Dólar: pela primeira vez na história, cotação de 6 reais (Oleg Golovnev/EyeEm/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.
Última atualização em 19 de dezembro de 2024 às 07h38.
Pela primeira vez na história, a relação do dólar com o real alcançou a cotação de 6 reais, no final de novembro de 2024, um dia após o anúncio do governo sobre o pacote fiscal. O fator interno é um dos principais pontos que levaram a moeda às máximas, mas não é o único.
A reeleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos também explica a alta da moeda. Para 2025, as projeções dos principais bancos revelam que o real deve continuar depreciado em relação ao dólar.
O BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), o J.P. Morgan e o Santander projetam o câmbio no final de 2025 a 5,80 reais, enquanto o Itaú e o Banco do Brasil projetam o dólar a 5,70 reais. O Citi Brasil, por sua vez, estima 5,65 reais. Na ponta mais otimista, o Bradesco projeta 5,50 reais.*
Mas não só o real, como a maioria das moedas emergentes. Segundo o BTG Pactual, 19 das 20 principais moedas emergentes se depreciaram em novembro de 2024 após as eleições — mas, ao adicionar o fator fiscal do Brasil, o real foi a moeda que mais desvalorizou em todo o mundo.
E por que a vitória de Trump causa esse efeito no dólar? Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual Portfolio Solutions, explica que o republicano tem uma agenda que pode levar a uma maior pressão inflacionária. “Trump defende um aumento substancial nas tarifas, principalmente de produtos chineses. Hoje, eles são taxados perto dos 25% e seu projeto já fala em 60%.”
Como consequência, o preço final dos produtos industrializados será maior, já que haverá a necessidade de internalizar a produção. “Produzir nos EUA tem um custo mais alto e não tem a escala da China.” Junto com isso, Trump tem uma política imigratória muito restritiva, que tende a reduzir a força de trabalho nos EUA, o que gera aumento nos salários.
O cenário se agrava com o fato de que as pautas não terão tanta dificuldade em ser aprovadas, visto que o partido republicano levou maioria no Congresso. Logo, o esperado é que o Federal Reserve, o banco central americano, não tenha tanto espaço para cortar os juros. Com retornos mais altos nos EUA, há uma entrada de capital global e o dólar se fortalece.
Já no Brasil, o que colabora para o enfraquecimento do real é a questão fiscal. Em uma linha cronológica, o primeiro embate foi em abril deste ano, com a mudança das metas fiscais. “O governo relativizou ali o arcabouço”, comenta William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
Como resposta ao início do ruído, foi elaborado um pacote de corte de gastos. Entretanto, o mercado se decepcionou, principalmente na parte da isenção do IR para quem ganha até 5.000 reais. Era aguardado um corte e, no lugar, veio uma medida de renúncia fiscal.
Como explica Frasson, o projeto isolado não é ruim, porque ele também aumenta a progressividade tributária para quem ganha mais. Mas, ainda que o cálculo seja fiscalmente neutro, a grande questão é sobre o momento e a forma como foi anunciado.
Na visão dos especialistas, o Brasil não vive uma crise sem precedentes, mas é necessária uma mudança de posicionamento. “Não é que hoje a situação esteja insustentável, é que houve uma perda de credibilidade do governo”, afirma Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Somados à maior responsabilidade por parte do governo, números mais brandos da economia americana e um Banco Central mais firme nas próximas reuniões também poderiam colaborar para uma melhora de cenário. “Temos tentado resolver pelo lado da arrecadação desde 1988”, afirma Castro.
*Projeções entre novembro e dezembro, antes do Copom