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O que os melhores gestores de fundos de investimento esperam para 2019

As perspectivas para a economia, os juros e a bolsa na opinião dos responsáveis pelos melhores fundos do país — e como eles estão investindo

 (Arte/Exame)

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Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 05h46.

Última atualização em 6 de dezembro de 2018 às 05h46.

O vaivém da bolsa, do câmbio e dos juros foi a marca do mercado financeiro em 2018. O otimismo do início do ano — quando se esperava que a economia cresceria perto de 3% de janeiro a dezembro (hoje, a estimativa é metade disso) — deu lugar ao desânimo depois da greve dos caminhoneiros e da piora do cenário externo. O bom humor voltou com a expectativa positiva gerada pela eleição de Jair Bolsonaro, ainda que existam dúvidas sobre sua capacidade de articular a aprovação de reformas e de medidas de ajuste fiscal. Apesar dos altos e baixos, os últimos 12 meses foram um bom período para fazer investimentos de maior risco. Os fundos de ações e multimercado foram os mais rentáveis desse intervalo, segundo uma pesquisa exclusiva feita pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas.

A rentabilidade desses fundos ficou entre 11% e 12%, enquanto o Ibovespa e o CDI tiveram alta de 7% em 12 meses. A pesquisa da FGV também mostrou quais gestores conseguiram atravessar melhor o período. Para isso, analisou os 1.000 principais fundos que estão abertos para captação, segundo os critérios de risco e retorno. Veja, nas próximas nove páginas, quem são os melhores gestores do país em diferentes categorias (entre elas, ações, multimercado e renda fixa). Eles contam o que preveem para a economia, a bolsa, os juros e o câmbio — e como estão investindo para tentar ganhar dinheiro no próximo ano. Na sequência, é possível consultar a lista dos melhores fundos, que receberam cinco estrelas na avaliação da FGV. A metodologia da pesquisa e as informações dos 1.000 principais fundos do mercado estão disponíveis em EXAME.com.


Veja as instituições financeiras que mais se destacaram na gestão de fundos no Brasil nos últimos 12 meses. O banco Itaú recebeu o prêmio de melhor gestor do ano e o banco BTG Pactual foi escolhido o melhor gestor especialista


EM BUSCA DO CAVALO CERTO

“Para fazer bons investimentos, é preciso acertar na análise do cenário e também na escolha dos ativos que terão o melhor desempenho na conjuntura traçada. Ou seja, é preciso apostar no cavalo certo. Por meio da integração das diferentes equipes que formam a gestora do Itaú, conseguimos isso em 2018. Um exemplo: de maio em diante, a greve dos caminhoneiros e a piora do ambiente externo levaram a um aumento da aversão a risco que desvalorizou o real e, num segundo momento, elevou os juros futuros.

Ganhamos com esse movimento de alta dos juros. Agora, estamos cautelosamente otimistas. Existe uma discussão madura sobre o que precisa ser feito para melhorar a situação fiscal, que é o grande problema do país, mas a solução depende de reformas, e aprovar reformas é sempre complicado. Além disso, o cenário internacional está mais difícil. Quando os Estados Unidos aumentam os juros, os países emergentes têm mais dificuldade para captar recursos, porque aplicar na renda fixa americana passa a ser uma opção. Num ambiente assim, países que fizeram a lição de casa e, portanto, são menos arriscados têm mais chance de atrair investimentos. É o que o Brasil precisa fazer.”

Foto: Germano Lüders


A POLÍTICA FAZ DIFERENÇA

“Os últimos anos deixaram claro que a política tem grande influência no comportamento dos mercados. Não dá para olhar apenas os preços dos ativos e as características de empresas para decidir onde investir: é preciso analisar os fundamentos políticos. Isso vale não apenas para países emergentes, como o Brasil, mas também para os mercados desenvolvidos. O Brexit, na Inglaterra, por exemplo, influi no retorno dos investimentos. Nosso trabalho é tentar antecipar tendências e como elas influenciarão os preços dos ativos, com o objetivo de ganhar dinheiro com isso.

Atualmente, o Brasil vive uma conjuntura favorável: a inflação está baixa e há capacidade ociosa nas empresas, o que permite crescer com juros baixos. Temos um grave problema fiscal, mas, se ele for bem encaminhado, com a reforma da Previdência, estaremos numa situação única, bastante positiva. O problema não precisa ser resolvido completamente para o país avançar, basta que a solução esteja à vista — e estamos confiantes de que isso vai acontecer. Nesse cenário, investir em ações é uma ótima opção. É claro que há riscos. O principal deles é o plano de ajuste fiscal do novo governo não andar ou andar devagar. Vamos acompanhar de perto para, se isso acontecer, conseguir mudar a estratégia de investimento rapidamente e evitar prejuízos.”

Foto: Leandro Fonseca

(1) Gestores especialistas são aqueles cujo patrimônio líquido de fundos elegíveis representa até 0,5% do total de recursos aplicados nos fundos analisados neste ano, ou atendem até no máximo dois segmentos de clientes


Os melhores gestores de fundos de ações estão destacados abaixo


APOSTA NO COMÉRCIO ELETRÔNICO

“O PIB brasileiro deve crescer de forma mais acelerada e, com base nessa previsão, mudamos as carteiras dos fundos. Vendemos ações de empresas exportadoras e passamos a comprar papéis de companhias mais expostas ao mercado interno. O varejo costuma ter um desempenho bom em períodos assim. Nesse segmento, estamos otimistas com o comércio eletrônico, que ainda tem participação pequena no consumo total e vem crescendo. Investimos em ações do Magazine Luiza, que foi capaz de fazer a transição e deixar de ser uma empresa de varejo tradicional para se tornar uma companhia digital.

Quando abriu o capital, em 2011, o Magazine não tinha nenhuma vantagem competitiva no comércio eletrônico. Hoje, tem uma posição de destaque. Até alguns meses atrás, tínhamos um grande investimento em ações de seguradoras, principalmente nos papéis do IRB, uma resseguradora estatal. Esse setor foi um dos que mais contribuíram para o bom desempenho de muitos de nossos fundos de ações em 2018. Mas, hoje, preferimos comprar ações de bancos, porque eles devem se beneficiar de um esperado aumento do crédito, puxado pela retomada da economia.”

Foto: Germano Lüders


RETORNO MULTIPLICADO POR 22

“Ações devem fazer parte do patrimônio do investidor que aplica pensando no longo prazo. Evitamos mudar a carteira de nossos fundos com frequência. Nossa estratégia não é apostar num setor, mas analisar profundamente empresas que podem dar bons retornos. Foi assim que conseguimos resultados extraordinários com os papéis da rede de varejo Magazine Luiza, que começamos a comprar em 2015. Hoje, a ação vale 22 vezes mais e ainda é nossa principal posição. As empresas com exposição ao mercado interno devem se beneficiar do maior crescimento da economia. Investimos recentemente nas ações da rede de ensino Kroton e estamos avaliando a Arezzo, fabricante de calçados, e a Cielo, de meios de pagamento.”

Foto: Germano Lüders

(1) Gestores especialistas são aqueles cujo patrimônio líquido de fundos elegíveis representa até 0,5% do total de recursos aplicados nos fundos analisados neste ano, ou atendem até no máximo dois segmentos de clientes


Os melhores gestores de fundos multimercado estão destacados abaixo


UM REAL MAIS VALORIZADO

“A carta de intenções do novo governo é favorável ao câmbio. O plano é privatizar e fazer concessões, e isso costuma ser financiado, pelo menos em parte, com recursos externos. Além disso, se as perspectivas para a economia continuarem melhorando, teremos mais ofertas de ações e mais investimentos fluindo para a bolsa de forma geral — com a esperada participação de fundos estrangeiros, responsáveis por uma parcela relevante dos negócios do mercado local. O aumento do fluxo de dólares pode fazer o real apreciar. Um real mais valorizado também deve ajudar a manter a inflação sob controle.

Para fazer previsões sobre a inflação, coletamos e processamos uma grande quantidade de dados diversos — da situação das empresas, do comportamento do consumidor, do clima. O objetivo é tentar antecipar movimentos que possam afetar os preços. Acreditamos que os preços ficarão sob controle porque as companhias têm capacidade ociosa e podem crescer de maneira sustentável, sem gerar grande pressão inflacionária. Por isso, projetamos que a taxa básica de juro, a Selic, ficará estável em 6,5% ao ano até o começo de 2020. A maioria dos analistas prevê aumentos para o próximo ano.”

Foto: Germano Lüders


O JURO DEVE CONTINUAR BAIXO

“O brasil tem uma boa história para contar atualmente, por alguns motivos. O Banco Central fez um trabalho formidável de controle da inflação, e isso deve manter os índices de preços baixos por algum tempo. Achamos que os juros estão num patamar suficientemente reduzido, e então não devem cair mais. Mas também não devem subir muito. Se a economia voltar a crescer, uma taxa Selic ao redor de 8% ao ano seria razoável para os próximos anos. Juros nesse patamar estimulam a economia, que tende a se recuperar. O próximo governo tem um bom diagnóstico do problema fiscal: se conseguir avançar no ajuste das contas públicas, veremos o aumento do consumo e a queda do desemprego. Essa é uma situação favorável para a bolsa.

Com base em muita pesquisa, que é nosso lema, nossa equipe de renda variável acredita que as ações dos setores de shoppings, infraestrutura e consumo interno devem valorizar daqui para a frente. Além disso, investimos nos papéis do Banco do Brasil e da Petrobras. Ganhamos dinheiro com essas ações em 2018, mas acreditamos que haja espaço para novas altas, porque apostamos que a melhora da governança das empresas estatais deve continuar.”

Foto: Leandro Fonseca

(1) Gestores especialistas são aqueles cujo patrimônio líquido de fundos elegíveis representa até 0,5% do total de recursos aplicados nos fundos analisados neste ano, ou atendem até no máximo dois segmentos de clientes


Os melhores gestores de fundos de renda fixa e DI e curto prazo estão destacados abaixo


MAIS FATOS, MENOS BOATOS

“Ao contrário do que aconteceu nos últimos meses, daqui para a frente os investidores vão acompanhar os fatos, não os boatos. É preciso analisar as ações do novo governo no Brasil e também os dados internacionais, especialmente a evolução dos juros nos Estados Unidos. De forma geral, estamos otimistas. Investimos em títulos públicos prefixados que vencem em 2022 e em papéis do governo atrelados à inflação com vencimento em 2024 — a relação entre risco e retorno compensa. Mas, para conseguir rendimentos maiores, passamos a aplicar mais em papéis privados.”

Foto: Leandro Fonseca


É MELHOR DESCONFIAR

“Mantemos sempre uma postura cética e desconfiada. no mercado de crédito, se tudo der certo, ganhamos o combinado. Mas, se houver imprevistos, as perdas podem ser grandes. Nossos maiores acertos, muitas vezes, são os investimentos que não fizemos. No cenário atual, estamos especialmente conservadores. Se a reforma da Previdência não sair, os juros podem voltar aos 2 dígitos, algo que prejudica a retomada da economia. Investimos em títulos de empresas de setores com barreiras de entrada. É o caso do setor elétrico, que tem outra vantagem: a proteção contra o aumento da inflação, porque as tarifas são reajustadas por índices de preços.”

Foto: Germano Lüders


OTIMISMO COM AS EMPRESAS

“Com a perspectiva de melhora da economia e dos resultados das empresas, passamos a investir mais em títulos de dívida corporativa, em busca de retornos maiores na renda fixa. No passado, o risco desses papéis não compensava, porque muitas companhias estavam em situação complicada. Isso mudou. Há quatro anos, a participação de títulos privados na carteira dos fundos estava em 5%. Hoje, chega a 20%. A oferta desses papéis tende a aumentar, já que as empresas precisarão de financiamento para crescer.”

Foto Germano Lüders


O BRASIL EM RITMO PRÓPRIO

“Os juros americanos devem subir mais do que o esperado pela maioria dos analistas porque a economia dos Estados Unidos está superaquecida. Isso é ruim para os mercados emergentes, mas acreditamos que o Brasil sofrerá menos. Temos uma dinâmica própria e estamos numa situação relativamente favorável, com juros baixos e inflação sob controle. Diante desse cenário, acreditamos que o Banco Central pode demorar para aumentar os juros aqui. Se o próximo governo conseguir começar a colocar em prática medidas de ajuste fiscal, a alta da taxa Selic poderá ficar para o segundo semestre.”

Foto: Leandro Fonseca


Os melhores gestores de fundos voltados para investidores de alta renda, varejo, varejo seletivo e atacado estão destacados abaixo


A HORA DE CORRER RISCOS

“O mercado de fundos de renda variável ainda é relativamente pequeno no Brasil, mas os investidores, aos poucos, têm entendido que esse tipo de aplicação vale a pena para quem tem um horizonte de longo prazo. Nunca tivemos juros tão baixos por tanto tempo, e a tendência é que isso continue. A consequência é que o rendimento das aplicações de renda fixa não será mais tão interessante quanto no passado. Além disso, a incerteza eleitoral ficou para trás, permitindo correr um pouco mais de risco. Mas, claro, o mercado de ações não é para qualquer um. Quem não quer sofrer tanto com os altos e baixos pode diversificar por meio de fundos multimercado — eles também oscilam, mas menos do que a bolsa, e permitem que o investidor aplique em diferentes ativos, aqui e no exterior.”

Foto: Leandro Fonseca


A IMPORTÂNCIA DO PERFIL

“A adoção mais abrangente do suitability — que determina que as instituições devem considerar os interesses e as necessidades do investidor para vender produtos financeiros a ele — é o processo mais importante que vem acontecendo no mercado. Até fundos de renda fixa podem ter perdas, e o investidor precisa saber disso. Também é fundamental diversificar sempre que possível. Acreditamos que o Brasil voltará a crescer e, por isso, o movimento de sair da renda fixa para a variável faz sentido. Mas, independentemente das oportunidades que surgirem, o investidor precisa entender se está realmente disposto a correr riscos. É importante respeitar seu perfil.”

Foto: Germano Lüders

Veja a lista dos 1.000 fundos analisados pela FGV

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