Revista Exame

O mapa do crescimento do Apontador

Durante dez anos, o Apontador se preparou para a explosão dos aparelhos móveis e da geolocalização — agora, chegou a hora de lucrar com isso

Frederico Hohagen, Anderson Thees e Rafael Siqueira, do Apontador: 600 000 downloads de aplicativos para celular e aposta no mercado de serviços de geolocalização (Germano Lüders/EXAME.com)

Frederico Hohagen, Anderson Thees e Rafael Siqueira, do Apontador: 600 000 downloads de aplicativos para celular e aposta no mercado de serviços de geolocalização (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2013 às 14h49.

O paulistano Rafael Siqueira tinha 23 anos quando, com papel e caneta em mãos, saiu de casa para uma empreitada ambiciosa. Durante vários dias, Siqueira percorreu a cidade de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, anotando nomes de ruas e números de residências e de estabelecimentos comerciais.

A tarefa foi reproduzida por outras 500 pessoas contratadas por ele em 43 cidades do país. O ano era 2000, e Siqueira havia acabado de trancar a faculdade de engenharia mecatrônica na Universidade de São Paulo para levar a sério seu maior hobby: criar mapas virtuais.

O mutirão montado para mapear cidades brasileiras seria o embrião de uma empresa especializada em traçar rotas via internet fundada naquele ano por Siqueira e outros três sócios.

Dez anos mais tarde, com clientes como Google, Microsoft e Unilever na carteira, o Apontador é a maior referência em serviços de localização geográfica online da América Latina e uma das empresas brasileiras mais bem-sucedidas no mercado de aplicativos para celulares.

O começo

Como costuma ocorrer com startups, os primeiros anos do Apontador não fo­ram fáceis. Em 2000, a internet brasileira engatinhava. Naquele ano, o UOL, uma das grandes empresas do setor, se lançaria na concorrência com o Map­Link. Para piorar, os sócios abandonaram o barco logo nos primeiros dois anos, e Siqueira ficou sozinho no negócio.

Mas não desistiu. Apoiou-se em investidores dos grupos Unicoba e JAG, que injetaram 3,6 milhões de reais na empresa até 2004. O ano de 2008 marcou outra virada para o Apontador. Em abril, após a fusão com o MapLink, a rivalidade com o UOL ficou para trás.

Sob a coordenação do executivo paulistano Frederico Hohagen, o MapLink assumiu o desenvolvimento de mapas e rotas, enquanto o Apontador se especializou em serviços de busca local.

O foco do negócio passou a ser o desenvolvimento de serviços de geolocalização para dispositivos móveis. “Desde o início, sabíamos que o futuro estava nos serviços móveis de localização, mas tínhamos de esperar o momento certo para nos dedicar com força a isso”, diz Siqueira.

Com a base de informação geográfica e de mapas reunida ao longo dos anos, o Apontador se vê hoje em posição privilegiada num mercado em expansão. Em todo o mundo, segundo o instituto de pesquisas Gartner, o mercado de serviços de localização para consumidores movimenta 2,9 bilhões de dólares ao ano — até 2014, esse valor deve alcançar 8,2 bilhões.

“Com planos de banda larga móvel mais acessíveis e o aumento da base de smartphones, a geolocalização hoje vive um boom”, diz Annette Zimmerman, analista do Gartner. Serviços que combinam ofertas com informações geográficas de clientes e usuários se multiplicam a cada dia.

Quem usa redes sociais para avisar a amigos que está dentro de uma loja da rede Starbucks ou de um varejista, por exemplo, pode imediatamente ganhar um cappuccino ou descontos em compras.

O primeiro aplicativo para celulares do Apontador, um programa que oferece informações sobre trânsito em tempo real, foi lançado em novembro de 2008. De lá para cá, outros 15 aplicativos para aparelhos de diversas plataformas chegaram ao mercado brasileiro.

No total, as criações da empresa no ambiente móvel somam mais de 600 000 downloads. No Brasil, aplicativos como Apontador Trânsito, Radar, Rodoviário e Postos estão entre os dez mais baixados no país na categoria navegação na loja virtual da Apple.


Expansão

Eleito pela empresa de pesquisas em internet comScore a companhia mais próspera da web na América Latina em 2009, o Apontador ganhou projeção. Em três anos, o número de visitantes únicos do site, que concorre com serviços como o Google Maps, mais que quadruplicou, alcançando 8 milhões em janeiro de 2011.

A profissionalização da gestão tornou-se um imperativo e, em fevereiro, Anderson Thees, ex-investidor do grupo de mídia sul-africano Naspers, passou a integrar a equipe. “Acompanho o crescimento de empresas do setor há anos, e o potencial do Apontador sempre chamou a minha atenção”, diz. Converter prestígio em receitas é hoje o principal desafio do Apontador.

A companhia não divulga dados oficiais, mas estimativas de mercado apontam para um faturamento ainda abaixo da casa da centena de milhões de reais.

A principal cartada para aumentar as receitas é um novo serviço voltado para pequenas empresas e profissionais liberais, lançado em março. O movimento é semelhante ao que faz hoje a americana Yelp, site que combina avaliações de restaurantes e lojas com serviços de geolocalização e que recusou uma oferta de compra do Google de mais de meio bilhão de dólares em 2009.

Estabelecimentos como farmácias, restaurantes ou padarias poderão customizar páginas no portal ou optar por receber ajuda sobre como fazê-lo.

 A ideia é que a rede seja usada para trazer negócios do mundo online para o offline, uma tendência prevista por Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired e autor da teoria da cauda longa. Os executivos do Apontador estimam que existam mais de 10 milhões de negócios formais e informais no Brasil. “Em quatro anos, essa deve ser nossa maior fonte de receita”, diz Thees.

Hoje, 80% do faturamento da empresa vem de clientes corporativos, e 20%, de publicidade. “Os comerciantes locais migrarão sua verba de publicidade para mídias mais especializadas, o que torna o plano de crescimento do Apontador bastante possível”, diz Nitesh Patel, analista sênior da consultoria de mercado e pesquisa em tecnologia Strategy Analytics.

Para alguns especialistas, a expectativa é que, assim como em 2004 as tecnologias sociais começaram a deslanchar, 2011 será o ano da expansão das empresas e dos serviços de localização online. A americana Foursquare, rede social de serviços baseados em geolocalização por aparelhos móveis, surgiu há dois anos e já soma 7 milhões de usuários.

Recentemente, o Twitter adicionou o recurso de localização de mensagens (no Brasil, o Apontador foi parceiro no serviço). Mesmo o Google, que lidera o setor de consulta online de mapas, usa os mapas cartográficos da empresa brasileira como base para o serviço Google Maps.

“Eles têm mais parceiros do que concorrentes e estão aproveitando as novas oportunidades para crescer rápido”, diz Alex Banks, analista da comScore. De mãos dadas com os gigantes e com as startups, o Apontador está seguro do caminho escolhido para o crescimento. E de rotas e localização eles entendem.

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