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Da Redação
Publicado em 7 de julho de 2011 às 17h46.
São Paulo - Com cinco meses inteiros de atuação, bem que o governo da presidente Dilma Rousseff poderia brindar o público, sobretudo aquele que a elegeu, com umas duas ou três boas notícias — ou, vá lá, mesmo com uma só. Nem seria preciso vir com algum prodígio administrativo, próprio de sua fama como grande gerente.
Na verdade, já serviria se houvesse uma mudança no constante fluxo de fatos e impressões negativas que escorre regularmente do governo. Mas não é o que se vê.
O que se vê é justamente o contrário, como acaba de ficar demonstrado com a revelação de que o ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, conseguiu ganhar nos quatro anos que antecederam sua volta ao governo, e nos quais exerceu um mandato de deputado, honorários de consultor suficientes para comprar, pelo menos, um apartamento de luxo e um conjunto de escritórios em São Paulo, avaliados em mais de 7 milhões de reais.
O episódio é ruim, sobretudo, pela notável infelicidade das respostas oficiais dadas até agora para ele. A presidente, antes que fosse feita a mais ligeira investigação a respeito, disse que se tratava de um ato de “guerra política”. E daí?
O que interessa, em primeiro lugar, é saber se a notícia, divulgada pela Folha de S. Paulo, é verdadeira. É: o apartamento e o escritório estão exatamente onde a Folha noticiou que estavam, e pertencem, ambos, ao ministro.
Em seguida, é preciso determinar com a máxima clareza se está tudo em ordem com a história. De novo, as respostas não satisfazem. Palocci cita ex-altos funcionários do governo FHC que ganharam dinheiro com serviços de consultoria.
Está longe de ser a mesma coisa: nenhum dos citados nomeou sequer um porteiro nos últimos oito anos e meio, enquanto Palocci, como deputado, vivia na intimidade mais íntima do governo do PT. Dizer que fez o que outros fizeram, além disso, não adianta nada; o que importa é se fez certo ou errado. Só isso.
O economista, advogado e político francês Dominique Strauss-Kahn, diretor do augusto Fundo Monetário Inter-nacional — ou melhor, ex-diretor, depois que foi parar numa cela de 3 metros por 4 numa prisão de Nova York —, é um homem que gosta de mulher. É um tipo que ainda existe, sobretudo nos países de cultura latina.
Continua havendo, ali, resistências individuais às regras da vida moderna que deploram comportamentos desse gênero, tidos como ofensivos, antiquados e não democráticos.
Trata-se de condenação claramente majoritária, inclusive em sociedades como a França, onde sempre houve, historicamente, discreta admiração pela figura do coureur de femmes — o macho assumido, que dá em cima da vizinha, da moça da farmácia, da colega de trabalho, da professora particular do filho, das amigas da própria mulher, enfim, de todo ser humano do sexo feminino que lhe passe na frente.
Strauss-Kahn é um desses indivíduos, e o fato de ter prosperado tanto na vida pública francesa, a ponto de tornar-se uma das figuras-chave da grande política nacional, é uma demonstração da tolerância que, bem ou mal, ainda protege personagens como ele, e não só na França.
Na Itália, por exemplo, ninguém menos que o premiê Silvio Berlusconi desempenha alegremente o papel de heterossexual público, notório e sem o menor remorso em relação ao seu estilo de vida.
O problema de Strauss-Kahn é que ele frequentemente joga bruto e flerta com as fronteiras do Código Penal, como sugere a sua rica folha corrida de confusões com mulher. Pior que tudo, achou que podia se comportar dessa maneira nos Estados Unidos, onde vinha residindo por força de seu cargo — e os Estados Unidos levam terrivelmente a sério toda e qualquer pisada de bola como as que ele se acostumou a dar.
Ataques contra camareiras de hotel, então, a acusação que Strauss-Kahn tem diante de si, são desastres praticamente com perda total. Adeus, portanto, Monsieur Strauss-Kahn. A casa também pode cair, mesmo para as mais lustrosas figuras públicas da civilização europeia. Caiu.