Operadores na Bovespa: os analistas estão otimistas com as ações das exportadoras, que lucraram mais (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 19h08.
São Paulo - "Os períodos de grande valorização das bolsas começam quando os investidores estão pessimistas, ganham força quando eles ficam céticos, se consolidam quando se tornam otimistas e acabam quando há euforia.”
A frase foi dita pelo bilionário John Templeton, um dos maiores investidores americanos, que morreu pouco antes da crise de 2008. É fácil encontrar investidores que concordem com ele, mas é dificílimo achar quem faça isso na prática. Em geral, quanto mais as bolsas caem, mais os acionistas ficam tentados a vender suas ações.
A razão é compreensível: ninguém sabe até quando um cenário ruim pode piorar, e como isso pode afetar o valor de mercado das empresas. É o que está ocorrendo hoje na bolsa brasileira. O Ibovespa praticamente só caiu nos últimos três anos, e a maioria das análises indica que há papéis baratos nos pregões e que o pessimismo foi exagerado.
O problema é que muita gente também dizia isso no começo de 2013 — e, de lá para cá, o Ibovespa desvalorizou 16%, a maior baixa entre as principais bolsas do mundo. Agora é para valer? O barato vai ficar caro ou ainda mais barato (de novo)?
Ainda que o Ibovespa tenha ido mal de 2010 para cá, algumas ações dobraram de preço. Foi o que aconteceu com algumas empresas de consumo de 2010 a 2012, beneficiadas pelo aumento da renda e do crédito — de lá para cá, as vendas internas desaceleraram, e o índice que reúne os papéis das principais companhias desse setor caiu 8%.
Já as ações de exportadoras e produtoras de commodities foram mal nesse período, em razão do menor crescimento da economia mundial e da desaceleração da China. Agora o cenário se inverteu.
Com o início de recuperação nos países ricos, os analistas estão otimistas com companhias que vendem para o exterior, como as siderúrgicas Gerdau e Usiminas, a mineradora Vale e a fabricante de papel e celulose Suzano. A valorização do dólar, que eleva o preço das exportações brasileiras em reais, já contribuiu para melhorar os resultados dessas empresas.
Segundo um levantamento da corretora do banco americano Citi, o lucro das exportadoras e das produtoras de commodities que fazem parte do Ibovespa subiu de 70% a 136%, em média, no terceiro trimestre de 2013. Já o lucro das companhias de consumo caiu 21%.
Assim, a lista das ações mais indicadas para este ano por 30 das principais corretoras do país, publicada nas páginas a seguir, inclui, claro, as exportadoras e empresas de commodities. A exceção é a Petrobras. A cada ano, EXAME publica o ranking de ações indicadas por analistas no especial Onde Investir. E é a primeira vez desde 2006 que a petroleira estatal fica de fora.
O mercado, aparentemente, cansou de confiar numa recuperação do valor de mercado da Petrobras, que caiu pela metade em quatro anos. Como não pode reajustar os combustíveis quando o preço do petróleo sobe no exterior, a Petrobras perdeu cerca de 60 bilhões de reais em geração de caixa somente de 2010 para cá, segundo cálculos do Bradesco.
Na lista de ações recomendadas para 2014 também há papéis de empresas voltadas para o mercado doméstico: os analistas escolheram companhias notoriamente rentáveis, como a seguradora BB Seguridade, e que estejam passando por mudanças internas, como a fabricante de alimentos BRF.
A lista completa pode ser lida nas próximas quatro páginas. Há, claro, riscos que precisam ser monitorados, como é destacado a seguir. O que ocorreu com a carteira de indicações de 2013? As ações subiram, em média, 1,5% desde a data de publicação, 31 de janeiro, até dezembro. Foi um desempenho muito melhor do que o do Ibovespa, que caiu 13%, mas inferior ao do CDI, que ficou em 7,5% no período.
1 Vale (VALE5)
Setor: mineração
Por que foi indicada: a ação caiu 15% no ano passado, em parte por causa de uma disputa bilionária com a Receita Federal. A Vale perdeu e fechou um acordo para parcelar a dívida de 22 bilhões de reais em 15 anos (com pagamento inicial de 6 bilhões de reais). A boa notícia é que o acordo eliminou incertezas sobre a situação financeira da empresa. A maioria dos analistas espera que o preço do minério de ferro, principal produto da companhia, suba levemente neste ano, o que pode ajudar. Além disso, a desvalorização do real torna as exportações mais baratas.
Atenção se: a expectativa de crescimento da economia chinesa for reduzida a menos de 7%. Em 2013, 40% das receitas da Vale vieram de exportações para a China.
Risco: médio
19 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
2 Ambev (ABEV3)
Setor: bebidas
Por que foi indicada: o ano passado não foi dos melhores para a Ambev. Com a redução do consumo de cerveja, as vendas e o lucro caíram 3% de janeiro a setembro. A ação desvalorizou 7% em 12 meses, mas os analistas acreditam em recuperação, especialmente por causa da Copa do Mundo, que deve elevar a venda de bebidas. A empresa é uma boa pagadora de dividendos, o que torna as ações atraentes em momentos de crise.
Atenção se: o governo aumentar o imposto para bebidas alcoólicas, como prometido, e as vendas durante a Copa do Mundo decepcionarem.
Risco: médio
18 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
3 Itaú (ITUB4)
Setor: bancos
Por que foi indicada: depois de promover uma reorganização interna no ano passado, o banco completou a integração com o Unibanco. A expectativa é de aumento da rentabilidade, que já voltou a ser a mais alta do setor. Depois de sofrer com a alta da inadimplência entre o fim de 2012 e o início de 2013, o banco limpou suas carteiras de crédito, reduziu o ritmo de empréstimos e voltou a ficar com indicadores confortáveis.
Atenção se: a inadimplência voltar a subir e se a previsão para o crescimento da economia cair para menos de 1,5%, o que reduziria o apetite por crédito.
Risco: médio
15 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
4 Gerdau (GGBR4)
Setor: siderurgia
Por que foi indicada: com fábricas nos Estados Unidos, a empresa se beneficia da recuperação da economia americana. Além disso, a demanda no Brasil, especialmente para obras de infraestrutura, continua elevada. Os analistas esperam que investimentos recentes elevem a produção da mina de ferro da companhia, diminuindo os custos de produção de aço.
Atenção se: a previsão para o crescimento do PIB dos Estados Unidos ficar abaixo de 2,5% e se a China desacelerar além do esperado. Isso faria sobrar aço no mercado, o que reduziria seu preço.
Risco: alto
11 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
5 BB Seguridade (BBSE3)
Setor: seguros
Por que foi indicada: as ações da subsidiária de seguros do Banco do Brasil subiram 40% desde a abertura de capital em abril de 2013. Os analistas acham que há espaço para novas altas porque as vendas de seguros no país continuam crescendo a taxas de 2 dígitos. A margem de lucro da empresa é a mais alta entre as principais seguradoras do mundo porque suas vendas são feitas nas agências do BB, que cobra pouco pelo serviço.
Atenção se: o desemprego aumentar, o que poderia reduzir a demanda por seguros, ou se o contrato de venda pelas agências do BB for revisto — com isso, a margem de lucro cairia.
Risco: médio
10 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
6 BRF (BRFS3)
Setor: alimentos e bebidas
Por que foi indicada: as ações da empresa, que subiram 18% no ano passado, não estão baratas. Mas é grande a expectativa com a nova gestão que assumiu em 2013 e prometeu cortar 1,9 bilhão de reais em custos até 2016 e aumentar a venda de produtos de maior valor agregado, como pratos congelados, no Brasil e no exterior.
Atenção se: os resultados voltarem a piorar e se o preço da soja e o do milho subirem, o que aumenta o valor das rações para animais que a empresa compra.
Risco: alto
9 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
7 Suzano (SUZB5)
Setor: papel e celulose
Por que foi indicada: a companhia está resolvendo seu principal problema: o endividamento. A previsão é que a dívida caia de cinco para três vezes a geração de caixa, como reflexo da redução de despesas, da captação de recursos via uma oferta de ações em 2013 e do fim dos investimentos em sua maior fábrica, no Maranhão. Além disso, o preço da celulose está subindo, com a maior demanda na Europa e nos Estados Unidos.
Atenção se: a evolução da produção na fábrica do Maranhão ficar abaixo do esperado e se houver um aumento brusco da oferta de celulose no mercado mundial, o que reduziria seu preço.
Risco: alto
8 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
8 Cemig (CMIG4)
Setor: energia elétrica
Por que foi indicada: as novas regras para o setor de energia — que levaram a maioria das ações do setor a cair em 2013 — só terão impacto nos resultados da Cemig a partir de 2015, quando ela terá de renovar suas concessões. Segundo os analistas, a companhia tem tempo e caixa para planejar a transição. Vista como uma das empresas mais bem administradas desse mercado, a Cemig é pouco endividada e paga dividendos elevados.
Atenção se: o nível de água nos reservatórios cair, reduzindo a geração. Isso obrigaria a empresa a comprar energia mais cara para garantir o abastecimento.
Risco: médio
5 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
9 Multiplus (MPLU3)
Setor: serviços
Por que foi indicada: A empresa, que administra programas de fidelidade e é controlada pela companhia aérea TAM, cresce com o aumento do uso de cartões de crédito (porque o valor das compras é transformado em pontos nesses programas). Tem 12 milhões de usuários, 13% mais do que em 2012, e suas ações estão mais baratas do que as de sua principal concorrente, a Smiles.
Atenção se: os bancos renegociarem novamente as taxas para transferir os pontos acumulados por seus clientes à Multiplus, o que poderia reduzir outra vez sua margem de lucro.
Risco: alto
5 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014
10 Telefônica (VIVT4)
Setor: telecomunicações
Por que foi indicada: Líder do mercado de telefonia móvel, com 77 milhões de clientes, a Telefônica tem distribuído dividendos altos, em torno de 10% do preço da ação. Os analistas esperam que a demanda por serviços de internet continue crescendo e que a Vivo venda mais assinaturas de TV (sua participação nesse segmento é de apenas 3,3%).
Atenção se: a empresa deixar de cumprir alguma meta estabelecida pela Anatel, que regula o setor, o que poderia resultar em multas.
Risco: médio
5 analistas recomendaram a ação como uma de suas principais apostas para 2014