Donald Trump: os analistas não acreditam em nova disparada do dólar (Kevin Lamarque/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2018 às 05h00.
Última atualização em 24 de maio de 2018 às 05h00.
Depois da alta surpreendente do dólar nas últimas semanas, os analistas têm recomendado cautela antes de sair comprando dólares ou investindo em fundos cambiais. Há duas explicações principais para a apreciação do dólar: as incertezas provocadas pelas eleições no Brasil e a elevação dos juros nos Estados Unidos, o que atrai mais recursos para o país presidido por Donald Trump. O dólar pode subir mais, puxado por essas duas forças. Mas a chance de ganhar dinheiro com isso diminuiu, de acordo com especialistas. “A moeda já valorizou bastante. Nesse patamar, teria muitas dúvidas em comprar dólares”, diz José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, uma das cinco instituições financeiras que mais acertaram projeções para o câmbio em 2017 e neste ano, segundo um ranking do Banco Central. A previsão média dos analistas consultados pelo BC indica que o dólar fechará o ano em 3,43 reais. “Hoje, há opções mais interessantes na renda fixa do que em aplicações ligadas ao câmbio”, diz Ricardo Braga, responsável pela área de investimentos do banco Andbank no Brasil. Depois que o BC decidiu manter os juros em 6,5% ao ano — outra surpresa dos últimos dias, já que a maioria dos analistas esperava um corte para 6,25% —, o rendimento oferecido pelos títulos públicos aumentou. Os papéis prefixados com vencimento em 2021, por exemplo, passaram a pagar 8,8% ao ano (no começo de maio, a taxa estava em 7,9%). Já o retorno oferecido pelos títulos atrelados à inflação que vencem a partir de 2035 subiu para 5,6%, além da variação do IPCA. “Para quem tem objetivos de médio e longo prazo, essa é uma janela de investimento atrativa”, afirma Roberto Indech, analista-chefe da corretora Rico.
PARA LEMBRAR
CDB
Com a queda dos juros, os bancos pequenos e médios têm aumentado
a rentabilidade de seus CDBs para tentar atrair investidores. Papéis com vencimento em até dois anos e aplicação mínima de 10 000 reais têm rendido 127% do CDI, em média, segundo dados compilados pelo aplicativo Renda Fixa com 30 bancos. Um ano atrás, a média estava em 116% do CDI. O retorno final do investidor é menor hoje porque os juros estão mais baixos, mas, dadas as alternativas atuais da renda fixa, esses CDBs são vistos como boas opções para quem pretende deixar o dinheiro aplicado por até dois anos.
ATENÇÃO
RAIADROGASIL
Depois de valorizarem quase 280% nos últimos três anos, as ações da rede de farmácias RaiaDrogasil caíram 25% em 2018. O resultado do primeiro trimestre ficou abaixo das expectativas. As vendas em lojas maduras, abertas há três anos ou mais, recuaram 1%. A justificativa da empresa é que, com a melhora, ainda que lenta, da economia, o consumo migrou das drogarias para outros setores do varejo. Apenas seis dos 18 analistas que acompanham a empresa sugerem comprar suas ações, de acordo
com a empresa de informações financeiras Thomson Reuters.
AÇÕES
INCERTEZA NA PETROBRAS
A decisão da Petrobras de reduzir o preço do diesel e da gasolina, tomada no último dia 22, levantou dúvidas sobre o futuro da política de reajustes da estatal. Pedro Parente, presidente da companhia, garantiu que a decisão foi técnica e motivada pela desvalorização do dólar, o que reduziu o preço do petróleo no mercado interno. Mas analistas e investidores reagiram com ceticismo — para muitos, o corte aconteceu por pressão do governo (Parente foi chamado para uma reunião com ministros no dia 22). As ações da Petrobras, que haviam subido quase 60% no ano até a sexta-feira 18 de maio, caíram nos dias 21 e 22 (no dia 21, teve início um protesto nacional de caminhoneiros contra o aumento do preço do diesel). Gestores ouvidos por EXAME dizem que o risco de investir nas ações da empresa cresceu. “O cenário é favorável para a Petrobras, porque o preço do petróleo tende a continuar subindo no exterior, com a elevação dos riscos no Oriente Médio e as dúvidas sobre a Venezuela. Mas, para ganhar com isso, a empresa precisa ficar livre de ingerência política”, diz Wagner Salaverry, sócio da gestora Quantitas.
ABERTURA DE CAPITAL
ACIMA DA MÉDIA
As ações das três empresas que abriram o capital neste ano, todas em abril, estão se saindo melhor do que o Ibovespa desde que começaram a ser negociadas — mas há casos e casos. Os papéis das operadoras de planos de saúde Hapvida e Notre Dame Intermédica tiveram desempenho praticamente igual desde a estreia: subiram pouco mais de 25% até meados de maio. Os do banco Inter recuaram 0,3%, menos que os 3,9% do Ibovespa no período. As ações do banco estavam subindo até ser divulgada a suspeita de que os dados de milhares de clientes vazaram na internet (o banco nega). Há mais duas ofertas de ações programadas para os próximos meses, do banco digital Agibank e da Bunge Açúcar e Bioenergia.
ENTREVISTA
A quebra do banco que atuava em parceria com a fintech Neon, que vende contas digitais e cartões, deixou os clientes de startups financeiras com o pé atrás. Guilherme Horn, líder de inovação da consultoria Accenture, diz por que não vê razão para alarmismo.
Quais são os riscos de usar os serviços de uma fintech?
Não são diferentes dos riscos de usar um banco. É preciso critério na hora de escolher com que instituição se relacionar. Hoje, o que faz uma marca ser desejada são a qualidade do aplicativo e a velocidade do atendimento. Mas ficou claro que, no setor financeiro, é preciso se preocupar com solidez e confiança.
Faltou critério no caso do Neon?
A principal lição do caso Neon fica para os empreendedores que estão montando fintechs. Eles precisam escolher bem seus parceiros. Mas foi um caso infeliz que não deve servir de parâmetro.
Fintechs como a Neon operam em parceria com instituições financeiras. Isso é claro para os clientes?
É algo transparente, mas os clientes nem sempre se dão conta dessa estrutura. E, às vezes, isso não é relevante. Quem recebe um crédito em uma fintech tem uma relação de devedor com ela. Se a instituição quebrar, o cliente não será prejudicado nessa relação. A situação é diferente no caso das fintechs de investimento. Não por serem fintechs, mas porque é preciso conhecer onde se aplica o dinheiro em qualquer situação, numa startup ou num banco tradicional.
PESQUISA
SE É PARA CORRER RISCO…
Os brasileiros estão começando a estudar maneiras de diversificar seus investimentos para tentar conseguir rendimentos melhores do que a renda fixa, agora que os juros caíram. Uma pesquisa feita pela empresa de análise de investimentos Empiricus, ainda inédita, mostra que os investidores pretendem aplicar mais em investimentos de maior risco nos próximos 12 meses. Faz sentido. O problema são as alternativas mais desejadas pelos entrevistados: as moedas virtuais e o dólar, duas opções bastante voláteis, estão no topo da lista. Mais de 7 600 pessoas participaram do levantamento, a maior parte clientes da Empiricus — que, por já serem investidores, arriscam mais do que a média dos brasileiros. O principal objetivo deles ao investir é acumular recursos e se preparar para a aposentadoria.