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Polarização e indefinição: o xadrez de 2026 se desenha com Lula e Flávio

O presidente Lula inicia o ano mais competitivo eleitoralmente e a direita debate seus possíveis candidatos. Desenha-se mais uma disputa polarizada — e acirrada

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o petista buscará a reeleição em cenário indefinido da direita — e com o país polarizado (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o petista buscará a reeleição em cenário indefinido da direita — e com o país polarizado (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 06h40.

Em outubro de 2026, 155 milhões de brasileiros vão às urnas e devem se deparar mais uma vez com a possibilidade de votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A dez meses do pleito, essa é uma das poucas afirmações que se pode fazer: o cenário se desenha para uma reedição de um plebiscito sobre a gestão do petista, que deve buscar seu quarto mandato.

E até o momento há grande indefinição sobre quem o enfrentará no campo da oposição. Para Lula, iniciar o ano eleitoral competitivo é vitória em si. O ano de 2025 foi de oscilação. Depois de muito bater cabeça e chegar às mínimas de aprovação, o governo se agarrou ao tarifaço do governo Donald Trump e à taxação dos super-ricos como bandeiras e recuperou a popularidade perdida após a crise do Pix em janeiro.

Com a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5.000 reais, o novo vale-gás, a ampliação de linhas de financiamento de imóveis e outras medidas, a perspectiva é de um Lula competitivo na disputa.

“Lula inicia o ano eleitoral com vitalidade política: economia estável, queda da inflação de alimentos, reorganização do campo progressista e desgaste profundo de Bolsonaro”, diz Fábio Zambeli, diretor da Athos, agência de public affairs do Grupo In Press.

Os números reforçam esse cenário. Uma pesquisa de dezembro do instituto Datafolha mostra que 49% aprovam o trabalho de Lula, enquanto 48% desaprovam. Mesmo com o empate técnico, essa é a primeira vez que a aprovação supera a reprovação numericamente em 2025 no levantamento do instituto.

A avaliação do governo também tem sinais claros de recuperação, com queda do percentual de ruim e péssimo, que chegou a 41% em fevereiro, para 37% em dezembro. O tamanho do ótimo e bom subiu de 24% para 32% nesse mesmo recorte de período.

“Lula chegará à eleição pior do que ele imaginava em 2023, mas melhor do que em janeiro de 2025. O governo Lula tem suas falhas, mas ainda tem muita força”, afirma Creomar de Souza, CEO da consultoria de análise de risco político Dharma.

A recente crise relacionada à segurança pública, com a megaoperação no Rio de Janeiro e a narrativa de uma falta de resposta do governo, freou a recuperação, mas mantém o petista em um patamar competitivo para 2026.

“O que temos visto até aqui é que me parece uma corrida do lulopetismo contra o bolsonarismo, em que quem errar menos vai levar. Porque todo mundo tem errado muito e dado munição ao outro lado”, diz Creomar.

Esse é o cenário para o petista. Do outro lado do espectro político, a definição das candidaturas da direita vive um novo dilema com a decisão do senador Flávio Bolsonaro (PL) de lançar a sua pré-candidatura com a benção de seu pai, que cumpre pena de 27 anos e três meses na Superintendência da Polícia Federal desde o fim de novembro pela tentativa de golpe de Estado.

Até então, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), era o único pré-candidato declarado do campo político.

“A definição das candidaturas da direita será lenta e cheia de inflexões. O gesto de Jair Bolsonaro ao ungir Flávio Bolsonaro recoloca a família no jogo, mas não resolve o problema central: Flávio tem baixa viabilidade no centro e pouca competitividade contra Lula”, diz Zambeli, da Athos.

No momento, partidos de centro que trabalhavam para a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), resistem ao nome de Flávio e buscam um plano alternativo, como o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD).

Flávio afirma que seguirá até o fim como nome da direita na disputa.

“Ao dizer que o candidato é o Flávio, o bolsonarismo prefere correr o risco de perder a transferir o legado”, diz Creomar, da Dharma.

Os dados de dezembro do Datafolha mostram que Lula lidera cenários de primeiro turno e venceria todos os adversários no segundo turno, com vantagens que variam entre 15 e 5 pontos.

Seu melhor desempenho é contra Flávio Bolsonaro (51% a 36%), e o mais apertado, contra Tarcísio de Freitas (47% a 42%). Esses números, naturalmente, mudarão à medida que as campanhas levarem os times a campo.

“Mesmo com algum favoritismo, Lula não tem margem larga. A oposição chega estruturalmente com cerca de 45% dos votos potenciais no segundo turno”, diz Zambeli. “A escolha do adversário é o ponto de inflexão: um candidato competitivo transforma a disputa; um nome frágil mantém a vantagem de Lula, mas ainda assim em eleição apertada, decidida por poucos pontos percentuais.”

Até abril, o noticiário será vivo sobre os nomes para disputar com Lula. A certeza é que o eleitor observa uma disputa cujas variáveis ainda não estão definidas.

E mais: nem sequer pensa na eleição. A maioria dos levantamentos eleitorais mostra que nas pesquisas espontâneas, quando nenhum nome é apresentado, mais de 60% da população não sabe em quem vai votar.

Com uma nova eleição polarizada em vista, caberá aos candidatos convencer o restrito grupo de cidadãos disposto a mudar de opinião.

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