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Escritório nunca mais? Home-office pode trazer novos desafios em 2021

O home office veio para ficar e deve levar gente qualificada para longe das firmas

 (Glenn Harvey/The New York Times)

(Glenn Harvey/The New York Times)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 05h10.

Última atualização em 19 de dezembro de 2020 às 14h52.

Antes da pandemia, crescer na carreira significava para muitos brasileiros mudar de cidade. No século 20, o emprego ditou o caminho de profissionais para norte, sul, leste e oeste no Brasil. Em 2020, tudo mudou. Devido ao isolamento social, parte da mão de obra foi para casa enfrentar os prazeres — e os percalços — do home office.

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Mesmo com a perspectiva de uma vacinação em massa já nos primeiros meses de 2021 trazer o apelo dos escritórios de volta, ao que tudo indica boa parte de quem provou o home office gostou da ideia. E mais: há quem esteja fazendo planos para morar bem longe da sede da empresa só para poder nutrir a liberdade de trabalhar de qualquer lugar.

De acordo com uma pesquisa da empresa de softwares Salesforce com 20.000 profissionais do mundo inteiro, inclusive do Brasil, 42% dos entrevistados gostariam de seguir em casa mesmo com o fim da pandemia. No Brasil, o interesse é ainda maior: 57% dos entrevistados sonham com essa possibilidade.

Expansão do home office

Com a guinada forçada para o trabalho em casa, muitas empresas estão prometendo o sonho de trabalhar de qualquer lugar — ou anywhere office, como algumas consultorias em recursos humanos vêm chamando a tendência. Trata-se de um benefício crescente nas empresas. No site Vagas.com, as oportunidades em home office total ou parcial multiplicaram por 6 desde o início da pandemia.

No entanto, esse futuro será mais certo para alguns setores, como o de tecnologia, educação e serviços empresariais. Um levantamento da consultoria McKinsey mostrou o potencial do anywhere office de acordo com o setor da economia. Entre os que lideram o ranking estão finanças e seguros, gestão e educação, setores com alta proporção de trabalhadores com ensino superior completo (ver quadro ao lado).

No fim da fila estão atividades operacionais, como construção, hotelaria e alimentação e agricultura. De acordo com a McKinsey, a capacidade de trabalhar remotamente também depende da necessidade de uso de equipamentos especializados. No site Indeed, 30% das vagas oferecidas para programadores e desenvolvedores em dezembro oferecem alguma opção de trabalho remoto.

Na visão de quem pesquisa o futuro do trabalho, o esvaziamento de áreas densamente povoadas veio para ficar. “O anywhere ­office amplia a escolha das pessoas, e elas começam a questionar a vida que querem viver”, diz Sandra Chemin, fundadora da consultoria FutureYou, que desde 2006 ajuda pessoas e empresas a se imaginar para o futuro do trabalho. De Auckland, na Nova Zelândia, Sandra atende grandes empresas brasileiras interessadas em montar times eficientes com profissionais de várias partes do globo.

Apesar de o anywhere ­office parecer quase perfeito para muita gente, há desafios. Na pesquisa da McKinsey, a consultoria destacou que algumas tarefas até podem ser feitas de maneira remota na crise, mas com o olho no olho tudo sai mais fácil. Entre elas estão treinamento, feedback, construção de relacionamentos com colegas, tomadas de decisão críticas e integração de funcionários.

“Não adianta colocar os funcionários para ficar 100% do tempo em casa, contratar pessoas de qualquer cidade, e não repensar o negócio”, diz Renato Bolzan, presidente da consultoria de inovação Invillia. Fundada no interior de São Paulo, a empresa tem 800 funcionários em 24 estados e países da Europa, África e América Latina. Antes da pandemia, 70% das equipes já trabalhavam de casa. Agora são 100%. “Existe uma questão de cultura. Não adianta dar um computador e um headphone se a empresa não tem esse DNA”, diz.

(Arte/Exame)

Questões trabalhistas
Na visão de especialistas, o principal desafio das empresas brasileiras vai ser adequar as contratações às questões trabalhistas. A reforma trabalhista aprovada no governo Temer, em 2017, definiu o que é o trabalho remoto, abrindo espaço para mais contratações desse tipo, mas deixou pontos cegos. A que sindicato o trabalhador estará vinculado? Como definir o salário? O custo da carga horária e da hora extra vai ser qual? “Ainda não há clareza na legislação para definir algumas questões”, diz Flávia Fernandes, da consultoria PwC. “As empresas precisam entender os impactos trabalhistas disso.”

Da integração dos funcionários a questões trabalhistas, o futuro do trabalho de qualquer lugar também tem impactos na dinâmica das grandes cidades. Durante a pandemia, a cidade de Nova York tinha 15.000 apartamentos alugados vazios em setembro, o maior número de vagas na história registrada. Uma pesquisa da empresa Ticket mostra que 28% dos trabalhadores brasileiros pretendem mudar de cidade caso migrem para um sistema de home office.

Na pandemia, 7% dos trabalhadores passaram algum momento em cidades turísticas, sítios e casas de parentes. Isso não deve significar, porém, uma decadência de grandes cidades. Para o economista Sérgio Firpo, do Insper, o desafio vai ser aumentar a qualidade de vida nessas regiões, que ainda deverão seguir sendo polos de geração de empregos. Resta saber se a mudança para o trabalho remoto vai trazer prosperidade para cidades menores — e um caminho sem fronteiras para profissionais.

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