Revista Exame

Só o Rock in Rio se salva entre os festivais?

A próxima edição do festival, que vai ocorrer em setembro, bateu recorde de receita. Enquanto isso, seus concorrentes lutam para ganhar dinheiro no setor


	Stevie Wonder no Rock in Rio 2011: venda de óculos, camisetas e até um carro com a marca do evento
 (Creative Commons)

Stevie Wonder no Rock in Rio 2011: venda de óculos, camisetas e até um carro com a marca do evento (Creative Commons)

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Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2013 às 08h00.

São Paulo - Em apenas 4 horas, todos os ingressos para a edição deste ano do Rock in Rio, que ocorrerá em setembro, acabaram. Quase meio milhão de tíquetes do festival foram vendidos no dia 4 de abril pela internet, num site que chegou a ter mais de 2 milhões de acessos. Seis meses antes, 80 000 passaportes, que permitem a entrada em qualquer dia do evento, foram vendidos em menos de 1 hora.

Desde que o empresário Roberto Medina trouxe o festival de música de volta ao Rio de Janeiro, em 2011, após um hiato de dez anos em que ele ocorreu apenas fora do país, não falta demanda para assistir à maratona de shows que, neste ano, vai se estender por sete dias.

Espera-se que as receitas do evento, sem contar a venda de ingressos, cheguem a 110 milhões de reais, somados patrocínio, direitos de transmissão e licenciamento de 600 produtos, entre camisetas, canecas, óculos, fones de ouvido, eletroeletrônicos, esmaltes e até uma edição especial do Fox, carro fabricado pela Volkswagen. Estima-se que o valor seja 50% maior do que o da última edição do festival. 

O ano da volta do Rock in Rio ao Brasil marcou o auge da euforia com o mercado de entretenimento no país. Animados com o crescimento da renda, diversos empresários investiram pesado no setor. A Time for Fun, que acaba de fechar um contrato para passar a realizar o festival de música Lollapalooza, abriu o capital na bolsa paulista e captou 539 milhões de reais em abril de 2011.

Em agosto do mesmo ano, o grupo publicitário ABC, de Nizan Guanaes, tornou independente a XYZ Live, sua divisão de eventos. Logo depois, a multinacional IMG Worldwide­ e o então bilionário Eike Batista criaram a empresa de entretenimento IMX. As Organizações Globo também investiram na área por meio de uma subsidiária, a Geo Eventos. “Fiquei espantado quando voltei ao Brasil. Era euforia demais”, diz Medina.

Mas tem sido difícil replicar o sucesso de Medina. Com o aumento da concorrência, vender ingressos se tornou um problema. Para evitar a sobra de lugares num dos shows da cantora Madonna em São Paulo, no ano passado, os organizadores reduziram os preços dos tíquetes para a pista quase à metade.

Além disso, com mais gente no mercado competindo pelas mesmas casas de espetáculos e pelos poucos fornecedores da infraestrutura necessária para realizar um show, os custos aumentaram. Em média, o aluguel de uma arena para 8 000 pessoas custa 60 000 dólares, quase duas vezes mais que nos Estados Unidos. Embora o preço dos ingressos seja mais alto por aqui, isso não tem sido suficiente para melhorar o resultado das empresas. 

O faturamento da Time for Fun, única companhia do setor que publica balanços, por ter capital aberto, diminuiu 30% no primeiro semestre deste ano em razão da queda das receitas com shows. Apesar de ter voltado ao azul no segundo trimestre graças à realização de outros tipos de evento, especialmente espetáculos de teatro, musicais e do Cirque du Soleil, a empresa acumula um prejuízo de 4,5 milhões de reais em 2013.


A Globo está revendo a estratégia da Geo Eventos, que, segundo profissionais de mercado, está demitindo e encerrando contratos. Em maio, o presidente, Leonardo Ganem, deixou o cargo (procurados, os executivos da Geo não deram entrevista).

“Os custos estão muito altos e vendemos quase 90% dos ingressos pela metade do preço para estudantes. É difícil fechar a conta”, diz Bazinho Ferraz, presidente da XYZ Live, que vai trazer as turnês das bandas de rock Aerosmith e Alice in Chains ao Brasil.

A empresa está no azul porque conta com outras receitas além dos shows — entre elas as de uma subsi­diária que vende ingressos para outras companhias do setor e as geradas por gerenciamento esportivo. Apostar em esportes também é a estratégia da IMX — que, segundo seu presidente, Alan Adler, atingiu o azul neste ano. “É possível que haja uma consolidação de empresas do setor”, diz ele. 

A situação do Rock in Rio é bem diferente. Medina não divulga os números, mas profissionais do mercado dizem que o lucro aumenta a cada ano. A maior parte das receitas vem de patrocínios, direitos de transmissão e licenciamentos. Neste ano, o número de produtos com a marca Rock in Rio aumentou 71%.

De acordo com Medina, a venda desses produtos deve somar, ao todo, 4 bilhões de reais, o dobro do volume da edição de 2011. “O negócio dá dinheiro porque há uma cuidadosa estratégia de valorização da marca para mantê-la na cabeça do público mesmo quando não há shows”, diz o professor Rodrigo Carvalho, especializado em negócios de entretenimento na faculdade ESPM do Rio de Janeiro.

Também conta a favor o fato de o Rock in Rio ser o festival de música mais antigo do país — a primeira edição ocorreu em 1985. Dezesseis anos depois, quando desistiu de realizar o evento no Brasil, porque a alta do dólar havia encarecido demais o preço dos ingressos e o cachê dos artistas, Medina levou os ­shows a outros dois países — primeiro Portugal, depois Espanha —, mas continuou fazendo propaganda aqui.

O empresário também controla boa parte dos detalhes do festival, da qualidade do som ao preço da comida. “Alguns eventos não dão certo porque são caros demais”, diz. O ingresso para a pista custa 260 reais, valor próximo ao cobrado para assistir a uma apresentação de Madonna em 2012 — mas, no Rock in Rio, o tíquete dá direito a 15 shows. O difícil é conseguir comprar.

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