Revista Exame

O Templo de Steve Jobs

Em 2012, a Apple vai iniciar a construção de sua nova sede, na Califórnia — o último grande projeto de seu fundador

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 08h29.

São Paulo - Em sua segunda encarnação no controle da Apple, Steve Jobs, morto em outubro, evitava ao máximo qualquer contato com a imprensa. As raras exceções eram lançamentos oficiais de produtos como o iPad ou novas versões de iPhones e softwares, ocasiões sempre aguardadas com grande expectativa em todo o mundo e nas quais, tanto quanto seus produtos, ele aparecia como estrela.

A última aparição pública de Jobs, para lamento de muitos, não foi em um desses eventos. Mas nem por isso ela seria menos memorável. Sua apresentação derradeira aconteceria em junho passado durante uma reunião do conselho da prefeitura de Cupertino, na Califórnia.

Diante de uma plateia deslumbrada, Jobs revelou aquele que seria seu último grande projeto — uma nova sede local para a companhia fundada por ele mais de três décadas antes, batizada de Apple Campus 2. O episódio, claro, foi cercado de sua habitual modéstia ao falar de suas criações.  Para ele, essa seria uma tentativa de  “construir o melhor edifício de escritórios do mundo”.

Por qualquer parâmetro que se adote, o novo campus, que já vem sendo apelidado de “Taj Mahal” de Cupertino, é uma obra grandiosa. O complexo será construído num terreno que foi adquirido da HP em 2010 e que possui o tamanho de mais de 50 campos de futebol.

O edifício principal, em formato circular, lembrando uma rosquinha gigante (ou “uma espaçonave em Terra”, nas palavras de Jobs), terá diâmetro de quase 500 metros, mais do que a altura do Empire State Building. No total, serão mais de 250 000 metros quadrados de área distribuídos em quatro andares — praticamente a extensão do Pentágono, uma das maiores construções já erguidas pelo homem.

Funcionários terão uma academia de ginástica própria. Um auditório anexo, com lugar para 1 000 pessoas, será construído para receber apresentações e lançamentos de produtos. Mais de 6 000 árvores serão plantadas nos arredores. Um gerador de energia a gás, por fim, deverá servir de fonte primária de eletricidade para o trabalho de mais de 13 000 funcionários instalados no novo espaço.

Essa não é a primeira vez que Jobs, que esteve envolvido no projeto em seus detalhes mínimos, tratou de deixar sua marca no mundo da arquitetura. Sua estreia no ramo veio com a construção das primeiras Apple Stores. Para Jobs, elas deveriam ser atraentes como um produto da Apple.


Uma das mais famosas, a loja da Quinta Avenida, em Nova York, é um exemplo do uso do design e da arquitetura em favor de mais vendas. De cara, isso não era uma tarefa fácil. Com espaço reduzido na superfície, o lugar tinha o desafio inicial de, literalmente, atrair consumidores para debaixo da terra. Jobs queria a qualquer custo uma escadaria de vidro minimalista e convidativa. Mas não havia solução pronta para o problema.

Era preciso desenvolvê-la. O esforço junto a arquitetos e engenheiros funcionou. A loja é hoje uma das mais movimentadas da rede, e a empresa detém uma patente do projeto da escadaria de vidro suspensa (Jobs é um dos que assinam o projeto). De lá para cá, o uso de novas tecnologias se tornou uma espécie de pré-requisito para as construções da Apple.

No projeto do novo campus, assinado pelo escritório Foster + Partners (fundado pelo renomado arquiteto inglês Norman Foster, responsável por obras como o novo Estádio Wembley, em Londres, e a cúpula do Congresso alemão, em Berlim) não será diferente.

Para dar conta de envolver a estrutura circular do prédio principal com vidros curvados, uma nova técnica de fabricação está em desenvolvimento. Essa não é, como disse Jobs, a maneira mais barata de construir um edifício. Mas isso nunca foi problema para a Apple.

Corrida contra o tempo

Para a empresa, a construção do novo campus, com inauguração prevista para 2015, é tida como emergencial. A sede atual de Cupertino já não dá conta de abrigar os mais de 12 000 funcionários, hoje alocados em outros edifícios espalhados pela cidade. “A Apple está crescendo como uma erva daninha”, disse Jobs em sua última aparição.

De fato, os anos recentes têm sido espetaculares para a companhia. Com o lançamento do iPad, um sucesso mundial, a Apple criou praticamente do zero o lucrativo mercado de tablets, no qual possui hoje uma fatia de mais de 70%. Com novas versões de iPhone, consolidou posição também no terreno dos smartphones, em que detém um terço do mercado.


Os resultados para o ano fiscal de 2011 foram capazes de superar as expectativas mais otimistas, quando o faturamento atingiu 108 bilhões de dólares — um crescimento de espantosos 70% em relação ao período anterior.

Em agosto, a Apple alcançou pela primeira vez o posto de companhia mais valiosa do mundo, posição na qual vem se revezando desde então com a gigante do petróleo americana Exxon Mobil. 

O maior projeto da história de Cupertino preocupa a vizinhança. Em agosto, representantes da comunidade se reuniram pela primeira vez para discutir os impactos da obra. Na ocasião, surgiram sugestões e críticas de todos os tipos. Como vai ficar o trânsito na região? De que maneira as escolas serão afetadas?

O que será feito com o material demolido? Houve até quem sugerisse criar uma fazenda comunitária no local, para vender frutas dos pessegueiros e das cerejeiras que serão plantados no lugar. Para que as obras possam começar, o que deve ocorrer no primeiro semestre de 2012, o projeto precisa aprovar 13 tipos de licença.

Não que a Apple, maior pagadora de impostos da cidade, tenha muito com que se preocupar. “Não há chance de dizermos não”, já disse o prefeito de Cupertino, Gilbert Wong.

Acompanhe tudo sobre:AppleArquiteturaDesignEdição 1007EmpresáriosEmpresasEmpresas americanasempresas-de-tecnologiaPersonalidadesSteve JobsTecnologia da informação

Mais de Revista Exame

Melhores do ESG: os destaques do ano em energia

Melhores do ESG: os destaques do ano em telecomunicações, tecnologia e mídia

ESG na essência

O "zap" mundo afora: empresa que automatiza mensagens em apps avança com aquisições fora do Brasil

Mais na Exame