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O chinês que perde 4,5 milhões de dólares por dia

O chinês Zhengrong Shi, dono da Suntech, maior fabricante de painéis solares do mundo, luta para estancar a hemorragia de sua empresa na bolsa de valores

Zhengrong Shi, empresário chinês, fundador e presidente da Suntech, maior fabricante de painéis solares do mundo (Ryan Pyle/The New York Times/LatinStock)

Zhengrong Shi, empresário chinês, fundador e presidente da Suntech, maior fabricante de painéis solares do mundo (Ryan Pyle/The New York Times/LatinStock)

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Da Redação

Publicado em 12 de abril de 2012 às 10h32.

Nova York - O chinês Zhengrong Shi vivia um momento único em sua vida no início de 2008. Shi havia conseguido construir um império verde na China, o maior emissor de gás carbônico do planeta.

Sua empresa, a Suntech, criada em 2001 na província chinesa de Jiangsu, havia se transformado numa das maiores fabricantes de painéis solares do mundo, deixando para trás gigantes como a inglesa British Petroleum e a japonesa Sharp.

Com faturamento de 1,3 bilhão de dólares e capacidade de produzir mais de 1 milhão de painéis solares por ano, a Suntech era avaliada em 7 bilhões de dólares — quase três vezes mais desde que abrira o capital na bolsa de Nova York, três anos antes. Shi tornara-se então o nono empresário mais rico da China, com uma fortuna de 2,9 bilhões de dólares nas contas da revista americana Forbes

Desde então, a Suntech não parou mais de crescer. Hoje, a empresa é líder inconteste do setor em todo o mundo, fatura 3,2 bilhões de dólares e exporta para mais de 80 países. Paradoxalmente, porém, o valor de mercado da Suntech não para de cair.

Nos últimos quatro anos, a empresa perdeu, em média, 4,5 milhões de dólares por dia na bolsa. Por trás do desânimo dos investidores está o maior desafio de Shi no momento: manter sua empresa lucrativa num setor com preços em queda.

Formado em ciências óticas, Shi criou a Suntech num momento em que o governo chinês estava disposto a apoiar a indústria de painéis solares no país, então dominada por fabricantes europeus e japoneses. “Era uma oportunidade incrível. Olhando o preço dos painéis solares na época, eu sabia que podia fazer melhor e criar uma empresa competitiva e global”, disse Shi em entrevista a EXAME.

Como a tecnologia dos painéis era conhecida, não havia muitas barreiras de entrada nesse setor. “O importante era ter capital para investir em grandes fábricas, aumentar a escala e reduzir preços. E Shi fez isso muito bem”, afirma Adam Krop, vice-presidente do setor de análise do banco de investimento americano Ardour Capital, especializado em energia. O problema é que Shi não foi o único. 

Nos últimos três anos, dezenas de novas empresas, muitas delas na própria China, entraram no mercado de energia solar e a oferta de painéis quin­tuplicou no mundo. A consequência foi um cenário inédito de excesso de produção, que resultou em capacidade ociosa na indústria e forçou os fabricantes a uma acelerada e dura disputa de preços.


Para não perder espaço, a Suntech acompanhou o movimento. Apenas no ano passado, a empresa diminuiu em quase 40% o valor final de seus produtos. A estratégia garantiu o avanço das vendas, que cresceram 33% em 2011, mas teve um efeito devastador nas contas da empresa. Desde junho do ano passado, a companhia passou a dar prejuízo. 

Para garantir que sua Suntech permaneça no topo do ranking mundial, volte a ser lucrativa e chame novamente a atenção dos investidores, Shi está, mais uma vez, confiante num empurrãozinho do Partido Comunista chinês.

No ano passado, o governo aprovou um novo pacote de incentivos com o objetivo de, pelo menos, quintuplicar o consumo de energia solar no país nos próximos três anos — que, atualmente, representa menos de 1% da energia elétrica gerada. Trata-se de mais um exemplo da guinada em curso na China.

Diante da crise reinante em seus principais mercados externos, o país está tentando criar demanda interna para parte de seus produtos. A meta é trocar um modelo de crescimento baseado nas exportações por outro alicerçado no consumo local. A EXAME, Shi deixou claro que a possível expansão do mercado chinês será ótima para a Suntech, mas não vai drenar toda a energia da empresa.

“A queda nos preços está abrindo mercados em países como Índia, África do Sul e Brasil. A tecnologia solar era apenas para países ricos, agora será para todos”, filosofa Shi.

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