Revista Exame

Executivos e executivas estão com salário quase igual

Elas ainda são minoria absoluta no topo. Mas, quando se compara a remuneração de homens e mulheres nas mesmas companhias no Brasil, a diferença salarial praticamente não existe

Marise (de preto) e as diretoras da Masisa: as primeiras mulheres a chegar ao topo (Germano Lüders/EXAME.com)

Marise (de preto) e as diretoras da Masisa: as primeiras mulheres a chegar ao topo (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2013 às 06h00.

São Paulo - A fluminense Marise Barroso quebrou uma tradição de quase duas décadas ao assumir a presidência da fabricante de painéis de madeira Masisa em março de 2012. Nenhuma outra mulher havia ocupado uma diretoria na subsidiária, criada em 1995. Desde então, muita coisa mudou.

Hoje, além de quatro homens, quatro mulheres se reportam diretamente a Marise — todas contratadas recentemente no mercado. Mara Pezzotti assumiu a diretoria de marketing e inovação, Patrícia Pires, a de capital humano, Angela Bastos, a diretoria jurídica, e Yazmin Trejos, a recém-criada área de comunicação e sustentabilidade.

A mudança se deu num ano especialmente turbulento para a companhia. Mas, mesmo após um acidente que paralisou uma de suas duas fábricas no Brasil por três meses, as receitas da Masisa Brasil cresceram 4,5% em 2012 e chegaram a 500 milhões de reais.

A previsão é crescer 11% em 2013. “Ninguém estipulou cotas”, afirma Marise. “Apenas consideramos mulheres para os cargos que ficaram vagos e as candidatas emergiram naturalmente.”

Ainda há uma clara predominância masculina no topo das companhias brasileiras. As mulheres representam apenas 14% dos 4 324 executivos das 233 empresas consideradas no levantamento rea­lizado neste ano pela consultoria Hay Group. Quando se olha o número de executivos milionários, a disparidade também é nítida.

A remuneração superior a 1 milhão de reais é uma realidade para 17% das executivas da amostra, enquanto 32% dos homens já alcançaram esse patamar. O equilíbrio na remuneração, no entanto, dá sinais de avanço. Em 2008, as mulheres em postos de diretoria tinham uma remuneração total 26% menor do que a dos homens.

Hoje, cinco anos mais tarde, a desvantagem caiu para 17%. Esse é o retrato da média de todos os participantes da pesquisa. Num recorte mais fechado, no entanto, quando se comparam apenas homens e mulheres que dividem posições similares nas mesmas empresas, observa-se que a diferença é mínima.

Nesses casos, as mulheres ganham 6% menos do que seus pares em cargos de diretoria nas empresas de capital nacional. Entre as multinacionais, essa diferença cai para 4%.

“Para efeitos estatísticos, praticamente não há diferença de remuneração entre gêneros quando os executivos estão em posições similares na mesma empresa”, diz Leonardo Salgado, diretor da Hay Group. “A desvantagem das mulheres no universo total só é maior porque ainda temos executivos homens mais velhos e com mais tempo de carreira.”


De acordo com o levantamento da consultoria, as mulheres começam a ocupar lugar de destaque em setores que até pouco tempo atrás eram absolutamente masculinos. Isso ocorre sobretudo naqueles que aceleraram a expansão e, portanto, a contratação de profissionais. Em 2008, apenas 7% das mulheres da base de dados da pesquisa estavam no setor de tecnologia.

Em 2013, a proporção aumentou para 12%. Um exemplo dessa ascensão é a trajetória de Monica Herrero, presidente da empresa de tecnologia da informação Stefanini para o mercado brasileiro desde abril de 2012. Naquele momento, com a expansão internacional da empresa, que atua em 30 países, o fundador Marco Stefanini decidiu se tornar o principal executivo global e criou a posição regional.

Formada em matemática, Mônica ingressou na companhia em 1992 e foi preparada por cinco anos para assumir o cargo. Nesse período, ocupou a posição de vice-presidente no Brasil, como braço direito de Stefanini. Hoje, Mônica não é uma exceção dentro da empresa. Há seis homens e seis mulheres em sua diretoria, segundo ela, com remuneração compatível.

“Não há diferenças por gênero aqui”, afirma. “Tanto que duas diretoras foram promovidas enquanto estavam em licença-maternidade.” Num segmento em que existe a restrição de mão de obra qualificada, a diversidade tem sido natural.

Com um crescimento acelerado, as vendas chegaram a 1,9 bilhão de reais em 2012 — 50% mais em relação ao ano anterior. A previsão para 2013 é crescer outros 15% e atingir 2,2 bilhões de reais — sendo que as operações no Brasil, comandadas por Mônica, respondem por 65% desse total.  

As barreiras também começam a ruir com a crescente participação das mulheres em certas áreas de atuação tradicionalmente dominadas pelos homens. A maioria das executivas ainda ocupa a diretoria de recursos humanos. A concentração, porém, diminuiu. Em 2008, 21% das mulheres estavam nessa posição. Em 2013, 14% delas ocupavam a função.

Em contrapartida, nesse período, áreas como diretoria jurídica, de produto e comercial passaram a compor as cinco posições mais comuns entre as mulheres. A distribuidora de energia Elektro, com sede em Campinas, no interior de São Paulo, ilustra essa tendência. A diretoria jurídica é ocupada pela executiva Jessica Reaoch; e a de assuntos regulatórios, por Cristiane Fernandes, respectivamente, desde 2009 e 2010.


Em março deste ano, a paulista Simone Simão tornou-se a primeira diretora financeira e de relações com investidores da história da companhia. Com sua promoção, as mulheres passaram a ser maioria entre os diretores. Hoje, são três mulheres e dois homens. “Aqui sempre valeu a meritocracia”, afirma Simone.

Síndrome da jornada dupla

As mulheres que conseguem subir na hierarquia venceram de alguma maneira a dificuldade de conciliar carreira e família. Trata-se de um dos maiores entraves à ascensão feminina nas empresas, segundo uma pesquisa realizada na América Latina pela consultoria de gestão McKinsey no início deste ano.

Como viaja bastante e faz diversas reuniões durante o dia, Simone, da Elektro, montou o que ela chama de “esquema de guerra”. “Tenho uma retaguarda em casa. Tenho uma babá e meu marido também dá suporte caso eu não esteja presente. Sem isso, não conseguiria trabalhar até mais tarde ou viajar quando preciso”, afirma a executiva, que tem uma filha, de 9 anos.

“Hoje é mais comum que homens e mulheres dividam responsabilidades”, diz Marise, da Masisa, que tem uma filha de 15 anos.

Os dados da pesquisa do Hay Group reforçam a teoria de que a ascensão das mulheres na hierarquia é uma questão de tempo. A idade média das diretoras é 44 anos, quatro anos menos do que a média dos homens. Segundo especialistas, o entrave muitas vezes é a tendência de executivos contratarem profissionais parecidos com eles mesmos.

No caso de empresas predominantemente masculinas, isso pode significar a perpetuação desse modelo. Romper com isso se tornou fundamental para o aumento do número de mulheres na diretoria da Masisa, por exemplo. Desde que chegou à empresa, Marise passou a estimular que mulheres participassem de todas as seleções de vagas abertas na companhia.

Além da diretoria, o efeito pode ser observado em outros níveis da companhia. Em apenas um ano, a Masisa aumentou o número de mulheres no quadro geral de 14% para 18% e entre os executivos de zero para 16%. “Tivemos de recrutar diretoras do mercado, mas aos poucos vamos criar uma nova geração com mais diversidade dentro da companhia”, diz Marise. As coisas, enfim, caminham — felizmente.

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