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O exemplo de Singapura para o Brasil

Ao investir em ciência, o país asiático desenvolveu indústrias de ponta. Para o conselheiro da agência de inovação, o objetivo agora é avançar ainda mais

Raj Thampuran, de Singapura: “As empresas vão aonde estão os talentos” (Germano Lüders/Exame)

Raj Thampuran, de Singapura: “As empresas vão aonde estão os talentos” (Germano Lüders/Exame)

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Filipe Serrano

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 05h12.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 15h57.

Conhecida por ser um importante centro comercial e industrial do Sudeste Asiático, Singapura é exemplo de um país que conseguiu se desenvolver investindo pesadamente em ciência e tecnologia. Boa parte do avanço se deve ao trabalho da Agência de Ciência, Tecnologia e Pesquisa, conhecida como A*Star, que reúne 4.800 cientistas e trabalha de perto com as empresas para financiar pesquisas.

À frente da instituição está o engenheiro mecânico Raj Thampuran, que foi diretor da A*Star de 2012 a 2019 e agora é um de seus principais conselheiros. Numa visita recente ao Brasil, o Dr. Raj, como é conhecido, falou a EXAME sobre a importância da ciência para a economia.

Singapura é um país pequeno, com 5 milhões de habitantes. Por que investir numa agência de inovação avançada?

Quando a agência surgiu em 1991, a razão era desenvolver nossas indústrias, em particular a manufatureira. Precisávamos elevar os padrões para que ela tivesse mais valor agregado. E tínhamos a aspiração de nos tornar uma economia baseada em conhecimento. Para isso, a inovação é um componente crítico.

Qual é hoje o tamanho da agência?

A A*Star tem 20 institutos, com mais de 5.000 funcionários. Cerca de 4.800 são cientistas e engenheiros. Metade deles tem doutorado. E, desses, metade vem de 61 países diferentes.

O investimento em pesquisa fez diferença para a economia de Singapura nas últimas décadas?

A capacidade de inovar é vital para qualquer economia. Simplesmente porque essa é a vantagem competitiva das companhias. E a habilidade das empresas de encontrar talentos e de ter acesso à infraestrutura de pesquisa acelera a capacidade delas de inovar. Na história de Singapura, esse investimento foi vital. Não temos recursos naturais ou outros atributos. Outro resultado importante é a construção de talento. As empresas vão aonde estão os talentos. Todo ano, de 20% a 25% dos pesquisadores deixam a agência para trabalhar nas empresas.

Por que essa troca de cientistas é importante?

Essa é a forma mais efetiva de transferir tecnologia. Os pesquisadores vão trabalhar nas empresas e, então, nós recrutamos novas pessoas. É algo que faz crescer a capacidade científica e tecnológica das indústrias. Como consequência, o perfil de nossa indústria mudou drasticamente.

Mudou em que sentido?

Na área de eletrônicos, nossa indústria era predominantemente focada na produção de discos rígidos nos anos 90. Mas hoje o foco são os semicondutores. É isso que quero dizer com a mudança de perfil. São empresas com muito mais valor agregado. Isso gera empregos bem qualificados.

Quais áreas devem se desenvolver mais daqui para a frente?

Biomedicina, alimentos e nutrição são áreas em que nós estamos fazendo bastante investimento. E vamos ter certamente muitas tecnologias relacionadas aos serviços digitais.

Há como aumentar a colaboração com empresas brasileiras?

Sim. Temos 60 empresas de Singapura operando no Brasil. E há empresas brasileiras em Singapura também. Há laços entre os dois países em níveis diferentes. E uma das coisas que exploramos é conseguir desenvolver laços também na ciência. Empresas brasileiras que quiserem desenvolver produtos adaptados ao mercado asiático poderiam usar Singapura como base, por exemplo. Há muita oportunidade. 

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