Marissa Mayer: três anos de transformações no Yahoo!, mas o resultado ainda é incerto (Google/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2015 às 09h33.
São Paulo — Leia um trecho inédito do livro "Marissa Mayer — A CEO que revolucionou o Yahoo!", de Nicholas Carlson, que descreve os esforços e os erros da executiva mais badalada do Vale do Silício para reinventar o Yahoo!:
"Não existe ninguém como Marissa Mayer. Em 2012, aos 37 anos, estava casada, grávida, era engenheira e, de repente, a presidente do Yahoo!, empresa de 30 bilhões de dólares. Com cabelos loiros, olhos azuis e um estilo glamouroso, parece mais uma bela atriz de Hollywood.
Com frequência, é protagonista de reportagens em revistas de moda, que a amam por causa de sua paixão pelo estilista Oscar de la Renta e sua feminilidade. Para o grande público, a vida profissional de Marissa antes do Yahoo! — toda dedicada ao Google — é lembrada como uma sequência de sucessos. Só que a realidade não foi bem assim.
Marissa teve um começo espetacular no Google. Desenhou sua página inicial, criou sua estrutura de gerenciamento de produtos, tornou-se a cara da companhia. Era uma das pessoas mais poderosas em uma das empresas mais poderosas. Então, de repente, depois de perder uma briga por um alto cargo, não era mais. E logo estava saindo de lá.
Quando entrou no Yahoo!, o momento não poderia ter sido mais oportuno. Chegou logo antes de o preço das ações do Yahoo! começar a disparar porque a empresa era dona de um pedaço do Alibaba, gigante chinesa da internet que estava se preparando para lançar ações na bolsa americana. Ao iniciar no novo emprego, Marissa foi recebida como uma super-heroína.
Confiante e cheia de ideias, era considerada a pessoa certa para a missão. A lua de mel começou nos primeiros dias, quando pôsteres com a palavra ‘Esperança’ apareceram em todas as paredes da companhia. A euforia atingiu o auge quando novos produtos ou produtos repaginados foram lançados com grande sucesso de público.
Mas, em virtude de uma série de erros cometidos por Marissa e de problemas inerentes ao Yahoo!, depois de algum tempo ela mesma se deu conta de que tinha comprado uma briga feia e demorada. Na virada de 2013 para 2014, Marissa refletiu sobre seus primeiros 18 meses no Yahoo! Tinha começado com um pique considerável.
Pusera a cultura da organização em ordem e aumentara a transparência das decisões do alto comando. A alimentação e os celulares de graça melhoraram o moral. A proibição de trabalhar em casa aumentou a produtividade. A empresa repaginou e desenvolveu toda a sua linha de produtos e chegou a receber um prêmio da Apple.
Comprou o Tumblr, uma plataforma de publicação de blogs. Evitou demissões em grande escala. Dava a sensação de que iria facilmente pôr a companhia em ordem após a abertura do capital do Alibaba, quando o Yahoo! voltaria a ser avaliado unicamente por seu desempenho. Mas então começaram as dificuldades.
O moral dos funcionários voltou a ficar abalado. Não foi registrado aumento de receita. Apesar de suas bravatas iniciais, a participação da empresa no mercado de buscas continuava encolhendo rapidamente. Não havia nenhum novo produto de sucesso. O Yahoo Mail estava desmoronando. Mais do que nunca, a pergunta que todos se faziam era: será que Marissa conseguirá salvar o Yahoo!?
A verdade é que talvez ninguém, por mais que tenha talento, conseguirá salvar o Yahoo! Em seus primeiros anos, a web era difícil de usar, e a empresa tornou-se famosa por facilitar essa tarefa. Foi por isso que o Yahoo! virou sinônimo de internet. Mas, nos anos seguintes, a web foi inundada por injeções de capital e infinitas soluções para infinitos problemas e, com isso, a necessidade de usar o Yahoo! minguou.
De lá para cá, a companhia não encontrou mais seu propósito: não sabe o que só ela, e mais ninguém, pode fazer. No seu primeiro dia na empresa, Marissa tentou levar o Yahoo! ‘de volta para o futuro’ e recuperar o propósito original. Achava que a internet móvel nas primeiras versões era difícil de usar e que o Yahoo! poderia voltar a fazer a diferença. Mas, infelizmente para Marissa, a Apple solucionou o problema com o iPhone, e o Google, com o Android.
Embora o contexto seja complicado, o Yahoo! também tem sofrido por causa da incapacidade de Marissa em recrutar executivos de talento. Muitas vezes, as pessoas conseguem ocupar altos cargos no Yahoo! não porque Marissa foi atrás delas, mas porque elas foram atrás de Marissa e venderam bem seu peixe.
Essa incapacidade pode ter relação com sua dificuldade de estabelecer uma conexão com seus pares. Valendo 600 milhões de dólares e considerada uma das executivas mais famosas do mundo, Marissa continua sendo muito tímida. Só se abre totalmente com uns poucos jovens interlocutores nos quais confia.
Apesar de todos esses fatores, ainda é cedo para decretar o fim de Marissa no Yahoo! O Tumblr está crescendo. O número de usuários de celular do Yahoo! também. Marissa continua confiante. No ano passado, fez um balanço com seus funcionários: ‘Quando entrei no Yahoo!, me disseram que tínhamos um aplicativo para celular premiado.
De fato, era ótimo. Mas, quando me informei mais a respeito, descobri que ele tinha apenas 12 000 downloads. Tínhamos outro lindo aplicativo chamado TimeTraveler, que era realmente sensacional, mas que também contava com poucos usuários. Hoje, nossa divisão responsável pela área de mobiles conta com quase 600 profissionais. Temos vários aplicativos que milhões de pessoas usam todos os dias. Temos alguns aplicativos com dezenas de milhões de usuários.
Temos três aplicativos entre os Top 100 da Apple: o Yahoo Mail, o Yahoo! e o Tumblr. Antes não tínhamos nenhum. Mas a verdadeira moral da história é que, quando nós, do Yahoo!, nos dedicamos a alguma coisa, ela com certeza acontece. Quando nós, como empresa, nos empenhamos, conseguimos realizar nossos projetos com muita rapidez’. Tudo isso faz sentido.
Olhando para a frente, o Yahoo! ainda pode lançar um produto tão revolucionário quanto o iPod, que não chegou ao mercado senão cinco anos depois de Steve Jobs estar de volta à Apple. Com sua enorme competência técnica e suprema confiança, Marissa toma decisões muito rápidas. Se conseguir continuar aprendendo com seus erros, o Yahoo! poderá repetir seu feito histórico e descobrir um novo megassucesso.
Mas, se Marissa perder a batalha, será mais um talento extraordinário a aumentar a lista de ex-presidentes do Yahoo! Sue Decker era considerada uma das diretoras financeiras mais confiáveis de Wall Street. Carol Bartz assumiu a direção da cambaleante Autodesk, deu um chute no traseiro de seu adorado fundador e transformou a companhia em uma máquina de crescimento. Todas foram contratações amplamente elogiadas. E todas fracassaram. Marissa pode ter o mesmo fim."