Revista Exame

Opinião: tempos difíceis exigem flexibilidade e resiliência

Especialista em gestão, Vicente Falconi responde a dúvidas dos leitores de EXAME sobre redução de custos, metodologias de análise estratégica e MBA.

 (Ilustração: Maurício Pierro/Exame)

(Ilustração: Maurício Pierro/Exame)

VF

Vicente Falconi

Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 18h00.

São Paulo — Vicente Falconi, um dos mais renomados especialistas em gestão do Brasil, responde a dúvidas dos leitores de EXAME sobre redução de custos, metodologias de análise estratégica e MBA.

1. As empresas, em geral, por causa da crise, estão usando como medida para equacionar as contas a demissão sem critério. Como fugir do corte de pessoal com sugestões para melhorar a eficiência?
Anônimo

As empresas demitem durante a crise porque estão apertadas e precisam cortar seus custos rapidamente. Na pressa, o meio mais rápido é reduzir o quadro de funcionários. Em alguns casos não há muito como fugir disso. No entanto, poderia ser diferente se a busca pela redução de desperdícios fosse uma atividade contínua, e não uma medida episódica, num momento de sufoco. Todas as pessoas da empresa deveriam aprender a encontrar suas lacunas, que são as oportunidades de ganhos nos resultados, e dominar o método de solução de problemas para eliminar desperdícios pouco a pouco.

Quando a crise chega — e todos sabemos que ela sempre chega —, a empresa já estará preparada e, por consequência, sofrerá menos. O que se vê, porém, é que as companhias em geral não calculam suas lacunas, não têm metas, não treinam seus funcionários na solução de problemas, não cobram resultados. No desespero, saem tomando medidas apressadas. Muitas vezes, os desperdícios estão escondidos ou enraizados na cultura da empresa e seria bom, em certos casos, pedir ajuda externa, de quem pode colaborar com um olhar distanciado e crítico.

2. Sou economista, tenho 47 anos, fiz MBA, atuei no exterior, sou fluente em inglês e espanhol e há mais de um ano estou sem emprego. Eu me reestruturei para atuar como consultor, sem sucesso. Como posso gerir melhor minhas ações para obter uma recolocação?
Anônimo

A taxa de desemprego no Brasil já atinge 12%, sem contar a parcela da população que desistiu de procurar um emprego e está fora das estatísticas. A situação realmente não é boa, mas estamos assistindo, com este novo governo, a uma melhora. Depois dessa palavra de ânimo, vamos à resposta à sua pergunta — que deve ser a mesma de milhões de brasileiros neste momento. Enquanto aguardamos que a solução do contexto geral venha do governo, existem algumas iniciativas que cada um pode tomar para aliviar as próprias dificuldades.

Uma delas é se desligar das amarras de sua especialização e se disponibilizar a fazer qualquer trabalho. É um primeiro passo. Outra coisa é não fazer exigências salariais. Numa situação de desespero trabalha-se em qualquer coisa até que tudo se ajeite. Não se esqueça de recorrer a seus amigos, que formam a rede de contatos que você construiu ao longo de sua vida de 47 anos. Procure cada um deles e converse sobre isso. Peça ideias. Não procure emprego. Procure trabalho e se esforce, incansavelmente, até encontrar. Quando conseguir encontrar, dê o melhor que tem a oferecer, seja lá a oportunidade que tiver pela frente.

Isso me faz lembrar de um trecho do livro O Alquimista, de Paulo Coelho, que muito me impressionou. O personagem, que se encontrava em um país estrangeiro no norte da África, havia perdido tudo que tinha e estava com fome. Subindo uma rua, viu uma loja de cristais e reparou que ela estava suja, empoeirada e sem um único cliente. Ofereceu-se para limpar a loja em troco de comida. Ao longo de alguns dias foi limpando toda a loja e todos os cristais com tal esmero, sempre sorrindo para as pessoas, que a freguesia da loja passou a aparecer e o dono lhe ofereceu um trabalho permanente. Nunca me esqueci desse trecho.

3. Estamos às voltas com um esforço para redução de equipes, mas enfrentamos a resistência de diversas áreas em definir quantas vagas poderão ser fechadas. Nem sempre é fácil achar a conta perfeita. O senhor acha que há um número ideal para a formação de equipes? Existe um número mágico de quantos funcionários devem estar abaixo de um único gerente?
Anônimo

O número de pessoas que se reportam ao mesmo chefe é chamado de “span de controle”. Costuma-se falar no número 10. Não é uma regra. É preciso fazer uma boa avaliação para saber qual é o caso. A maneira certa de fazer isso tem como base a teoria geral de sistemas: devemos avaliar os processos e a estrutura do sistema empresarial, nessa ordem. A avaliação dos processos visa eliminar ou simplificar os produtos internos e, em decorrência, simplificar os processos eliminando etapas desnecessárias, simplificando, informatizando, e por aí vai. Feito isso, é projetada a estrutura mais adequada, sempre procurando cuidar dos processos da forma mais horizontal possível. A redução das equipes decorre de um esforço técnico, e não de uma simples imposição de cota de redução.

Acompanhe tudo sobre:Avaliação de empresasCrises em empresasvagas-de-empregoVicente Falconi

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025