Estande da galeria Nara Roesler na Art Basel Miami (Divulgação/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2019 às 05h32.
Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h16.
Beatriz Milhazes conseguiu. Ernesto Neto e Vik Muniz também, assim como o Tunga, a Adriana Varejão e vários outros. A quantidade de artistas brasileiros que emplacaram uma carreira internacional, no entanto, equivale a um pingo de tinta numa tela de Jackson Pollock. E não é por falta de empenho que muito novato jamais vai trilhar o mesmo caminho que essa turma. É que, para expor lá fora, pelo menos onde realmente importa, é preciso investir pesado e, acima de tudo, ser aceito nesse clubinho restrito.
Criada em 2013, a feira Art Basel em Hong Kong, cuja 7a edição será de 29 a 31 de março, foi sinônimo de prejuízo até 2015 para a Nara Roesler, com matriz em São Paulo e filiais no Rio de Janeiro e em Nova York. Só então a galeria, presente no evento desde a edição inaugural, conseguiu arrematar vendas suficientes para justificar sua participação. “Somando passagens, hospedagens, transporte de obras e demais custos, é uma das feiras que mais demandam investimentos”, diz Alexandre Roesler, um dos diretores da galeria fundada por sua mãe.
Para o mercado chinês, a Nara Roesler sempre deu preferência a seus agenciados mais ilustres, caso do paulistano Vik Muniz, do potiguar Abraham Palatnik e do argentino Julio Le Parc. Em 2018, a galeria vendeu em Hong Kong obras de Muniz por cerca de 18.000 dólares e do artista francês Xavier Veilhan por 35.000 euros. “Feiras são investimentos a médio prazo, é preciso insistir”, afirma Roesler, que conta desembolsar até 500.000 reais com as mais dispendiosas. “É natural, na primeira vez ninguém conhece sua galeria ou seus artistas.”
Só que não basta ter dinheiro para garantir um lugar em uma feira como a Art Basel, que se divide entre a cidade chinesa, Miami e Basileia, na Suíça. Os processos seletivos exigem que a galeria interessada comprove que não surgiu ontem, é relevante em seu país e representa artistas de prestígio. Também é preciso informar de antemão quais deles planeja expor e pagar a taxa de inscrição, não reembolsável em caso de recusa, e o valor do estande — na ArtRio, o valor do metro quadrado chega a custar 1.320 reais. A participação em outras feiras costuma ajudar.
“Começamos na Art Basel de Miami numa área bem pequena e hoje temos o mesmo destaque que as grandes galerias americanas”, afirma Roesler, que virou habitué da edição da feira na Basileia e de outras, como as nova-iorquinas Frieze e The Armory Show e as brasileiras SP-Arte e ArtRio. De porte similar, a galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, que se divide entre São Paulo e o Rio de Janeiro, dá preferência às duas feiras brasileiras, às três edições da Art Basel, à Frieze e à Arco, organizada em Madri entre fevereiro e março.
Tradicionalmente, a Nara Roesler também participa de dois eventos de arte por ano, que estejam em ascensão, para testar novos mercados. Em 2018 foi a vez da West Bund Art & Design, sediada em Xangai, e da arteBA, em Buenos Aires. Na primeira, foram vendidas só as obras do recifense José Patrício, conhecido por suas instalações feitas com milhares de peças de dominó; na segunda, só as do argentino Eduardo Navarro.
As galerias que são esnobadas pelas feiras mais incensadas precisam se contentar com as de segundo escalão. Em Miami, por exemplo, são organizadas cerca de dez mostras paralelas no início de dezembro, bem quando ocorre a Art Basel local. Entre elas, para citar as mais conhecidas, estão a Scope Art Show, a Pulse Art Fair, a Art Miami, a Spectrum, a Untitled e a Context.
Voltada para artistas em ascensão, esta última foi a escolhida pelo fotógrafo Gabriel Wickbold para a estreia de sua galeria em feiras internacionais, o que lhe demandou um investimento de 50.000 dólares. Fundada há dois anos e batizada com seu nome, ela representa 15 artistas, como Fernanda Naman, especializada em fotos abstratas, Raphael Macek, que se notabilizou por clicar animais, e o próprio Wickbold. “Visitei em 2017 todas as feiras da cidade e escolhi a que hoje mais combina com nosso estágio”, diz ele. “Um dia chegaremos à Art Basel.”
Como artista, o carioca de 34 anos radicado em São Paulo, herdeiro da conhecida fabricante de pães e outros alimentos, Wickbold faz retratos com uma Canon EOS 5ds R das pinturas coloridas que realiza sobre o corpo de pessoas. A série apelidada de Sexual Colors, exposta em Miami em 2016, na galeria Arte Fundamental, é composta de fotografias que mostram a tinta em movimento sendo despejada sobre o rosto de pessoas. As obras de Wickbold são impressas por ele mesmo em séries com até cinco cópias e custam de 35.000 a 85.000 reais.
Em 2018, sua galeria debutou na SP-Arte e na SP-Arte/Foto. Na primeira, amealhou 500.000 reais em vendas; na segunda, 1 milhão de reais. “Triplicamos nosso faturamento em relação a 2017”, comemora o fotógrafo-galerista, que neste ano planeja levar seus artistas para expor em Lisboa, Berlim e Paris. “Aprendi a vender a ousadia do meu trabalho e daqueles que represento.”
Representante de artistas renomados como Tunga e Nelson Felix, a tradicional galeria Millan, com sede em São Paulo, na Vila Madalena, participou em 2018 apenas de uma feira internacional, a ARCOlisboa, cuja próxima edição ocorre em maio. “O investimento é muito alto e não tem dado o retorno esperado, por isso a Millan tem preferido investir em feiras nacionais. Já participou de muitas internacionais”, diz Fabio Rigobelo, gerente de comunicação da galeria. Além da SP-Arte e da ArtRio, esteve presente na Parte, sediada no Clube A Hebraica, em São Paulo. Para 2019, ainda não há planos de se aventurar fora do país.