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Os demônios de Dilma

Dois fantasmas atormentam a candidata à Presidência: os novos lances do caso Petrobras e o desarranjo múltiplo na economia. São encrencas que vão dar muito o que falar mesmo depois de 26 de outubro


	Perspectiva estranha: Dilma tem de lidar com o fato de que, caso vença, receberá uma herança maldita de si mesma
 (Reuters)

Perspectiva estranha: Dilma tem de lidar com o fato de que, caso vença, receberá uma herança maldita de si mesma (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2014 às 18h12.

São Paulo - Se fosse uma astronauta americana em viagem pelo espaço, em vez de candidata à Presidência da República, é possível que a presidente Dilma Rousseff­ estivesse passando neste momento a seguinte mensagem para a central de comando da Nasa: “Houston, nós temos um problema”.

Se quisesse ser mais precisa, poderia acrescentar: “Para falar a verdade, Houston, nós temos mais de um problema. Câmbio”. O problema de maior urgência para a candidata é ganhar de Aécio Neves daqui a duas semanas, na decisão do segundo turno.

É claro que alguma peça espanou no painel de controle onde aparecem as pesquisas eleitorais — os instrumentos garantiam, até quase a véspera das eleições, que Aécio estava morto, mas eis que o homem está perfeitamente vivo; pior que isso, pode dar uma trabalheira para ser vencido, pois surge na disputa 8 pontos abaixo de Dilma, apenas, quando chegou a estar com 25 a menos.

Ela continua favorita, pois nunca um candidato que chegou à frente ao segundo turno deixou de ganhar no resultado final. Mas sua nave, qualquer que seja o vencedor, está com dois outros problemas para lá de complicados; podem ser até mais calamitosos do que uma derrota na eleição.

O primeiro é uma alarmante pane no sistema chamado “Petrobras”, que parece ter escapado a todos os esforços para ser eliminada; não é fora de propósito imaginar que possa abater a nave em pleno voo ou tornar a vida da comandante Dilma um inferno depois do pouso na Terra.

O segundo é a falência múltipla de peças na máquina da economia, que nem a presidente nem os técnicos da equipe de apoio têm a menor ideia de como consertar; já tentaram todo tipo de gambiarra para fazer o conserto, e até agora nada deu certo.

Os dois problemas têm vida própria. Afetam diretamente a viagem eleitoral do segundo turno, mas não irão embora com o fechamento das urnas. Nem Deus sabe onde podem acabar.

Quanto ao primeiro grande problema de Dilma — a necessidade de chegar à frente de Aécio, que teve perto de 35 milhões de votos no primeiro turno e pode pescar à vontade nos 22 milhões do pesqueiro de Marina Silva —, o mais aconselhável é falar o menos possível.

Esses resultados comprovam outra vez que, entre aquilo que as urnas deveriam dizer e aquilo que de fato acabam dizendo, há mais mistérios do que supõe a vã filosofia dos institutos de pesquisa. Dilma teve 43 milhões de votos; levando-se em conta que o total de eleitores chega aos 143 milhões, vemos que 100 milhões de brasileiros não votaram nela.

A presidente, agora, tem de fazer alguma coisa a respeito e convencer a maioria de seus não eleitores a mudar de ideia. Aécio, basicamente, terá de fazer a mesma coisa. Na noite de 26 de outubro saberemos, com 100% de certeza, o bicho que deu; até lá, haverá apenas mais um oceano de pesquisas, palpites e desinformação em estado puro, razão pela qual não valerá a pena se estressar com o que ainda não aconteceu.

A coisa já é bem diferente com os dois diabos que saíram da jaula e estão soltos por aí. O primeiro, o da Petrobras, entrou na impiedosa engrenagem da Justiça, que ignora as necessidades dos políticos e a qualquer momento pode tomar os rumos mais inesperados.

Um deles, como ocorreu no mensalão, leva gente finíssima (o ex-ministro José Dirceu, por exemplo, chegou a ser considerado o “homem mais importante do país”) a alguma cela no complexo penitenciário da Papuda. O outro, o da encrenca na economia, tem tudo para fazer ainda muito estrago neste país antes que alguém consiga consertar o que está errado.

Por causa da geleia geral que criou na área econômica, Dilma tem diante de si uma perspectiva estranhíssima. Quanto mais se aproximar de uma vitória nas urnas, tanto mais envenenadas ficarão as áreas críticas para a gestão econômica, do câmbio à inflação, dos juros ao derretimento das contas públicas; nesse caso, receberá uma herança maldita de si mesma, fenômeno inédito em nossa longa história de fenômenos inéditos.

Bem-vindo ao segundo turno.

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