Revista Exame

O Oscar da exportação brasileira

Prêmio Melhores dos Negócios Internacionais reconhece a força das empresas que se destacaram no mercado internacional em um ano marcado por obstáculos externos

Prêmio Melhores dos Negócios Internacionais reconhece a força das empresas que se destacaram no mercado internacional em um ano marcado por obstáculos externos (Eduardo Frazão/Exame)

Prêmio Melhores dos Negócios Internacionais reconhece a força das empresas que se destacaram no mercado internacional em um ano marcado por obstáculos externos (Eduardo Frazão/Exame)

Soraia Alves
Soraia Alves

Repórter de Projetos Especiais

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 06h00.

Todos os anos, grandes dicionários tentam capturar o espírito do tempo ao eleger a “palavra do ano”, um termo capaz de traduzir tendências, debates e os sentimentos que marcaram aquele período. Em 2025, se coubesse ao exportador brasileiro escolher a palavra do ano, o resultado seria unânime: “tarifaço”. Mais do que um jargão econômico, o termo representou uma sobretaxa de 50% aplicada pelo governo dos Estados Unidos sobre diversos produtos brasileiros vendidos ao país. Assim que foi aplicada, em agosto, a medida atingiu cerca de 36% do total de exportações nacionais com destino aos EUA, e levou setores tradicionais, como o de agronegócio, a enfrentar margens comprimidas e negociações mais duras.

“Este não foi um ano fácil. Quando pensávamos que estava indo tudo bem, veio o tarifaço. Apesar da apreensão, quando soubemos da medida, tivemos confiança de que havíamos ‘feito o dever de casa’. Nos últimos anos, percorremos o mundo inteiro para garantir a diversificação do mercado exportador brasileiro. Redesenhar esse mapa das exportações mostrou a capacidade de adaptação das empresas nacionais”, avalia Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Eduardo Sattamini (no centro): CEO da Engie recebeu o prêmio pela empresa na categoria Investimento Estrangeiro (Eduardo Frazão/Exame)

Nesse contexto, a segunda edição do Prêmio Melhores dos Negócios Internacionais foi ainda mais especial por celebrar a resiliência e a capacidade- de reação das empresas exportadoras do país em 2025. Realizada pela ApexBrasil em parceria com a EXAME, a premiação reconhece as organizações que têm impulsionado o Brasil no mercado global e que levam produtos, serviços e inovações do país para o mundo. Como diz Viana: “É o Oscar de quem trabalha para exportar e conquistar mercados internacionais”.

Realizado em dezembro no Teatro B32, em São Paulo, o evento reuniu mais de 400 convidados, incluindo autoridades especialistas em comércio exterior e representantes do ecossistema de inovação. A cerimônia revelou 19 empresas que se destacaram ao longo do ano no mercado internacional, e funcionou como um termômetro do movimento de internacionalização brasileira em um momento desafiador.

A escolha do local, no coração financeiro de São Paulo, reforçou o simbolismo de um país que segue olhando para fora, mesmo em tempos de ventos contrários. “É um prazer poder reconhecer quem leva o Brasil para a frente. O empreendedor brasileiro que conquista o mundo, mesmo nesse cenário tão complexo, é um herói. É alguém que está acostumado a superar desafios com criatividade, a juntar o hard com o soft power para levar não só qualidade, mas também o jeito brasileiro de se posicionar perante o mundo e entregar produtos tão diversos quanto os desse prêmio, que vão de bens industriais a café”, destacou Lucas Amorim, diretor de redação da EXAME.

Fernanda Stefani, cofundadora e CEO da 100% Amazônia: “Receber este prêmio é uma consagração do trabalho que temos feito há 15 anos” (Eduardo Frazão/Exame)

O Brasil é o momento

Antes de iniciar a entrega dos troféus — uma escultura da artista plástica Christina Motta —, o Prêmio Melhores dos Negócios Internacionais 2025 contou com uma apresentação de dança da Associação Fernanda Bianchini, grupo composto de bailarinos com deficiência visual. Em um espetáculo que mesclou sensibilidade, técnica e força narrativa, os dançarinos transformaram o palco em uma metáfora sobre superação, dialogando diretamente com o espírito da premiação.

Nos negócios, essa resiliência pode ser medida em números concretos. Apesar dos desafios, dados consolidados da Balança Comercial em novembro mostram que as exportações cresceram 2,4% e somaram 28,51 bilhões de dólares, em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Para Viana, os números reforçam não só o sucesso da promoção dos negócios brasileiros no mundo, mas um movimento ainda maior. “É um resultado que mostra a sinergia entre a Apex e as empresas, mas também destaca quanto o Brasil está em um momento de destaque no mundo. Sediamos o G20, assumimos a presidência do Brics, estamos presidindo o Mercosul e realizamos a COP30, só para citar alguns eventos internacionais que colocaram o país sob holofotes. Não há dúvidas de que o Brasil voltou a ter protagonismo no mundo”, analisa.

Ybyrá Biodesign da Amazônia: empresa integrante do Programa Selo Amapá venceu na categoria Promoção da Biodiversidade (Eduardo Frazão/Exame)

Em seu discurso antes de anunciar os vencedores, o presidente da ApexBrasil também comemorou a iminência do acordo entre o Mercosul e a União Europeia e o impacto que ele pode ter para a economia. Segundo ele, enquanto o PIB dos Estados Unidos é de 29 trilhões de dólares, e o da China, de 19 trilhões de dólares, o tamanho do PIB com o fechamento do acordo pode chegar a 22 trilhões de dólares. “Estamos falando de um PIB maior do que o da China. Esse acordo pode criar o maior bloco econômico do mundo”, disse Viana. O acordo Mercosul-UE, cuja assinatura deve acontecer em janeiro de 2026, promete ampliar as opções de mercados internacionais para as quase 21.000 empresas apoiadas pela ApexBrasil.


Os Melhores dos Negócios
Internacionais 2025

Os finalistas foram indicados por uma comissão julgadora composta de representantes da ApexBrasil, da EXAME, do Sebrae, e dos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e das Relações Exteriores. Em 2025, o prêmio recebeu mais de 350 inscrições, número 75% superior em relação ao ano passado. As categorias contemplaram empresas de diferentes portes e setores, avaliando critérios como estratégia internacional, inovação, impacto econômico, sustentabilidade e capacidade de adaptação a ambientes regulatórios complexos.

Em comum, os vencedores demonstraram protagonismo em um cenário no qual improviso deu lugar a planejamento e visão de longo prazo. “Esse prêmio mostra que o mercado internacional é importante e faz diferença para o desenvolvimento dessas empresas e da economia brasileira. E que isso é acessível para todo e qualquer tipo de empresa, de qualquer estado e de qualquer setor”, avalia Ana -Repez-za, diretora de negócios da ApexBrasil.

Intelbras: companhia recebeu o troféu na categoria Indústria (Grandes Empresas) (Eduardo Frazão/Exame)

Uma das maiores produtoras globais de carne bovina e líder em proteí-nas de alto valor agregado, a Marfrig levou o prêmio de Empresa Exportadora do Ano (Grandes Empresas). Com operações na América do Sul e nos Estados Unidos, a companhia é reconhecida por sua forte presença nos mercados mais exigentes do mundo, exportando cortes bovinos in natura, produtos processados e itens premium destinados aos canais de varejo e food service. “É uma honra receber esse prêmio e representar um ecossistema que, desde a fusão entre Marfrig e BRF, conta com mais de 130.000 funcionários e cerca de 200.000 famílias exportadoras”, disse Marcos Molina, presidente do conselho do grupo MBRF (Marfrig/BRF).

O setor de carnes, em especial o de carne bovina, esteve entre os mais impactados pelo tarifaço americano, dada a sensibilidade do produto no mercado dos Estados Unidos e o peso estratégico dessa rota comercial. Com a imposição de sobretaxas que elevaram substancialmente o custo de entrada da proteína brasileira naquele país, empresas como a Marfrig viram suas margens pressionadas e tiveram de ajustar rapidamente a inteligência comercial — movimento que exigiu reposicionamento de volumes para outros destinos e reforço de negociações no Oriente Médio, Sudeste Asiático e Europa.

Mesmo sob pressão, a Marfrig conseguiu transformar adversidades em vantagem competitiva. A companhia acelerou suas estratégias de diversificação de mercados, ampliou contratos com clientes premium na Ásia e na Europa e investiu em produtos de maior valor agregado, com melhor equilíbrio entre volume e margem. Ao mesmo tempo, fortaleceu iniciativas de sustentabilidade e de rastreabilidade, que funcionaram como diferenciais importantes em mercados menos suscetíveis às tensões tarifárias. Essa combinação permitiu que a empresa preservasse participação global e mantivesse uma base sólida de receitas, mesmo com o cenário desafiador.

Guilherme Nolasco, presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem): agronegócio foi um dos mais afetados pelo tarifaço dos EUA em 2025 (Eduardo Frazão/Exame)

A conquista do prêmio reconhece justamente essa capacidade de navegar em águas turbulentas sem perder direção estratégica. Em um ano em que o tarifaço poderia ter freado avanços de empresas brasileiras em proteínas animais, a Marfrig mostrou agilidade, escala, relacionamento global e uma visão clara de longo prazo.

Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados): organização celebrou a vitória na categoria Destaque Projeto Setorial Indústria e Serviços (Eduardo Frazão/Exame)


Da Amazônia para o mundo

Vencedora do prêmio de Empresa Exportadora do Ano (Pequenas e Médias Empresas), a 100% Amazônia representa uma das faces mais vibrantes da nova economia da floresta. Com sede no Pará, a empresa nasceu com a missão de transformar bioativos da Amazônia em ingredientes de alto valor agregado para a indústria global. Seu portfólio inclui óleos essenciais, manteigas vegetais, polpas concentradas, farinhas e extratos utilizados nos setores de alimentos, cosméticos, bebidas e bem-estar — todos desenvolvidos com foco em sustentabilidade e impacto positivo nas cadeias produtivas regionais.

Com isso, a companhia se tornou um exemplo de como a biodiversidade brasileira pode gerar negócios sofisticados e internacionalizáveis. “Receber esse prêmio é uma consagração do trabalho que temos feito há 15 anos, atuando com comunidades e mostrando que a Amazônia é uma região rica e capaz de nos dar produtos que são demandados pelo mundo todo”, destaca Fernanda Stefani, CEO da 100% Amazônia.


Marcos Molina, presidente do conselho do grupo MBRF (Marfrig/BRF): Marfrig foi reconhecida por sua forte presença nos mercados mais exigentes do mundo (Eduardo Frazão/Exame)

CONFIRA A LISTA DE VENCEDORES

Categoria

Empresa

Promoção da Sociobiodiversidade

Ybyrá Biodesign da Amazônia

Desenvolvimento regional

Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapi)

Liderança e diversidade

Plot Kids

Cooperativismo de pequeno e médio porte

(Até 10.000 cooperados/associados)

Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre)

Cooperativismo de grande porte

(Mais de 10.000 cooperados/associados)

Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé)

Indústria

(Micro, pequenas ou médias empresas)

Vasap Design

Indústria (Grandes empresas)

Intelbras

Serviços

(Micro, pequenas e médias empresas)

Capyba

Serviços (Grandes empresas)

Stefanini Group

Agro (Micro, pequenas e médias empresas)

Zebuembryo

Agro (Grandes empresas)

Grupo 3corações

Comerciais Exportadoras

MasterInt. Group

Promoção digital

Diagnext

Startup

Twiggy

Investimento estrangeiro

Engie

Destaque Projeto Setorial Agro

União Nacional do Etanol de Milho (Unem)

Destaque Projeto Setorial Indústria e Serviços

Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados)

EMPRESA EXPORTADORA DO ANO

(Micro, pequenas e médias empresas)

100% Amazônia

EMPRESA EXPORTADORA DO ANO

(Grandes empresas)

Marfrig

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