Revista Exame

Ozempic em pílula deve chegar ao mercado em 2026 e baratear o emagrecimento

O remédio injetável vira comprimido em 2026, acelera competição bilionária entre Novo Nordisk e Eli Lilly e inaugura a era dos emagrecedores orais, com impacto clínico, econômico e, principalmente, estético

Maziar Mike Doustdar, CEO da Novo Nordisk: plano de lançar versão oral do princípio ativo do Ozempic promete ampliar o acesso ao tratamento (Mads Claus Rasmussen/Ritzau Scanpix/AFP/Getty Images)

Maziar Mike Doustdar, CEO da Novo Nordisk: plano de lançar versão oral do princípio ativo do Ozempic promete ampliar o acesso ao tratamento (Mads Claus Rasmussen/Ritzau Scanpix/AFP/Getty Images)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 07h10.

Em 2026, a Novo Nordisk, sob o comando do CEO Maziar Mike Doustdar, deve lançar o Wegovy em comprimido, versão oral da semaglutida — mesmo princípio ativo do Ozempic, originalmente aprovado para diabetes tipo 2 e amplamente utilizado em tratamentos de perda de peso. A nova formulação demonstrou uma perda média de 16,6% do peso corporal em 64 semanas, segundo o estudo clínico OASIS 4, com perfil de segurança semelhante ao da versão injetável.

A chegada do comprimido, com 100% da produção nos Estados Unidos, promete ampliar o acesso ao tratamento ao eliminar barreiras como o medo de agulhas e o alto custo. Além disso, abre espaço para uma nova dinâmica de mercado, com mais competição, preços menores e entrada de grupos que até então estavam fora do radar da indústria.

A tecnologia que torna viável a semaglutida oral chama-se SNAC, um intensificador de absorção que permite que o medicamento atravesse a parede do estômago. Peptídeos como a semaglutida do Ozempic são normalmente degradados antes de chegar à corrente sanguínea, o que exige soluções específicas para administração oral. Com o SNAC, a absorção ainda é baixa, menos de 1% da dose total, mas suficiente para atingir níveis terapêuticos com uma dose diária. A estratégia da Novo Nordisk é clara: trocar o modelo de preço premium por volume, reduzindo o custo mensal de 1.349 para 350 dólares.

A rival Eli Lilly, que já domina 58% das prescrições de medicamentos da classe GLP-1 nos Estados Unidos, avança em várias frentes. A empresa aposta na tirzepatida, vendida como Zepbound, que pode levar a uma perda de peso de até 22,5%. Também está desenvolvendo o orforglipron, uma molécula oral de custo mais baixo, e o retatrutida, considerado por muitos analistas como a próxima grande ruptura nesse mercado.

O retatrutida é um triploagonista, ou seja, age simultaneamente sobre três receptores, o GLP-1, o GIP e o glucagon, o que o torna potencialmente mais eficaz que os medicamentos atuais. Em estudo publicado no New England Journal of Medicine, o retatrutida levou a uma perda média de 24,2% do peso corporal em 48 semanas. Mas seu principal diferencial é a preservação de massa muscular durante o emagrecimento, algo que os GLP-1 tradicionais, como a semaglutida, não conseguem garantir. Pacientes tratados com semaglutida perdem até 6 quilos de massa magra, o que compromete o resultado estético e gera o efeito de “rosto de Ozempic”.

Esse efeito colateral não passou despercebido. A rápida transformação corporal provocada por medicamentos como o Ozempic criou um novo mercado: clínicas de estética registraram aumento de 9% em suas receitas em 2024 quando passaram a oferecer serviços ligados ao uso desses remédios, como tratamentos de pele flácida, abdominoplastias e procedimentos faciais. Dados que compõem hoje um mercado estimado em 61 bilhões de dólares e pode ultrapassar 100 bilhões até 2030. A expansão do acesso com comprimidos orais e a entrada de genéricos a partir de 2026, como os da brasileira EMS e das indianas Sun Pharma e Dr. Reddy’s, devem acelerar essa transformação, especialmente em países emergentes.

Em 2026, emagrecer com comprimidos deve deixar de ser exceção para se tornar prática comum, com impactos diretos na indústria farmacêutica, nos serviços de saúde e nos padrões estéticos da vida contemporânea. A combinação de eficácia clínica, acesso ampliado e apelo visual reposiciona os medicamentos para perda de peso como protagonistas de uma transformação mais ampla: comportamental, social e econômica.

Acompanhe tudo sobre:1282Ozempicexame.core

Mais de Revista Exame

Bom para cachorro

Este foi o ano do varejo na bolsa — se a Selic cair, 2026 será ainda melhor

A volta do clericot

O CFO assume a cadeira ESG?