Revista Exame

O sonho chinês na América

Nunca tantos ricos da China fizeram as malas e se mudaram para os Estados Unidos. Eles querem dar uma educação melhor aos filhos, investir em imóveis e viver no glamour

Escola particular chinesa em São Francisco: hábitos ocidentais para uma nova elite da China (Erin Lubin/Getty Images)

Escola particular chinesa em São Francisco: hábitos ocidentais para uma nova elite da China (Erin Lubin/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de setembro de 2014 às 18h00.

São Paulo - Novo-rico que se pre­ze aproveita qualquer oportunidade para chamar a atenção. E os chineses endinheirados que estão emigrando para os Estados Unidos não são uma exceção. O objeto de desejo de parte deles é se estabelecer em Beverly Hills, em Los Angeles, e ser vizinho da socialite americana Paris Hilton, da atriz Sharon Stone ou do cantor Rod Stewart.

“Os ricos chineses adoram viver cercados de famosos, e o preço das casas em Beverly Hills ainda está relativamente baixo”, explica o corretor Dimitri Velis, da Hilton & Hyland, especializada em imóveis de luxo. A cidade é a que mais atrai imigrantes ricos vindos da China, seguida de São Francisco e Nova York.

Com uma moeda valorizada, os milionários e bilionários chineses estão em busca de uma mansão para chamar de lar. Hoje, eles são os estrangeiros que mais gastam com imóveis nos Estados Unidos.

Em 2013, investiram quase 22 bilhões de dólares em propriedades, 24% do total das transações feitas por pessoas não nascidas nos Estados Unidos, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis. Em geral, eles miram as propriedades mais caras. Desembolsam, em média, 523 000 dólares por imóvel, mais que o dobro do que pagam os americanos. 

No mercado de residências de luxo de Nova York, onde é negociado o metro quadrado mais caro do país, os chineses também já se tornaram os principais clientes estrangeiros — ultrapassando os oligarcas russos. O estilo direto e prático deles às vezes choca corretores acostumados com as bizarrices de ricos de todos os cantos do mundo.

Em abril, a corretora ­Emma Hao, da Douglas Elliman, maior imobiliária de imóveis residenciais de Nova York, vendeu um apartamento de três quartos na região central de Manhattan para um cliente chinês por 10 milhões de dólares. Até aí, nada de mais. O curioso é que toda a negociação foi feita por um aplicativo de troca de mensagens.

Esta não é a primeira vez que os ricos saem em debandada da China. A primeira grande onda foi na década de 40, quando muitos fugiram do líder Mao Tsé-tung. A segunda aconteceu na década de 90, às vésperas da devolução de Hong Kong. A diferença agora é que os ricos que estão saindo fizeram fortuna sob o comando do Partido Comunista.

Hoje, o país tem quase 2,5 milhões de famílias com patrimônio acima de 1 milhão de dólares, perdendo apenas para os Estados Unidos nesse ranking. No prazo de apenas duas décadas, o número de bilionários passou de zero para 151, segundo a revista americana Forbes. Junto com o dinheiro, veio também o desejo de ter a qualidade de vida dos ocidentais.

O preço da cidadania

O governo americano coloca todos os anos 10 000 vistos à disposição de investidores estrangeiros dispostos a aplicar pelo menos 500 000 dólares nos Estados Unidos. Devido à procura chinesa, a cota anual deste ano foi toda preenchida — pela primeira vez na história. No ano passado, os chineses também foram os primeiros do ranking.

De cada dez vistos, oito foram para eles. Em 2013, cerca de 7 000 chineses entraram nos Estados Unidos como investidores — o segundo maior grupo foi de coreanos, com 364 vistos. “Muitas dessas pes­soas não voltarão a viver na China, mas manterão os laços por meio de seus negócios”, diz David Ley, especialista em imigração na Universidade de British Columbia, no Canadá.

De acordo com uma pesquisa divulgada pela revista chinesa Hurun e pelo grupo Visas Consulting, maior assessoria de imigração da China, cerca de 64% dos empresários — que têm, em média, 7 milhões de dólares — pretendem deixar a terra natal. O principal motivo para emigrar é oferecer uma boa educação aos filhos.

A poluição do ar e a contaminação da comida são as outras duas principais razões. “Ao vir para os Estados Unidos, muitos chineses também aproveitam para investir em imóveis e, assim, diversificar o patrimônio”, diz Sally Forster Jones, presidente da Aaroe International Luxury Properties, imobiliária especializada em imóveis de luxo na Califórnia.

Mesmo com a queda no ritmo da economia na China, o país continua sendo uma fábrica de fazer milionários e bilionários. E, enquanto isso continuar, a avalanche de emigração com malas Louis Vuitton não tem hora para acabar. Os americanos agradecem.

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