Revista Exame

Trabalhar com o que se ama

A decisão de seguir ou não uma paixão deve estar ligada a dois fatores: quão bom você é naquilo que te traz satisfação (ou enxerga propósito) e quanto está disposto a se dedicar a isso

Os fundadores das big techs persistiram diante das dificuldades e, com uma dose de sorte, transformaram suas paixões em negócios de sucesso (Akinbostanci/Getty Images)

Os fundadores das big techs persistiram diante das dificuldades e, com uma dose de sorte, transformaram suas paixões em negócios de sucesso (Akinbostanci/Getty Images)

Publicado em 21 de novembro de 2024 às 06h00.

Faz sentido transformar uma paixão ou interesse em trabalho? Há sempre muito debate em torno dessa pergunta, como se as únicas respostas possíveis fossem: trabalhar com o que se ama e ser mal-remunerado, ou abdicar da realização pessoal para ganhar bem.

Pessoalmente, não acredito que essas sejam as únicas cartas na mesa. Um artigo de Paul Graham que li recentemente me mostrou que não sou o único. No texto, o programador, escritor e investidor aborda o dilema de maneira realista, mas mostrando que, em alguns casos, pode existir sim um equilíbrio entre satisfação pessoal e retorno financeiro.

Digo que o artigo é realista porque, de cara, Graham esclarece que nem sempre faz sentido trabalhar com o que se ama. E o motivo é simples: nem todos têm o privilégio de poder guiar suas escolhas profissionais exclusivamente pela paixão. Para muitos, a prioridade é garantir renda, e, nesse caso, a escolha lógica é buscar a oportunidade mais rentável.

No entanto, quando há espaço para escolha, e a pessoa já descobriu sua paixão, investir nisso pode trazer não apenas propósito, mas também sucesso financeiro. O segredo, aponta Graham, está em alinhar algo que você ama com o que o mercado valoriza.

Um exemplo clássico dessa convergência é o jogador de futebol profissional. Na maioria dos casos, o atleta é apaixonado pelo esporte desde a infância e, ao ser excepcional no que faz, constrói uma carreira altamente lucrativa. Para aqueles que não possuem o mesmo talento natural para esportes, a decisão de seguir ou não uma paixão deve estar ligada a dois fatores: quão bom você é naquilo que te traz satisfação (ou enxerga propósito) e quanto está disposto a se dedicar a isso.

No primeiro fator, quão bom você é naquilo que te traz satisfação, as pessoas apaixonadas por tecnologia largam na frente. Isso porque programação, inteligência artificial etc. são conhecimentos valorizados pelo mercado hoje. Mas “só” ter conhecimento não basta. É preciso se dedicar, ter um bom produto, ser resiliente e, mais importante, começar.

Diferentes empresas de sucesso começaram com a paixão de seus fundadores por resolver um problema. Microsoft, Apple… A lista é grande. E, em todos esses exemplos, o segundo “fator”, a dedicação, foi fundamental. Os fundadores das big techs que conhecemos hoje investiram muita energia em seus projetos. Persistiram diante das dificuldades e, com uma dose de sorte, conseguiram transformar suas paixões em negócios de sucesso.

Para aqueles que sonham em empreender, trabalhar com o que se ama pode ser, ainda, um diferencial estratégico. Aqueles que têm uma conexão genuína com seu trabalho tendem a se sentir motivados, e não desanimados, quando surgem desafios inesperados.

Mas aproveitando que falei de esporte, vou citar também Jack Clark, técnico de -Rugby que alcançou a incrível marca de vencer 90% dos jogos que disputou comandando uma equipe. Em uma entrevista ao podcast Invest Like The Best (“invista como os melhores”, numa tradução livre), Clark destacou a diferença brutal de trabalhar com alguém que ama o que faz, ou “tem amor pelo jogo”, como ele diz.

Quando a pessoa está no “jogo” por amor, seu foco não está necessariamente em se tornar uma celebridade ou acumular riquezas. Tem menos a ver com ego ou vaidade e mais com estar no seu “lugar feliz”, fazendo o que gosta. Seu trabalho passa a ser uma fonte de realização contínua.

O tenista Novak Djokovic, por exemplo, já mencionou muitas vezes que talvez seu principal diferencial na quadra de tênis seja o fato de que ele ama bater bola. Djokovic, como se sabe, é recordista em títulos de Grand Slam e também é recordista em temporadas encerradas como número 1 do mundo. Não é difícil imaginar como a lição de amor ao que faz se aplica à vida de uma startup ou mesmo de uma grande corporação.

Se você tem a oportunidade de escolher sua área de atuação e deseja empreender, o meu conselho é: comece a explorar as suas paixões quanto antes. Dessa forma, você terá grandes chances de transformar um interesse ou uma paixão em uma carreira bem-sucedida.

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