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Mais tempo, vínculo e crescimento

Ensino médio integral avança no Pará como modelo que melhora indicadores, fortalece relações e prepara jovens para o futuro

Álvaro Aragão de Assunção:  professor estimula os  estudantes a assumirem papéis  ativos em projetos (Tarcisio Carvalho/Divulgação)

Álvaro Aragão de Assunção: professor estimula os estudantes a assumirem papéis ativos em projetos (Tarcisio Carvalho/Divulgação)

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Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 10h00.

Em Monte Alegre, no oeste do Pará, a rotina de estudantes e professores do Colégio Presidente Fernando Henrique mostra que o ensino médio integral é muito mais que uma jornada escolar estendida. Única instituição com esse formato no município, a escola consolidou- -se como espaço de inovação pedagógica, fortalecimento de vínculos e descoberta de talentos.

O professor Álvaro Aragão de Assunção, geógrafo e mestre em formação, acompanha essa transformação de perto. Desde 2023, ministrando geografia e educação ambiental na unidade, ele destaca que o tempo amplia[1]do de estudo redefine a relação do estudante com a escola e com o mundo. “O ensino integral nos dá a chance de desenvolver projetos que mudam não só o aprendizado mas a relação do estudante com o lugar onde vive.”

Nesse modelo, os estudantes permanecem na escola das 7h30 às 16h30. Essa convivência prolongada permite um acompanhamento personalizado, sobretudo nas tutorias semanais, que tratam de conteúdos acadêmicos e aspectos socioemocionais.

O resultado aparece em números: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em alta, evasão em queda e aprovação expressiva nos vestibulares — em uma das turmas, 27 dos 30 alunos conquistaram vaga no ensino superior. “A escola de tempo integral tem, além do foco na aprendizagem e protagonismo juvenil, metodologias ativas, clubes juvenis, tutoria, construção do projeto de vida pelo aluno, for[1]mando jovens autônomos, solidários, competentes e cientes do seu papel na escola, na vida e na sociedade”, destaca Ricardo Sefer, secretário de Educação do estado do Pará.

O LAGO DO PAJUÇARA: DE PROBLEMA A OPORTUNIDADE

Mais do que notas, no entanto, o modelo integral desenvolve autonomia, autoconfiança e curiosidade. Ao assumirem papéis ativos em projetos, os jovens aprendem a pesquisar, planejar e executar, ganhando segurança para defender ideias e buscar soluções reais

Um exemplo surgiu quando um estudante relatou o assoreamento do Lago do Pajuçara. A degradação, causada pelo avanço urbano e carreamento de sedimentos nas chuvas, ameaçava um patrimônio ambiental da cidade.

Com orientação do professor Assunção e apoio do viveiro da escola, mantido em parceria com o Ideflor-Bio — que abriga 2.500 mudas de espécies nativas, como açaí e buriti —, nasceu um projeto de recuperação. Estudantes abriram berços de plantio (covas), transportaram mudas, plantaram árvores e criaram uma barreira viva contra a erosão. “O açaí cresce rápido e se adapta bem; o buriti é fundamental para áreas alagadas. Juntas, essas plantas ajudam a segurar o solo e proteger o lago”, explica Assunção.

COMUNIDADE COMO SALA DE AULA

O projeto ultrapassou os muros e mobilizou o bairro. Moradores se juntaram aos estudantes no plantio e na manutenção das mudas, reforçando questões como consciência ambiental e senso de pertencimento.

Para os jovens, foi a prova de que o conhecimento aplicado pode transformar a realidade.

A rotina passou a incluir monitoramento do crescimento das árvores, registro de dados e avaliação da paisagem. Segundo o professor, a prática desenvolve organização, colaboração e gestão de recursos — competências essenciais em qualquer trajetória, além de inspirar os estudantes a cuidar do espaço e buscar soluções concretas para os desafios da comunidade, revelando o potencial transformador do ensino médio integral no Pará.

CURIOSIDADE QUE LEVA ALÉM

A escola integral também abre espaço para explorar interesses individuais. A estudante Ranielle Vaz, por exemplo, mergulhou em pesquisas sobre o “Domo de Monte Alegre”, estrutura geológica peculiar da região. Com apoio da escola, realizou expedições, mapeamentos e apresentou resultados com rigor acadêmico. “Sem o tempo integral, dificilmente ela teria condições de explorar essa curiosidade de forma tão aprofundada”, diz Assunção. Esse tipo de experiência desperta vocações e amplia horizontes.

No início, havia desconfiança sobre o modelo. Hoje, há fila de espera para estudar na escola e crescente reconhecimento, com projetos premiados em feiras científicas. Só na última edição, 18 iniciativas foram selecionadas. Para Assunção, o resultado é claro: “Os estudantes saem mais autônomos, confiantes e conscientes do papel que têm na sociedade”.

No Pará, a expansão do modelo segue como prioridade. E, para quem vê os açaizeiros crescendo às margens do Lago do Pajuçara, fica evidente que essa mudança está gerando muito mais do que árvores: está cultivando cidadãos capazes de olhar para o mundo com curiosidade, coragem e responsabilidade.

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