A nutricionista ayurvédica Laura Pires: “Sistema de saúde complexo,mas fácil de aplicar” | Divulgação /
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2020 às 05h05.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2020 às 10h21.
Como ter uma vida mais saudável? Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares da humanidade. As respostas variam: enquanto alguns enxergam o bem-estar como a ausência de doença e recorrem à alopatia quando algo está errado, outros voltam o olhar para alternativas holísticas, que buscam um entendimento integral do ser humano. Acupuntura, terapia floral, ioga e mindfulness são algumas respostas a esse anseio. Agora, outra sabedoria milenar tem seduzido os brasileiros: o ayurveda. A consultoria de tendências globais WGSN cravou que a prática ancestral vai dominar o segmento de bem-estar em 2021. Outras pesquisas apontam um crescimento dessa indústria. Segundo a Industry Research, o mercado global de ayurveda, que em 2017 era avaliado em 4,5 bilhões de dólares, deverá alcançar 14,9 bilhões de dólares até 2026.
O ayurveda experimenta um ressurgimento dentro e fora de seu país de origem, a Índia. Por aqui, esse novo mercado se traduz principalmente na proliferação de clínicas especializadas e na venda de produtos. Embora grande parte das pessoas busque o ayurveda como última opção depois de enfrentar um problema de saúde que não teve boa evolução com tratamentos alopáticos, o foco desse sistema médico que tem origem há mais de 5.000 anos é o equilíbrio da mente e do corpo por meio de dieta e de rituais. Para a nutricionista e terapeuta ayurvédica Laura Pires, o ayurveda evita que pequenos desequilíbrios se agravem a ponto de se tornar doenças crônicas. Ela conheceu a terapia em 2006, em busca de um tratamento que a ajudasse a viver melhor com o diagnóstico de esclerose múltipla. “Havia muito preconceito. As pessoas achavam que era uma dieta e um monte de massagem para alinhar os chacras, e não é nada disso. O ayurveda é um sistema de saúde complexo, mas simples de aplicar.” Reduzir qualquer sistema médico a suas terapêuticas é um erro comum. O ayurveda, “a ciência da vida” na tradução do sânscrito, é muito mais do que um regime alimentar e os rituais que costumam atrair praticantes por aqui. Mas isso não significa que eles não sejam uma boa porta de entrada à prática.
A Holistix nasceu como um projeto pessoal da então gerente de marketing e atual health coach Nicole Vendramini para inspirar hábitos saudáveis, com um pilar forte no ayurveda. “Conheci a prática na Espanha, onde decidi fazer um curso. Levei isso para minha empresa, oferecendo produtos e sugestões de hábitos a quem quer uma vida saudável mas não sabe como começar”, diz Nicole. Na página da marca na internet ou no Instagram, hoje com 53.000 seguidores, estão à venda raspadores de língua para eliminar resíduos e shots matinais em pó à base de cúrcuma, um anti-inflamatório natural, por preços que variam de 60 a 75 reais, além de dicas para incorporar os rituais na vida diária.
Para o ayurveda, a ajuda para combater o desequilíbrio pode vir em forma de limpezas gastrintestinais, massagens, dieta e aplicação de óleos. Mas, se seu objetivo é mergulhar de cabeça na prática milenar, precisa saber que pode não ser tão simples. “As pessoas partem de um princípio de que o ayurveda é sobre passar óleo no corpo e um monte de práticas físicas que ficaram famosas. Mas, na verdade, uma das principais recomendações de rotina diária é que todo mundo acorde cedo, de preferência antes de o sol nascer, e observe seu corpo”, explica Matheus Macêdo, médico ayurvédico e idealizador do ConVIDA, congresso online de medicina integrativa que, em sua primeira edição, no começo de fevereiro, teve mais de 14.000 inscritos e 165.000 acessos.
Segundo o ayurveda, a natureza é composta de cinco elementos essenciais: espaço ou éter, ar, fogo, água e terra. De forma semelhante, toda essa alquimia acontece dentro de nosso corpo, em cada tecido. No sistema biológico, os cinco elementos se combinam, levando a três biotipos principais, ou doshas — sendo um predominante e outros secundários, que se combinam ao longo da vida e das situações. A orientação de não contrariar a própria natureza se traduz nos doshas: quando comemos, bebemos ou nos comportamos de forma não apropriada ao nosso dosha, causamos desequilíbrio e a doença acontece. “Não importa se você foi ao médico, se seus exames estão maravilhosos. Você está se sentindo mal? Então tem um problema. Na visão do ayurveda, sofrimento é igual a doença. Se você está infeliz, precisa de ajuda”, explica Macêdo.
Os três pilares do ayurveda são ahara, ou alimentação; nidra, ou sono; e brahmacharya, que pode ser interpretado, de acordo com Macêdo, como uma forma de viver que não contrarie sua natureza, por meio da auto-observação. “Considero esse terceiro pilar o mais importante”, diz o médico. “Estamos sempre olhando para o lado e para fora, nunca para dentro. Se você não sabe como está se sentindo, não nota quando algo está errado com sua saúde.”