Revista Exame

Pé na estrada para vender o Brasil

O país virou moda no exterior, mas ainda falta convencer os gigantescos fundos de pensão e de universidades a aplicar aqui - eis a missão de um grupo de gestores brasileiros

Felipe Prata, da Nest: visita aos "quarteirões do bilhão" na Califórnia, para atrair novos investimentos (Gilberto Tadday/EXAME.com)

Felipe Prata, da Nest: visita aos "quarteirões do bilhão" na Califórnia, para atrair novos investimentos (Gilberto Tadday/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 25 de junho de 2012 às 14h11.

São Paulo - O entorno da Universidade Stanford, na Califórnia, é ainda hoje uma das regiões mais ricas dos Estados Unidos, apesar da grave crise que assola o estado. As ruas perto do campus são conhecidas por seus "quarteirões do bilhão".

Em pouco mais de 1 quilômetro, estão localizados os escritórios de dezenas de family offices, empresas especializadas em administrar fortunas, que cuidam do patrimônio de gente como Paul Allen, um dos fundadores da Microsoft, e Jeffrey Skoll, expresidente do site de leilões eBay.

Os re cursos doados por esse pessoal à Stanford levaram a universidade a ter um fundo de 15 bilhões de dólares, um dos maiores do mundo. Qualquer gestor de fundos quer ter acesso a esses recursos, mas até pouco tempo atrás esse era um mercado fechado para os brasileiros.

De forma geral, os family offices e os fundos de universidades, assim como os gigantescos fundos de pensão e as fundações beneficentes, são conservadores e aplicam boa parte de seu capital nos Estados Unidos e na Europa - só uma pequena fração é destinada a investimentos diretos em países emergentes.

Recentemente, porém, embalado pelo destaque do Brasil no exterior, um número crescente de gestores nacionais passou a fazer visitas constantes a essas instituições para convencê-las de que vale a pena colocar dinheiro aqui. Os pioneiros foram a Dynamo, a Gávea e a Tarpon, gestoras que hoje têm mais de 20 desses fundos entre seus investidores.

Nos últimos dois anos, juntaram-se ao time administradoras como Claritas, Constellation, Nest, Quest e, mais recentemente, o banco Itaú Unibanco. "Essa é a nova fase do investimento estrangeiro no Brasil. Temos, literalmente, uma avenida para explorar", diz Felipe Prata, sócio da Nest.


A peregrinação dos brasileiros não está restrita ao entorno de Stanford - estende-se por quase todo o território americano, dos grandes centros, como Nova York e Chicago, a cidades nos estados do Texas e da Carolina do Norte, onde estão localizados alguns dos principais fundos de universidades e de pensão do país, entre eles o da Duke University e o plano de aposentadoria Texas Teachers.

Com menos frequência, os gestores também costumam ir à Europa e ao Oriente Médio. "Temos de sair do roteiro convencional para ter acesso aos grandes patrimônios", diz Eduardo Mufarej, diretor da Tarpon, que tem uma equipe de cinco profissionais viajando ao exterior a cada dois meses.

Esse tipo de investidor é o sonho de consumo de todo gestor. Não só pelo porte gigantesco - juntos, family offices e fundos americanos de pensão e de universidades administram mais de 15 trilhões de dólares - mas também porque seus recursos costumam ficar aplicados por prazos longos.

"Não é aquele dinheiro que vai sair depois de três meses se o cenário mudar", diz Walter Maciel, sócio da Quest. Geralmente, quando esses fundos escolhem um gestor, mantêm o investimento por vários anos.

Entrar no mundo fechado desses grandes fundos, no entanto, é um processo trabalhoso que costuma levar anos. Fabio Dall'Acqua, sócio da Constellation, começou uma rotina de viagens mensais para visitar fundos de pensão e de universidades há dois anos e só no fim de 2009 conseguiu atrair a primeira leva de recursos (que ele não revela de quem veio para não chamar a atenção da concorrência).

A demora é explicada pelo tipo de análise que esses investidores fazem dos gestores com quem planejam aplicar. Mais do que olhar os resultados dos últimos meses, eles buscam conhecer em detalhes a estratégia de investimento e as políticas de governança e de controle de risco.

"Após a crise de 2008, quando vários fundos quebraram, ficamos ainda mais cuidadosos", diz o brasileiro Daniel Lockwood, analista de investimentos do Howard Hughes Medical Institute, fundação beneficente que administra 14 bilhões de dólares, criada na década de 50 pelo malucão Hughes, personagem central do filme O Aviador, que foi produtor em Hollywood e dono de uma fábrica de aviões.


Embora tenham trilhões para investir, os fundos, em sua maioria, não saem despejando recursos mundo afora. Mesmo quando decidem investir fora de seus países, eles costumam buscar instituições americanas e europeias com patrimônio no exterior ou colocam dinheiro diretamente em ações e títulos.

"Nossa equipe faz o grosso da estratégia internamente. Só temos dois gestores locais, um no Brasil e outro na Ásia, porque queremos ter uma atuação mais especializada nesses países", diz Wayne Kozun, vice-presidente do canadense Ontario Teachers, um dos maiores fundos de pensão do mundo, com 96 bilhões de dólares em ativos (comenta-se que a casa brasileira seja a Dynamo, mas as empresas não confirmam).

Por isso, a competição entre os gestores por esse capital é feroz - ninguém fala abertamente sobre quem visitou, quem são seus investidores ou quanto pretende captar. "Temos de procurar as cadeiras vazias", diz Dall'Acqua, da Constellation. Do jeito que esses profissionais estão agressivos, é possível que eles acabem se encontrando em outras "ruas do bilhão" espalhadas pelos Estados Unidos.

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