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Seu dinheiro — Você pode ser obrigado a vender sua debênture

A queda dos juros no Brasil está provocando uma mudança num segmento do mercado de renda fixa, o de títulos de dívida de empresas

Rodovias administradas pela CCR (Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens/Divulgação)

Rodovias administradas pela CCR (Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 1 de março de 2018 às 05h00.

Última atualização em 1 de março de 2018 às 05h00.

A queda dos juros no Brasil está provocando uma mudança num segmento do mercado de renda fixa, o de títulos de dívida de empresas. Muitas companhias estão aproveitando os juros mais baixos para reduzir seu custo de financiamento da seguinte forma: elas recompram os papéis que emitiram no passado — e pagavam rendimentos elevados aos investidores — e lançam papéis que rendem menos. Em 2017, pelo menos 63 debêntures, os principais títulos privados do mercado, foram recompradas antes do vencimento. Neste ano, foram mais nove, segundo a empresa de informações financeiras Thomson Reuters.

Se a empresa decide recomprar, o investidor é obrigado a vender, o que pode ser uma vantagem para quem precisa de dinheiro, já que o mercado de títulos privados tem pouca liquidez, ou seja, é difícil negociar esses papéis antes do vencimento. “O problema é que não existem mais opções tão rentáveis quanto as de dois anos atrás na renda fixa”, diz Rubens Machado, diretor da mesa de crédito privado da empresa de investimentos XP. Ou seja, se for aplicar o dinheiro novamente, o investidor terá de se contentar em ganhar menos — ou correr mais riscos na bolsa e em fundos multimercado.

Um exemplo: a concessionária de rodovias CCR recomprou debêntures que foram emitidas em 2015 e rendiam 124% do CDI e emitiu novos papéis que pagam 107% do CDI (o que, atualmente, equivale a pouco mais de 7% ao ano). Os especialistas recomendam procurar papéis que ofereçam um prêmio ao investidor caso a empresa decida recomprar antes do vencimento. E, se a diferença de rentabilidade em relação aos títulos públicos for pequena, é melhor optar pelos papéis públicos — o governo faz leilões quando quer recomprar, mas o investidor não é obrigado a participar.


PARA LEMBRAR

TECNOLOGIA

As ações do setor de tecnologia lideram a recuperação da bolsa americana, depois do mini-crash do início de fevereiro. Em quase 20 dias, o principal índice do setor, o S&P 500 Information Technology, subiu 12% e bateu novo recorde histórico (no mesmo período, o S&P 500 valorizou 8%). A alta se deve aos bons resultados das empresas — as ações da fabricante de eletrônicos HP, por exemplo, subiram mais de 5% num dia, depois de a empresa divulgar vendas acima do esperado.


ATENÇÃO

MARCOPOLO

Com um lucro dois terços menor,

de 82 milhões de reais, a fabricante de carrocerias de ônibus Marcopolo decepcionou ao divulgar os resultados de 2017.

A companhia promete recuperar as perdas aproveitando que as empresas que têm concessões públicas para fazer o transporte de passageiros são obrigadas, por contrato, a renovar parte de sua frota neste ano. Por enquanto, os analistas estão ressabiados: apenas dois dos 13

que acompanham as ações recomendam comprá-las.


PESQUISA 

ENDIVIDADOS. MAS OTIMISTAS

Loja em São Paulo: a queda da inflação anima os brasileiros | Germano Lüders

A multiplicação das dívidas continua sendo um problema para os brasileiros. Quase 60% dos entrevistados numa pesquisa inédita da consultoria MindMiners, que ouviu 1 000 pessoas em diferentes regiões do país, disseram ter, no mínimo, duas dívidas pendentes. Eles devem para bancos, lojas, governo e até para familiares e amigos. Do total, 20% têm entre quatro e seis dívidas, e 4% têm dez ou mais. Consequência disso: menos de um terço dos entrevistados disse estar satisfeito com sua situação financeira. Mas 51% acreditam que ela melhorou em 2017 e 69% acreditam que deve melhorar neste ano. Para a MindMiners, o otimismo se deve à queda da inflação, que aumentou o poder de compra, e ao início de retomada da economia.


CORRETORAS

SOBRARAM 75

Bolsa brasileira: as tarifas caíram, apesar de haver menos corretoras | Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress

Nunca houve tão poucas corretoras de valores no país: hoje, estão abertas 75, o menor número da série de dados do Banco Central, que começou em 2000. Algumas corretoras não conseguiram se manter quando a bolsa de valores abriu o capital em 2007 e decidiu cortar os subsídios que dava a essas empresas. Outras foram vendidas ou fecharam por falta de clientes, já que, durante a crise, milhares de investidores saíram da bolsa. Mas isso acabou sendo uma boa notícia para os investidores: as corretoras que sobraram passaram a disputar clientes ferozmente, reduzindo as taxas que cobram. “No setor bancário, a concentração levou ao aumento das taxas. Já as corretoras cobram pouco e tentam ganhar oferecendo serviços”, diz Joelson Sampaio, professor na Fundação Getulio Vargas em São Paulo.


ENTREVISTA

Os fundos multimercado foram os que mais receberam investimentos no Brasil nos últimos 12 meses — e o Pimco Income, da gestora americana Pimco, ficou em primeiro lugar num ranking feito pela empresa de informações financeiras Economatica. O fundo, que aplica em títulos de renda fixa no exterior, recebeu 10 bilhões de reais no acumulado desse período. O rendimento ficou em 14%. Luis Otavio Oliveira, vice-presidente sênior da Pimco no Brasil, diz por que o fundo está investindo mais nos mercados desenvolvidos do que no Brasil.

Por que investir em renda fixa no exterior se os juros brasileiros, embora tenham caído, ainda são altos numa comparação internacional?

Quem compra títulos privados, como as debêntures, deveria ganhar os juros mais um prêmio que compense o risco de perder dinheiro se a empresa der ca-lote e também a falta de liquidez dos papéis, o que torna difícil negociá-los antes do vencimento. Mas, no Brasil, o investidor só ganha prêmio de consolação. Há poucos emissores para muitos compradores, por isso o rendimento é baixo. No exterior, é possível conseguir prêmios maiores.

Que mercados lá fora valem a pena?

Investimos em cerca de 2 000 papéis diferentes de renda fixa, de governos e empresas de 20 a 30 países. Como os ativos já estão valorizados no mundo todo, procuramos diminuir o risco aplicando em papéis de mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos e Europa. Mas sempre buscamos oportunidades.


BOLSA

RECORDE E MAIS NEGÓCIOS

Depois do sobressalto causado pela queda da bolsa de Nova York no início de fevereiro, a bolsa brasileira voltou a subir — e a bater recordes. Somente neste ano foram 16, o que levou o Ibovespa a passar dos 87 000 pontos. O bom desempenho está atraindo mais investidores, o que fez com que o volume diário de negócios em 2018 seja o mais alto da história da B3 (novo nome da bolsa brasileira). O número de papéis que foram negociados em todos os pregões chegou a 242, 43% do total do mercado. É o triplo do que se via em 2002. Isso indica que os investidores buscam alternativas. Ainda assim, boa parte do volume de negócios continua concentrada em poucas ações. Apenas 20 respondem por quase 60% da movimentação financeira da B3. Sozinha, a ação preferencial da Petrobras abocanha 9% do volume do mercado.

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