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"O professor deve ser um mentor", diz educador Marc Prensky

Para o americano Marc Prensky, escritor e palestrante especializado em educação, a nova geração terá o poder de decidir o que quer aprender

O educador Marc Prensky: “O aprendizado virou um meio para chegara um objetivo, que, no fundo, é formar indivíduos transformadores” (Divulgação/Exame)

O educador Marc Prensky: “O aprendizado virou um meio para chegara um objetivo, que, no fundo, é formar indivíduos transformadores” (Divulgação/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 14 de dezembro de 2017 às 05h55.

O americano Marc Prensky, de 71 anos, é um otimista sobre o futuro da educação. Para Prensky, que estudou em universidades prestigiadas como Harvard e Yale e escreveu sete livros sobre o tema, hoje os professores devem trabalhar como mentores, estimulando as crianças a pensar em soluções criativas para os problemas da sociedade. Atualmente, segundo ele, um bom ensino é aquele que faz o aluno descobrir qual é seu propósito e aprender a usar as ferramentas para mudar o mundo. Na entrevista a seguir, concedida em São Paulo durante o lançamento da Concept, escola do grupo educacional SEB da qual é consultor pedagógico, Prensky explica o impacto da mudança em sala de aula.

Como o modelo educacional deve se adaptar ao mundo atual?

Por séculos, o conhecimento acadêmico funcionou bem para ensinar matemática, línguas e ciências. Isso não funciona mais. A tecnologia trouxe instabilidade. O mercado de trabalho está mudando rapidamente. As crianças hoje têm mais poder de aprender sozinhas do que no passado. A educação tradicional não se encaixa mais às necessidades delas.

Quais são as alternativas?

Temos de dar poder às crianças para elas decidirem o que querem aprender. O professor precisa ter um papel de mentor dos desejos do aluno, e não o de mero retransmissor de conteúdo. A criança precisa hoje do professor não para receber conhecimento, que ela pode encontrar facilmente na internet, mas para guiá-la na busca do que gosta de fazer.

O que o senhor quer dizer com “dar mais poder às crianças”?

É mostrar às crianças coisas que elas enxergam como problemas no mundo e estimulá-las a encontrar soluções. Por exemplo, se há crianças que se preocupam com a violência policial contra jovens negros, o papel da educação é instigá-las a resolver o problema. Uma maneira é usar o tema como ponto de partida para as aulas de história e sociologia, e ensinar habilidades importantes para a vida profissional, como criar um aplicativo para avaliar a qualidade do atendimento policial. O aprendizado virou um meio para chegar a um objetivo, que, no fundo, é formar indivíduos transformadores.

Os professores estão preparados para a mudança de função?

Não estarão preparados se enxergarem a si mesmos como provedores de conteúdo. Alguns profissionais vão entender a mudança, mas outros vão sair da profissão.

Qual é o perfil ideal de professor para os novos tempos?

O critério mais importante para dar aulas hoje é ter empatia. A pessoa gosta de trabalhar com crianças? Gosta de aconselhar os outros a seguir seus propósitos? Então pode dar aulas. O conhecimento acadêmico do professor deveria vir em segundo plano.

Como avaliar a qualidade do ensino atualmente?

Hoje é comum criar rankings para tudo: as melhores escolas, os melhores professores etc. Acho isso uma bobagem. Prefiro avaliar a entrega: quem de fato produziu algo. É a mesma coisa nos negócios. Os profissionais bem avaliados são os que entregam aquilo que se propuseram a fazer.

Haverá sala de aula no futuro?

Na minha opinião, não. O modelo de sala de aula vai mudar. Recentemente, visitei uma escola em Palo Alto, na Califórnia, em que todos os móveis das salas tinham rodas para que pudessem ser movidos de um lado para o outro, dependendo da atividade. Veremos cada vez mais exemplos de soluções assim. 

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