Futuro do agronegócio: da consolidação de terras às agtechs, os métodos de cultivo devem ir além da monocultura (SLC/Divulgação)
Repórter de Agro
Publicado em 25 de maio de 2023 às 06h00.
A roça do passado avançou com as gerações. Assim como o escritor aposentou a máquina de escrever, o produtor rural guardou a enxada. Os saltos de produtividade do agronegócio brasileiro nos últimos 50 anos colocaram americanos e europeus para trás. O país é hoje player relevante nos movimentos geopolíticos, seja pelas exportações, seja pela transparência sobre a origem da matéria-prima. O Hemisfério Norte nunca dependeu tanto do clima tropical para fazer chegar alimento, fibras e energia numa época de guerra e insegurança alimentar. A soja segue sendo o carro-chefe brasileiro, inegável. Mas há uma cesta cheia de produtos à disposição: algodão, café, proteína animal, suco de laranja, melão e até atemoia. Graças à ciência da agricultura tropical, desenvolvida nacionalmente, surgiram tecnologias como plantio direto, agricultura de precisão, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) — no Brasil e em países da África onde a Embrapa atua.
ESPECIAL SUPER AGRO
Fomentar a pesquisa, portanto, é investir no futuro do agronegócio. Fundações, cooperativas, multinacionais e cientistas se unem na missão de desenvolver uma agricultura de baixo carbono com alta produtividade. É preciso — ainda — mais. Universidades públicas precisam atualizar as grades curriculares para abarcar práticas como sensoriamento remoto, drones e gestão de dados em nuvem. Enquanto isso, surge um movimento de instituições de ensino privadas mirando o novo mercado de trabalho, efervescido com a digitalização do agro. Engenheiros de dados, especialistas em big data, analytics, blockchain e até pilotos de drone. Estima-se que, até 2025, haverá mais de 178.000 vagas de emprego ligadas ao agronegócio. Um mercado em ebulição, mas que exige um profissional que não fará mais do mesmo e conseguirá performar em uma agricultura da “era ESG”.
A boa notícia é que o Brasil já tem mecanismos como o PPCDAm, plano oficial para combater o desmatamento na Amazônia, e os dados gerados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No âmbito da conectividade — um gargalo crucial —, o Ministério da Agricultura e Pecuária garante que recursos para a internet rural serão liberados ainda no primeiro semestre. Conectar os rincões significa educação nas escolas rurais. Outro mecanismo já amplamente discutido é a aplicação integral da Lei do Código Florestal — lei entre as mais robustas e mundialmente reconhecidas do ponto de vista ambiental.
O agronegócio tem a faca e o queijo na mão, mas antes é preciso focar algumas questões. O próximo capítulo será construído com recuperação de pastagens degradadas, sequestro de carbono e protagonismo na agenda de redução dos gases de efeito estufa. Nesse processo, é possível profissionalizar a cadeia do cacau e outras culturas da Amazônia, como castanha e cumaru, investindo em bioeconomia da floresta. Projetos de agrofloresta e agricultura regenerativa atraem multinacionais e já garantem renda a comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas. Há muito a ser desenvolvido.
A revolução passará pela presença de jovens e mulheres no campo. Sucessores familiares iniciam uma jornada de retorno ao campo, depois de ver abrir uma leva de oportunidades ao alcance de um toque. As mulheres, que sempre estiveram nos bastidores de sítios e fazendas, passam a integrar as discussões, de igual para igual. O faturamento bruto do agronegócio brasileiro deve crescer 5% em 2023, segundo as últimas estimativas, para 1,25 trilhão de reais. Manter o ritmo demandará novas revoluções. O mundo acompanha de perto o que acontece por aqui. Nas próximas páginas, exemplos de inovações para o Brasil se manter protagonista.