes de praia mais animados.

O La Reserve à La Plage, assinado pelo arquiteto francês Philippe Starck, é o mais recente da região e opção para quem quer almoçar, aproveitar o sol e também ver e ser visto. O clube oferece um menu para compartilhar, além de aluguel de espreguiçadeira e guarda-sol (50 euros por pessoa), bar e serviço de massagem pé na areia. Por lá, o clima é mais de Saint-Tropez e menos de Ramatuelle. Afinal, estamos na Côte d’Azur, onde despojamento tem limite.

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