Revista Exame

Tarpon faz aposta arriscada na BRF

Um terço dos 8 bilhões de reais administrados pela gestora Tarpon está aplicado em ações da gigante de alimentos BRF. É uma aposta incomum


	Tarpon: menos de 32% dos investimentos aplicados nas ações da Brasil Foods (foto)
 (Germano Lüders/EXAME.com)

Tarpon: menos de 32% dos investimentos aplicados nas ações da Brasil Foods (foto) (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2013 às 06h00.

São Paulo - Desde que abriu as portas, há 11 anos, a gestora de recursos Tarpon se esforça para seguir uma das recomendações do investidor Warren Buffett: coloque todos os ovos numa só cesta, mas acompanhe-a com cuidado.

Trata-se de uma provocação direcionada à suposta sabedoria do investimento diversificado. Em princípio, várias alocações diminuem o risco da carteira. Na prática, segundo Buffett e quem pensa como ele, o investidor que diversifica muito fica perdido e acaba no prejuízo.

No caso da Tarpon, a lógica dos poucos ovos vem sendo levada ao extremo: nada menos do que 32% dos 8,3 bilhões de reais administrados pela gestora brasileira estão aplicados em ações da gigante de alimentos Brasil Foods.

É algo sem paralelo no mercado financeiro brasileiro e um tipo de aposta com alto potencial de risco. Se tudo der certo, para usar uma célebre metáfora futebolística, os gestores da Tarpon saem como bestiais. Se der errado, saem como bestas. 

Essa grande dependência explica a recente ofensiva para mudar o conselho de administração da BRF. Aliada à Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Tarpon derrubou o presidente do conselho de administração da empresa, Nildemar Secches, e pretende substituí-lo pelo empresário Abilio Diniz.

A gestora quer que a BRF aumente sua rentabilidade vendendo mais alimentos processados de alto valor. Também pressiona por um crescimento mais acelerado, especialmente no exterior. O sucesso da BRF daqui em diante será também o sucesso da Tarpon.

Risco conhecido

A jogada na BRF vem atraindo ressalvas. Concentrações acima de 20% numa única empresa são raras. Além de BRF, a gestora tem 16% do patrimônio aplicado nas ações da siderúrgica Gerdau. “Pouquíssimos fundos de ações no mercado brasileiro têm mais de 15% de seus recursos num só papel”, afirma o professor William Eid, da Fundação Getulio Vargas. Internacionalmente, a concentração de investimentos é comum quando está em jogo o dinheiro dos próprios gestores, e não o de terceiros.

Um grande problema oriundo da concentração é a dificuldade de saída em caso de resgates. A participação da Tarpon na BRF corresponde a 25 dias de negociação do papel na bolsa.

A da metalúrgica Gerdau, a no mínimo 52 dias. Além disso, a gestora controla uma empresa cujas ações são pouquíssimo negociadas: a fabricante de materiais hospitalares Cremer. Seguindo a mesma estratégia adotada na BRF, a Tarpon uniu-se a outros acionistas minoritários da Cremer para mudar o comando da empresa. Hoje, tem 51% das ações. Também nesse caso, uma eventual saída não será tarefa simples.


Esse tipo de atuação não é novidade para os sócios da Tarpon. Fundada em 2002, a gestora já passou por maus bocados, e seus sócios afirmam ter aprendido com eles. O patrimônio inicial veio de amigos e familiares de José Carlos de Magalhães (conhecido como Zeca) e Pedro de Andrade Faria. Ex-colegas no banco Patrimônio, ambos tinham cerca de 25 anos quando abriram o negócio e vêm de famílias com tradição no mercado financeiro.

No início, os fundos da Tarpon eram distribuídos para pessoas físicas por meio da gestora de recursos Hedging-Griffo, e em 2005 sofreram uma onda de resgates depois de um período de perdas. Grande parte dos recursos estava em ações da siderúrgica Acesita.

“Naquele momento, o modelo entrou em xeque e decidimos buscar investidores mais afinados com nossa estratégia”, explica Eduardo Mufarej, que entrou na Tarpon em 2004.

Mufarej dirige o escritório em Nova York, montado exclusivamente para captar recursos de investidores estrangeiros de longo prazo. Hoje, 70% do total administrado é de fundos de universidades americanas, fundos soberanos ou de pensão. Outros 11% podem ser considerados capital próprio: dinheiro dos sócios e de funcionários.

Desde o ano passado, mais da metade do dinheiro está alocada na divisão Tarpon Partners, que exige de seus investidores prazo de até três anos para resgatar. “Podemos ficar na BRF por mais 20 ou 30 anos”, diz o sócio Pedro Faria, conselheiro da empresa. 

Depois do susto com a Acesita, a Tarpon só conseguiu recursos de investidores tão grandes no exterior mostrando resultado. Seu rendimento médio anual em dólares desde 2002 é de 30%,  acima dos 21% do índice Bovespa no período. É claro que nem sempre a Tarpon acertou: perdeu dinheiro algumas vezes, como nas participações na Coteminas e na Celesc.

O mercado parece confiar  na capacidade de entrega da Tarpon: desde que a gestora abriu o capital, em 2009, suas ações subiram 1 200%, muito acima dos 9% do índice Bovespa. É uma vantagem abissal sobre outras gestoras com capital na bolsa, como a GP, que administra fundos de private equity. Os papéis da GP caíram 37% desde 2006, enquanto o Ibovespa subiu 55%.

Desde que a Tarpon começou a comprar ações da Sadia, em 2008, antes da fusão com a Perdigão, os papéis subiram mais de 200%. A empresa vale hoje em bolsa o equivalente a 20 vezes seu lucro anual, patamar considerado alto. Só mesmo um salto de desempenho da companhia com a nova estratégia poderá valorizar as ações e levar os fundos da Tarpon ao desempenho desejado por seus investidores.

Há uma considerável batalha à frente para que isso aconteça. A Petros, uma das maiores acionistas da BRF, resiste a Diniz na presidência, criando um conflito potencial com a Tarpon.

A indicação do empresário pode também provocar uma batalha judicial com o Casino, seu sócio majoritário no Pão de Açúcar. Em jogo, o futuro de uma das maiores multinacionais brasileiras. E da cesta de ovos da Tarpon também.

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